Com algum atraso, a Volkswagen mostrou a reestilização de Gol e Voyage há cerca de um mês. Conforme relatamos (releia aqui),
ambos assumiram a cara quadradinha já usada por todos os outros modelos
da marca (saiba mais sobre o visual no quadro ao longo desta
reportagem), entre outras pequenas alterações. Também trouxemos nossas
impressões sobre o Gol 1.6, topo da gama (veja clicando clique aqui).
Mas faltava o teste das ruas com a configuração que faz do compacto o
carro que é: gostando ou não, o Gol é o mais vendido do país, mês após
mês (com raras exceções). Por isso, UOL Carros passou uma semana a bordo do Gol 1.0 renovado, que tem preço inicial sugerido de R$ 27.990
-- este valor, que é razoável para o mercado, deve ser mantido por pelo
menos mais uma semana, prazo final para o benefício do IPI reduzido.
Mas não abra seu sorriso ainda: tudo estava indo bem (visual
interessante, mais itens de série, boa tocada, excelente consumo), até
verificarmos o preço da versão avaliada, a inovadora Bluemotion: o valor
pode chegar a R$ 37.405, monta desagradável para um
modelo que deveria ser popular e que justifica nosso título. Leia a
avaliação e tome suas conclusões. CARA DE MAU
Carro da Volks tem tudo a mesma cara, certo? Quase. Apesar da "family face" padronizar os traços com faróis e grades retilíneos, detalhes definem a personalidade (a imagem que a marca quer que ele tenha junto ao público) de cada um.O Fox (acima na versão Bluemontion) é sorridente graças à grade do para-choque.
- O Jetta briga no ferrenho segmento dos sedãs médios e carrega a tradição de carro invocado: vincos bem marcados e cara de poucos amigos.
- O que fazer com o carro-chefe da marca? Que tal emprestar ao Gol o jeito marrento do Jetta? Feito!
Olhar para o novo Gol é tarefa interessante. Se começar pela lateral,
nem vai notar que algo mudou, exceto por calotas (no caso do nosso
teste) ou rodas de liga (em versões mais caras). A traseira ficou
melhor, mais moderninha com os cortes secos, retilíneos da tampa do
porta-malas e das lanternas (que, dizem, segue a padronagem do Polo
europeu). Mas o grosso da alteração está mesmo na dianteira. O
motorista do carro da frente pode até pensar estar vendo o Jetta
chegando pelo retrovisor e abrir passagem: o facelift da Volks
geralmente faz bem aos modelos pequenos e a cara malvada parece ser
suficiente para encarar os engraçadinhos (e bons) Uno e March e o
insosso Palio. Mas será suficiente para dar conta do novo Chevrolet Ônix
(ainda que, sob camuflagem, ele lembre demais o Gol velho?) ou do novíssimo Hyundai HB, cujo visual matador foi mostrado sem disfarces por UOL Carros?
Por dentro, parece que nada foi tocado, mas com um pouco de atenção é
possível perceber que o revestimento de bancos e do miolo da porta está
mais agradável aos olhos e menos áspero ao toque. O painel de
instrumentos também foi mexido: ficou mais fácil de ser enxergado,
sobretudo à noite e ganhou de vez o conta-giros. Comandos elétricos para
abertura interna do porta-malas e para vidros dianteiros também são de
série (finalmente!), ainda que a marca da maçaneta giratória ainda
esteja gravada na porta. O acabamento segue sendo referência entre
modelos de entrada, embora a rigidez das peças -- e de volante e pedais
-- desagrade a alguns. O nosso senão fica para a coluna de direção, fixa
como um prego na parede: a falta de ajuste de distância e/ou altura é
algo imperdoável atualmente. O mesmo pode ser dito da ausência de
ar-condicionado e de porta-objetos decentes, itens já habituais em
outros carros na faixa dos R$ 20 mil.
Bola fora também na segurança: airbags frontais e freios com ABS
(antiblocantes), itens que muito em breve serão obrigatórios para todos
os carros zero-quilômetro, e que já fazem parte do repertório básico de
rivais, ainda são opcionais no Gol e vendidos de forma agregada por R$
1.550.
TENHA MODOS
Você sabe dirigir bem? Mesmo? A grande novidade da nova linha do Gol
está no kit Bluemotion -- falamos em versão no começo do texto, mas de
fato está mais para um grande pacote opcional. Ele inclui pneus com
menor atrito com o asfalto e alterações no conhecido motor 1.0 da Volks
de 72/76 cavalos de potência e torque de 9,7/10,6 kgfm com gasolina e
etanol, respectivamente -- estas minimizam o atrito de peças internas,
favorecem o funcionamento em baixas rotações e, no fim das contas,
reduzem consumo e emissões. E também dota o carro do kit I-Trend (de
aparência, com rodas de 15 polegadas e "supercalotas", caixas de som e
rádio mais avançado, volante com comandos e computador de bordo
I-System, entre outras coisas que o comprador poderia até não querer) e
da direção hidráulica. As combinações automáticas típicas da Volkswagen
encarecem tudo: o preço do kit é de R$ 2.991.
Além da redução à resistência do carro à rodagem, o grande ponto do
pacote Bluemotion está em sua interação insistente com o condutor. Por
meio do computador de bordo (daí a inclusão compulsória do I-System), o
sistema alerta o motorista sobre hábitos (e manias) que são vilões do
consumo de combustível. É como uma mãe que ensina o filho a lavar as
mãos antes da refeição e que, já na mesa, volta a retrucar a criança
para que ela não coma de boca aberta -- ela está criando um adulto
melhor. No caso do Gol, o alerta pode ser para quem liga o carro e sai
acelerando fundo; para quem passa as marchas de modo errado ou no tempo
inadequado; para quem tem ar (e gastou mais R$ 2.350 para isso), mas
insiste em trafegar com a janela aberta... No fim das contas, assimilar
todas as dicas permitirá ao motorista rodar por mais tempo sem abastecer
e dirigir melhor, de um modo geral.
E funciona, mesmo. Ao recebermos o Gol da fabricante, a primeira coisa
feita foi observar o computador de bordo, que indicava autonomia de 620
quilômetros. Claro, com gasolina no tanque de 55 litros. Ao fim do
teste, geralmente com duas pessoas e alguma carga a bordo, e cuidando
para tomar o mínimo de "broncas" do computador, havíamos explorado
melhor a boa dirigibilidade do Gol e evitado as perdas de fôlego do
motor 1.0: o resultado surgiu com 620 quilômetros rodados e sobra para
outros 110 quilômetros -- as indicações de média oscilaram entre 13 km/l
na cidade (2/3 do teste) e até 18,5 km/l na estrada (o terço restante).
Pode perguntar a quem roda demais com o agora antigo Gol G5: com
gasolina, a autonomia ficava na casa dos 500 quilômetros.
Ainda assim, fica difícil justificar que para economizar algumas
dezenas de reais na bomba de combustível, rodar com mais segurança e
algum conforto você deva ampliar o investimento em mais de R$ 10 mil no
momento da compra e pagar o preço de um compacto premium em um modelo
1.0.
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