O dilema digital do futuro dos jornais
Ampliar circulação impressa e eletrônica e cobrar pelo conteúdo online são os desafios do setor, aponta VIII Seminário Nacional de Circulação da ANJ
O fim da era do papel não chegou. Pelo contrário. Nos últimos 10 anos, a circulação diária dos jornais brasileiros passou de 3,5 milhões, em 2001, para cerca de 4,5 milhões, no primeiro semestre deste ano. Apesar do bom desempenho na circulação, a indústria sabe que tem uma série de desafios pela frente para manter-se com fôlego e crescendo.
A ampliação da base de assinantes tanto no papel quanto no meio eletrônico e a monetização do conteúdo digital, em grande parte ainda oferecido de forma gratuita pelas editoras dos jornais, foram alguns dos pontos críticos para a sobrevivência do setor levantados no painel de abertura do VIII Seminário Nacional de Circulação da ANJ, que acontece entre 29 e 30 de agosto no Centro de Conferências do Amcham Business Center, em São Paulo.
Na opinião de Silvio Genesini, diretor-presidente do Grupo Estado, o mercado leitor vai ficar mais importante para os jornais. “Do ponto de vista de circulação, temos uma perspectiva, embora não grande, de crescimento, já que a penetração no Brasil é mais baixa em relação a outros países do mundo. O consumo de mídia se fragmentou e a publicidade também. A conclusão principal é que não dará para viver de publicidade porque ela não cresce em ritmo excepcionalmente grande”, projeta.
Ele sustenta o argumento baseado em números que apontam que em 2005 a circulação representava 38% do faturamento dos jornais norte-americanos, enquanto a publicidade correspondia aos demais 62%. Neste ano, a venda de exemplares já é responsável por 49% das receitas, e a previsão é que até 2014 esse percentual ultrapasse a marca dos 50%.
Na opinião de Marcello Moraes, diretor geral da Infoglobo, estamos vivendo a era do “e” e não do “ou”, se referindo à migração do papel para o digital. “A migração acontece aos poucos. Na era do ‘e’ existem as tendências de crescimento no digital. Por outro lado, os jornais cresceram no papel. É preciso mudar a forma de planejar. O modelo de apostas únicas no futuro deve mudar. Devemos trabalhar com cenários distintos”, pontua.
“Embora no discurso sejamos contra. Na prática, oferecemos conteúdo gratuito. Uma vez que temos valor, que produzimos conteúdo relevante, não podemos entregar de graça. Mesmo sites mais bonitos e conteúdo de qualidade não foram suficientes para atrair publicidade que tornasse a operação autossuficiente. Temos que reforçar a ideia de que no mundo digital o conteúdo é pago”, diz Walter de Mattos Junior, diretor-presidente e editor do Grupo Lance.
O painel, que teve como tema “Os Próximos 5 Anos da Indústria de Jornal no Brasil”, contou ainda com a participação de Antonio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente do Grupo Folha, e Eduardo Sirotsky Melzer, vice-presidente executivo do Grupo RBS, como debatedores, e Afonso Cunha, diretor executivo de negócios do Grupo Lance, como moderador. O evento, realizado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), tem o apoio institucional da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e patrocínio da Gol Mobile.
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