Estudo da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias revela que nunca se consumiu tanto a mídia no mundo
Embora nunca tenha se lido tanto jornal no mundo
e sua audiência na internet esteja em alta, apenas 2,2% das receitas
globais de publicidade dos jornais vêm da internet e o share
publicitário do impresso permanece em queda. Falta engajamento com o
leitor, o novo desafio do meio para os próximos anos. Um estudo da
Wan-Ifra (World Association of Newspapers and News Publishers, ou
Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias) revelou que nunca
se leu tanto jornal no mundo, hábito impulsionado pelas plataformas
digitais.
Mais da metade da população adulta mundial lê
jornais: mais de 2,5 bilhões de pessoas leem os impressos e mais de 600
milhões os leem em plataformas digitais — computadores, iPads,
smartphones. São mais leitores do que o total de usuários de internet no
mundo (2,2 bilhões). Dentre os que leem jornais na internet, cerca de
500 milhões também leem jornais impressos.
O setor de jornais movimentou mundialmente —
considerando receitas de circulação e publicidade — US$ 200 bilhões no
ano passado, sendo que cerca de metade vem de circulação. A circulação
global dos jornais cresceu 1,1% entre 2010 e 2011, e continua a crescer
na Ásia e no Oriente Médio, embora se mantenha em sensível queda na
Europa, na América do Norte e na América Latina, de acordo com o estudo.
IVC
Um levantamento recente do IVC (Instituto
Verificador de Circulação) no Brasil revelou que, por aqui, o meio
jornal teve crescimento médio de 2,3% de circulação durante o primeiro
semestre de 2012. Se comparada a cinco anos atrás, a circulação do
segmento cresceu 4,2% em 2011. O levantamento da Wan-Ifra também
constatou o decrescente investimento publicitário no meio jornal
(impresso) em todo o mundo e que essa perda não foi compensada por
eventuais novos investimentos nas versões digitais dos jornais.
A receita publicitária dos impressos somou US$
76 bilhões em 2011 — cerca de 20% do mercado publicitário total. Há
cinco anos, eram US$ 128 bilhões. Os Estados Unidos foram responsáveis
por 72% da queda. Apenas 2,2% das receitas totais com publicidade vieram
dos meios digitais. Os dados foram apresentados por Larry Kilman,
presidente da Wan-Ifra, durante o Congresso Mundial de Jornais, em Kiev,
que reuniu as principais lideranças do meio na semana passada.
O estudo compilou dados de circulação de jornais
de mais de 150 países e de investimento publicitário em cerca de 90, e é
considerado representativo da performance de 90% da indústria global.
“É inquestionável: os jornais fazem parte da essência da nossa
sociedade. Nossa indústria é mais forte do que se imagina. Ao mesmo
tempo, os jornais precisam se transformar para se manterem como os
observadores dos fatos e principalmente os principais provedores de
informação confiável. Nosso problema não é audiência. Nosso desafio é
encontrar modelos de negócios que funcionem na era digital”, comentou.
Cobrança
A receita no meio digital não vem apresentando
crescimento porque, segundo explica Kilman, não há “intensidade” na
conexão das pessoas com a leitura de jornais online. A falta de
intensidade na leitura de notícias na internet também contribui
negativamente para o interesse do consumidor em pagar por conteúdo na
web. O estudo levantou que as pessoas passam pouco tempo em sites de
jornais e visitam menos páginas do que se estivessem lendo a edição
impressa.
O ocasional alto volume de visitantes de sites
de jornais não se converte em tráfego regular e o foco da maioria dos
jornais tem sido criar mecanismos para ampliar o uso online. Um dos
problemas apontados pelo estudo é que no ambiente digital os portais
ainda são pobres — embora vários já apresentem versões mais
interessantes em mobile e em tablets. “Esse é o grande desafio dos
editores de jornais daqui para a frente: encontrar maneiras de engajar
mais os leitores no ambiente digital. Ampliar frequência e intensidade
de visitas. Ampliar experiência digital, o que certamente aumentará o
retorno financeiro”, acredita Kilman.
Para 76% dos jornais, o retorno financeiro
através da publicidade que as plataformas digitais representam no máximo
a 10%. Para 24% deles, vai a 50%. Já quando se fala em vendas e
assinaturas online, o retorno das plataformas digitais representa, para
76% dos jornais participantes do estudo, até no máximo 10% da receita,
sendo que para 5% chega a 50% e para outros 5% ultrapassa 5%. “Os
consumidores de jornalismo digital dedicam menos tempo à leitura e
visitam menos páginas nas plataformas digitais que nas edições em papel.
Diante disso, a conclusão é a de que as empresas jornalísticas têm
muita margem para aumentar as receitas digitais por meio de novas formas
de potencializar a experiência do usuário”, diz Ricardo Pedreira,
diretor executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais).
Game
O iPad é considerado um “game changer” no jogo
da leitura de jornais no mundo digital. A Wan-Ifra incluiu em seu estudo
dados do Pew Research Centre e da The Economist que revelam que 11% dos
adultos norte-americanos possuem tablets e que 53% dos usuários
consomem notícias através deles diariamente. Um em cada três usuários de
tablets afirmam que passam mais tempo consumindo notícias em relação ao
que dedicavam antes de possuírem os devices. Ao mesmo tempo, 14% dos
usuários pagam por conteúdo e 59% afirmam que o tablet substitui a
experiência da leitura do jornal e das revistas impressos.
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