Este ano tem sido bastante desafiador para o jornalismo e para os jornais. Na quinta-feira passada, o esportivo Marca Brasil, lançado pela Ejesa em 2010, despediu-se do mercado.
No mesmo dia, um boato rondou outro título do grupo, o Brasil
Econômico. Dizia-se que ele também fecharia as portas. Mas a empresa
afirmou que um comunicado enviado a jornaleiros dando conta da mudança na distribuição do jornal
e do fim do Marca Brasil gerou um mal-entendido. A Ejesa não tem mais a
parceria com o Diário de S. Paulo que permitia a distribuição conjunta
dos dois veículos. Agora o Brasil Econômico passa a ser entregue de
forma separada e apenas nas principais bancas da capital paulista.
A notícia da extinção do Brasil Econômico chegou a ser publicada em
alguns sites (a informação foi corrigida depois). Causou alvoroço entre
jornalistas. Pudera. Na semana anterior, uma verdadeira comoção tomou
conta do mercado e de outros segmentos da indústria da comunicação
devido ao fim do Jornal da Tarde.
O presente cenário da mídia impressa e as projeções do futuro, sempre
às voltas com a queda da receita advinda da publicidade e a diminuição
da circulação, tornam apreensivos os dias de quem trabalha no setor. Há
como uma expectativa no ar de que tudo um dia poderá se esfarelar,
fazendo que não apenas os jornais virem obsoletos, como o próprio
jornalismo. Mas entendo que são exageros de quem tende ao pessimismo. O
jornalismo é uma atividade importante e ainda não há alguém que diga com
convicção que esse tipo de conteúdo será um dia dispensável.
Por outro lado, o acúmulo de fatos neste ano alimenta mesmo temores. O
informativo Jornalistas & Cia apontou, na semana passada, movimentos
que acendem o sinal vermelho da indústria, não somente por aqui, mas
fora do País. Na segunda-feira 5, deixou de circular no papel o centenário Diário do Povo, de Campinas (SP).
Em 2 de outubro, a direção dos Diários Associados anunciou o fim da
versão impressa do Diário de Natal. Antes, em fevereiro, a empresa
encerrara dois títulos da Paraíba: Diário de Borborema e O Norte.
Na mídia impressa europeia, ainda segundo o Jornalistas & Cia, mais
crises: o britânico The Guardian, “pela primeira vez em 190 anos”,
estuda cortes consideráveis em sua equipe (o chamado passaralho) porque,
por meio do programa de demissão voluntária, apenas 34 pessoas se
desligaram da empresa. E o El País, que demitiu 149 funcionários em outubro, enfrentou na semana passada uma greve que atingiu 95% da redação.
Nos EUA, o New York Times viveu em outubro uma paralisação (por
minutos) promovida por mais de 400 funcionários do jornal que
protestaram contra uma proposta de revisão de salários e benefícios. E
isso sem falar do anunciado fim da versão de papel da Newsweek, que circulará pela última vez em 31 de dezembro deste ano.
Mas, neste rápido balanço, há espaço para as boas novas no Brasil. O
Grupo Bandeirantes lançou as edições do Metro em Brasília e Salvador. O
Destak criou edição para o Recife. E o País se destaca pelos
investimentos de empresas como Financial Times, Forbes (que retornou ao mercado brasileiro) e Condé Nast, entre outras.
Vale ressaltar os planos do New York Times para o Brasil, uma notícia antecipada por Meio & Mensagem em setembro, quando informamos que o jornal pretende montar uma operação em português a partir de 2013.
Em outubro, o site Nieman Journalism Lab, que discute o futuro do
jornalismo, publicou um artigo sobre os projetos do NYT em São Paulo.
Entre os motivos apresentados para explicar o passo a ser dado estão a
expansão da economia e a presença crescente de companhias internacionais
(o que atrairia a atenção de anunciantes globais). Uma das coisas mais
importantes para o jornal americano, revela o artigo, é encontrar
talentos locais que possam escrever para o diário dentro do estilo que
se tornou referência no mundo. O editor Joseph Kahn afirmou ao Nieman
Lab ainda que o conteúdo estará ajustado ao que os leitores do NYT
demonstrarem desejar mais.
Já falamos outras vezes que não
existe uma fórmula única que atenda a todas as demandas dos jornais. O
fundamental é permanecer buscando caminhos que demonstrem como o
conteúdo é relevante para o leitor. Que mostrem por que o jornalismo
praticado por aquele veículo o torna único, essencial, diferente. O NYT
está tentando isso. Que os exemplos se multipliquem.
*Interina
Esse é o editorial publicado na edição 1535 de Meio & Mensagem, com data de 12 de novembro de 2012.
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