Restrições da Anvisa e concorrência acirrada dos genéricos fazem com que indústria farmacêutica lance mão da criatividade para desenvolver ações inusitadas e se diferenciar
As restrições impostas pela Anvisa para a divulgação de medicamentos e
a concorrência acirrada dos genéricos vêm fazendo com que as indústrias
farmacêuticas lancem mão de ações diferenciadas para divulgar seus
produtos e atrair o consumidor. Muito mais que trabalhar os pontos de
venda e os profissionais, os laboratórios desenvolvem ações que têm como
foco a diversão e a promoção da saúde.
Foco na promoção da saúde
O laboratório também desenvolve ações nas mídias sociais, especialmente
o Facebook, para divulgar outras de suas marcas como Neosaldina e
Eparema. O foco é sempre na interação lúdica com o público e na promoção
da saúde, levando informações relacionadas à prevenção. A página de
Eparema, por exemplo, disponibiliza dicas sobre digestão. O que a empresa busca é atuar em saúde de forma ampla, não visando apenas o medicamento em si.
Esse posicionamento do laboratório Takeda reflete a tendência atual do
consumidor de estar mais voltado para a prevenção e para a qualidade de
vida, e menos para a doença. Essa mudança de visão começou a ser
percebida pelo mercado há cerca de cinco anos. “Esse novo foco foi a
grande modificação no Marketing farmacêutico. Como as pessoas estão
muito preocupadas com a qualidade de vida, as indústrias perceberam isso
e a intenção é mostrar que o foco é a saúde e não mais a promoção da
doença”, comenta Cristiano Calamonici, Sócio da Tino Comunicação,
agência especializada em Marketing farmacêutico, em entrevista ao
Portal.
A Sanofi também criou uma ação inusitada para divulgar o analgésico
Dorflex. A ferramenta “Dor de Balada” apaga automaticamente as últimas
postagens no Facebook e Twitter e promete evitar as “dores de cabeça”
daqueles que exageraram na noite anterior e se arrependeram do que
escreveram nas redes sociais. Após instalado, o aplicativo fica oculto
no perfil do internauta e não é visto pelos seus amigos.
Consolidação de marca
O Laboratório Aché desenvolveu o aplicativo AlarmPill, que pode ser
instalado no iPhone e atua como um despertador, avisando ao consumidor
sobre os horários dos medicamentos. Com a ação, a empresa busca
solidificar sua marca promovendo benefícios que impactem médicos e
pacientes, contribuindo para a qualidade de vida. Apenas nos primeiros
quatro dias de lançamento, o Aché já havia registrado 400 downloads do
AlarmPill.
Além das regras da Anvisa, que restringem as ações de Marketing
relacionadas aos medicamentos, a concorrência dos genéricos é outro
fator que vem fazendo com que as indústrias lancem mão das estratégias
diferenciadas. A principal frente de atuação dos fabricantes destes
medicamentos está relacionada com os pontos de venda e muitas empresas
chegam a, indiretamente, trabalhar com sistemas de incentivo sobre
volume de vendas.
A concorrência fez com que os laboratórios passassem a ver o consumidor
de forma integral. “Hoje a indústria precisa ter uma visão geral da
doença, desde a prevenção, convivência e estrutura familiar. Dessa
forma, elas cercam melhor o consumidor final. Não creio que haja uma
ruptura entre o Marketing que era feito no passado e o atual, mas sim,
uma diferença na forma de ver o consumidor”, pondera Ricardo Moura,
Diretor da Unidade de Healthcare da GfK, em entrevista ao Mundo do
Marketing.
Trabalho com o médico
Apesar da importância do ponto de venda e a necessidade da atuação
multicanal para atingir o consumidor, um dos principais approachs da
indústria farmacêutica quando o assunto é Marketing de medicamentos
ainda é o médico, principalmente no que diz respeito aos remédios
chamados RX, ou seja, que necessitam de prescrição para serem
comercializados. “O foco principal das indústrias ainda é o médico, isso
porque a receita por si só não é mais geradora de demanda. Os médicos
atuam prescrevendo com as bases científicas que são apresentadas pelos
laboratórios e diante dos estudos de resultados dos medicamentos”,
completa Ricardo Moura.
O próprio mercado acirrado obrigou os laboratórios a criarem
estratégias e soluções criativas para buscarem diferenciação perante os
concorrentes e para driblarem as regras da Anvisa. O que se vê hoje são
especialistas de Marketing de grandes empresas de varejo e bens de
consumo migrando para as indústrias farmacêuticas justamente com o
objetivo de traçarem caminhos diferenciados. “Esse movimento
profissional deu uma guinada no mercado. O que vejo é um cenário muito
positivo, com um mercado ainda em franco crescimento e com a competição
sendo alavancada pelos genéricos”, diz o Diretor da Unidade de
Healthcare da GfK ao Mundo do Marketing.
Nenhum comentário:
Postar um comentário