Compra da agência brasileira deixaria o grupo japonês mais perto do “clube do bilhão”, formado por WPP, Publicis, Interpublic, Omnicom e Havas
Prevista para ser concluída ainda em 2012, a compra da brasileira
Fischer&Friends pelo grupo japonês Dentsu aproximaria muito a
holding nipônica do “clube do bilhão” no mercado nacional. Considerando o
ranking Agências & Anunciante, de Meio & Mensagem,
a maior holding atuante no País em compra de mídia em 2011 foi a WPP
(R$ 4,5 bilhões), seguida por Publicis (R$ 3 bilhões), Interpublic (R$
1,9 bilhão), Omnicom (R$ 1,8 bilhão) e Havas (R$ 1,1 bilhão). Neste ano,
após a compra da digital brasileira Lov (leia mais aqui) e do grupo inglês Aegis (leia mais aqui),
que controla AgênciaClick e Age, os números da Dentsu no mercado local
já saltaram para R$ 410 milhões, e atingiriam R$ 745 milhões se
concretizada a aquisição da Fischer&Friends.
A negociação foi revelada por Meio & Mensagem em reportagem que mereceu a manchete da edição do dia 13 de fevereiro (veja aqui),
e vem sendo conduzida por Renato Loes, presidente da Dentsu no Brasil,
e Tim Andree, CEO da Dentsu Network, estrutura criada para comandar
todas as agências da companhia fora do Japão, com exceção das empresas
de conteúdo e marketing esportivo.
Tratativas arrastadas são
comuns em casos como este, especialmente devido aos acertos financeiros e
jurídicos. As mais recentes reuniões entre Dentsu e Fischer tentam
acomodar questões relevantes, como o percentual de ações da agência
brasileira que deve ficar nas mãos dos sócios nacionais — já está
definido que os japoneses terão mais de 50% de participação. Do lado da
Fischer, há a sensação de que a empresa se valorizou nos últimos meses,
após conquistas como a da conta da Ricardo Eletro.
Atualmente, o
maior acionista da Fischer&Friends, com mais de 95% da empresa, é o
Grupo Totalcom, quase 100% controlado por Eduardo Fischer. No passado,
ele teve sócios investidores com participação relevante na holding, como
o ex-dono do Banco Multiplic Antônio José Carneiro (entre 2001 e 2008) e
Antonio Camanho (de 1998 a 2006). Os dois chegaram a acumular 45% do
Totalcom. Além da holding, há ações da Fischer&Friends com dez
executivos, entre os quais Antonio Fadiga, Allan Barros, Mario D’Andrea e
Nelson Turini.
A tendência na negociação com a Dentsu é que os
líderes da agência brasileira sejam mantidos em suas posições, com
pequenas participações acionárias e contratos de permanência mínima na
operação, que manterá sua independência em relação ao escritório local
da Dentsu.
O negócio é estratégico para a holding japonesa,
especialmente por dois motivos: ganhar corpo em um mercado em
crescimento como o brasileiro e atuar no País¬ com duas marcas fortes.
Isto porque a multinacional encontra muitas dificuldades para replicar
no Brasil o atendimento de contas conflitantes, que é visto como normal
no Japão. Para ter uma ideia, a matriz da Dentsu atende atualmente as
verbas japonesas das montadoras Toyota e Honda e das marcas de
eletroeletrônicos Sony e Panasonic, entre outros exemplos. Com duas
agências, ficaria mais fácil trabalhar por alinhamentos internacionais.
Renato Loes precisou costurar acordos operacionais com outras agências
para contornar o atendimento a contas conflitantes no Brasil. A Santa
Clara chegou a cuidar da Panasonic Internacional, contrato encerrado no
primeiro semestre, e a Mood atende Canon. Ambas conflitam com a Sony,
que era um dos principais clientes da Dentsu no Brasil até abril quando
migrou para a David. Apesar de ter perdido a publicidade da marca, a
Dentsu continua trabalhando para a Sony nos projetos de ativação do
patrocínio da marca à Fifa.
A compra da Fischer&Friends
seria o maior negócio já fechado pela Dentsu no Brasil. Em janeiro, a
holding japonesa adquiriu 100% da agência interativa Lov e a manteve
como operação independente.
Movimentos em curso
A
negociação de compra da Fischer&Friends pela Dentsu é a maior em
andamento no mercado brasileiro atualmente, mas outros grupos também se
movimentam
Nova/SB – A agência de Bob
Vieira da Costa e Silvana Tinelli iniciou negociações com a WPP neste
ano, com intermediação de Sérgio Amado, presidente do Grupo Ogilvy. Em
Abril, Vieira da Costa se reuniu pessoalmente em São Paulo com Martin
Sorrell, CEO do Grupo WPP.
Taterka – O Publicis
Groupe negocia compra do controle acionário da agência, na qual tem 5%
desde o início de 2010. De acordo com notificação enviada ao Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o objetivo da multinacional é
ficar com mais 60% das ações mantidas pelo fundador Dorian Taterka,
que, com isso, deixaria de ser majoritário, mas se manteria como sócio,
ao lado dos diretores Eduardo Simon e José Passos.
PPR –
Um dos poucos grupos 100% controlados pelo capital nacional com
presença entre os líderes da publicidade, graças a suas agências NBS e
Quê, contratou consultorias (entre as quais Ernst & Young, KC&D e
INDG) para realizar um trabalho que, entre outros objetivos, pretende
deixar a casa em ordem para futuras negociações de fusões e aquisições.
ABC
– Maior holding do setor publicitário controlada pelo capital nacional,
o Grupo ABC mantém-se constantemente atento a possibilidades de
crescimento via compra de agências. Entretanto, a última aquisição foi a
da Morya, no final do ano passado. Atualmente, entre as possibilidades
estudadas por Nizan Guanaes e seus sócios estão as incorporações da
consultoria A Ponte, de André Torretta, e da agência EC, de Valdir
Bianchi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário