O presidente da Abeiva (associação importadoras de veículos), José Luiz Gandini, prevê que a partir das próximas semanas alguns modelos trazidos da Argentina e de outras localidades já comecem a faltar em concessionárias do país.
Desde terça-feira, os importadores devem pedir licenças de importação não automáticas, após o governo impor barreiras para dificultar a vinda de carros fabricados no país vizinho. As licenças somente serão expedidas após técnicos do governo analisarem as solicitações e, com isso, podem demorar por até 60 dias.
"O governo decidiu impor barreiras às importações sem nos avisar, sem discutir. Ao impedir a emissão de licenças automáticas, todas as importações, e não só as da Argentina, são prejudicadas", diz o executivo.
"É correta a decisão do governo de reagir a medidas protecionistas que contrariam acordos bilaterais. Mas não se pode afetar empresas, que, em seu conjunto, recolherão mais de R$ 5 bilhões em impostos. São 27 mil trabalhadores brasileiros empregados em 771 concessionárias associadas à Abeiva."
Gandini diz que as importadoras asiáticas podem começar a ter problemas de abastecimento em um prazo de 30 dias.
"Demora em média um mês para os carros chegarem ao país. E não podemos deixar navios parados em portos espalhados pelo mundo, pagando pelo custo diário desse transporte, sem saber em quanto tempo o governo brasileiro começará a liberar as guias de importação."
Ele também diz que os portos não têm capacidade para ficar "estocando produtos". "Ou você embarca os produtos e despacha ou vai começar a causar problemas nos portos."
INCERTEZAS
Para associação, que representa 30 marcas internacionais estabelecidas no país, o mais importante agora é saber se o governo vai começar a autorizar já a liberação das guias de importação.
"Somente hoje [ontem] recebemos um telefonema da Secex [Secretaria de Comércio Exterior] confirmando que, sem a licença, não podemos embarcar carro de qualquer lugar do mundo para o Brasil. E que novos embarques feitos a partir do dia 10 precisam das novas guias e de diferimento [dos técnicos]. O problema é saber se a autorização sairá na semana que vem", afirma.
Para Gandini, houve uma falha grosseira de informação. "Não podíamos ter sido pegos de surpresa. Se as guias que temos não valem mais desde terça-feira, como ficam as empresas?"
"No caso da Kia, estou mandando e-mail para a matriz para segurar os embarques até que se tenha essa questão da guia definida", diz Gandini, que além de presidir a Abeiva, preside a Kia Motors no Brasil.
CONTRAPONTO
Para o diretor-superintendente da Jato Dynamics do Brasil, Luiz Carlos Augusto, as medidas adotadas não vão prejudicar o consumidor nem afetar o mercado intermo.
"Se considerarmos por marca, por modelo e por versões existem hoje no país, há 900 diferentes veículos, à disposição do consumidor. São muitas alternativas, se ele não encontra um modelo parte para outro", diz o consultor.
"A atitude do governo foi focada na Argentina, não há um bloqueio generalizado que trará impactos ao mercado interno", opina.
ANFAVEA
A Anfavea, que reúne as montadoras que têm fábrica no país, não sabia informar ontem a quantidade de embarques parados da Argentina para o Brasil e que montadoras estavam com modelos parados na fronteira.
O jornal argentino "Clarín", porém, informou que 2.000 automóveis aguardavam liberação na fronteira para entrar no Brasil desde terça-feira.
A associação prefere aguardar os próximos dias para se pronunciar sobre a questão e informa que é esperado que, em função da mudança no sistema de liberação de licenças de importação, exista algum refexo na quantidade de veículos trazidos principalmente da Argentina.
As montadoras terão de se reprogramar para adequar as importações, o que deve levar tempo, informa a associação, por meio de sua assessoria de impresa.
PARCEIRO COMERCIAL
A Argentina é o principal parceiro comercial do Brasil no setor automobilístico. Do total de 193.024 veículos importados pelo Brasil no primeiro trimestre deste ano, 42,2% vieram da Argentina, ou 83.791.
GM, Toyota e Mercedes-Benz não quiseram comentar a informação de que havia 2.000 veículos parados na fronteira com o Brasil, esperando autorização para entrar no país, conforme noticiou o jornal "Clarín".
O grupo Hyundai Canoa informou que ainda é "cedo" para avaliar a medida para dificultar as importações e que não será afetado. Segundo o grupo, das 9.290 unidades da marca vendidas no país em abril, 5.000 foram fabricadas em Anápolis (GO).
"A tendência é que o grupo diminua as importações e aumente a produção local cada vez mais", informou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário