segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Plataforma digital impulsiona leitura de jornais

Estudo da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias revela que nunca se consumiu tanto a mídia no mundo


Embora nunca tenha se lido tanto jornal no mundo e sua audiência na internet esteja em alta, apenas 2,2% das receitas globais de publicidade dos jornais vêm da internet e o share publicitário do impresso permanece em queda. Falta engajamento com o leitor, o novo desafio do meio para os próximos anos. Um estudo da Wan-Ifra (World Association of Newspapers and News Publishers, ou Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias) revelou que nunca se leu tanto jornal no mundo, hábito impulsionado pelas plataformas digitais.
Mais da metade da população adulta mundial lê jornais: mais de 2,5 bilhões de pessoas leem os impressos e mais de 600 milhões os leem em plataformas digitais — computadores, iPads, smartphones. São mais leitores do que o total de usuários de internet no mundo (2,2 bilhões). Dentre os que leem jornais na internet, cerca de 500 milhões também leem jornais impressos.
O setor de jornais movimentou mundialmente — considerando receitas de circulação e publicidade — US$ 200 bilhões no ano passado, sendo que cerca de metade vem de circulação. A circulação global dos jornais cresceu 1,1% entre 2010 e 2011, e continua a crescer na Ásia e no Oriente Médio, embora se mantenha em sensível queda na Europa, na América do Norte e na América Latina, de acordo com o estudo.
IVC
Um levantamento recente do IVC (Instituto Verificador de Circulação) no Brasil revelou que, por aqui, o meio jornal teve crescimento médio de 2,3% de circulação durante o primeiro semestre de 2012. Se comparada a cinco anos atrás, a circulação do segmento cresceu 4,2% em 2011. O levantamento da Wan-Ifra também constatou o decrescente investimento publicitário no meio jornal (impresso) em todo o mundo e que essa perda não foi compensada por eventuais novos investimentos nas versões digitais dos jornais.
A receita publicitária dos impressos somou US$ 76 bilhões em 2011 — cerca de 20% do mercado publicitário total. Há cinco anos, eram US$ 128 bilhões. Os Estados Unidos foram responsáveis por 72% da queda. Apenas 2,2% das receitas totais com publicidade vieram dos meios digitais. Os dados foram apresentados por Larry Kilman, presidente da Wan-Ifra, durante o Congresso Mundial de Jornais, em Kiev, que reuniu as principais lideranças do meio na semana passada.
O estudo compilou dados de circulação de jornais de mais de 150 países e de investimento publicitário em cerca de 90, e é considerado representativo da performance de 90% da indústria global. “É inquestionável: os jornais fazem parte da essência da nossa sociedade. Nossa indústria é mais forte do que se imagina. Ao mesmo tempo, os jornais precisam se transformar para se manterem como os observadores dos fatos e principalmente os principais provedores de informação confiável. Nosso problema não é audiência. Nosso desafio é encontrar modelos de negócios que funcionem na era digital”, comentou.
Cobrança
A receita no meio digital não vem apresentando crescimento porque, segundo explica Kilman, não há “intensidade” na conexão das pessoas com a leitura de jornais online. A falta de intensidade na leitura de notícias na internet também contribui negativamente para o interesse do consumidor em pagar por conteúdo na web. O estudo levantou que as pessoas passam pouco tempo em sites de jornais e visitam menos páginas do que se estivessem lendo a edição impressa.
O ocasional alto volume de visitantes de sites de jornais não se converte em tráfego regular e o foco da maioria dos jornais tem sido criar mecanismos para ampliar o uso online. Um dos problemas apontados pelo estudo é que no ambiente digital os portais ainda são pobres — embora vários já apresentem versões mais interessantes em mobile e em tablets. “Esse é o grande desafio dos editores de jornais daqui para a frente: encontrar maneiras de engajar mais os leitores no ambiente digital. Ampliar frequência e intensidade de visitas. Ampliar  experiência digital, o que certamente aumentará o retorno financeiro”, acredita Kilman.
Para 76% dos jornais, o retorno financeiro através da publicidade que as plataformas digitais representam no máximo a 10%. Para 24% deles, vai a 50%. Já quando se fala em vendas e assinaturas online, o retorno das plataformas digitais representa, para 76% dos jornais participantes do estudo, até no máximo 10% da receita, sendo que para 5% chega a 50% e para outros 5% ultrapassa 5%. “Os consumidores de jornalismo digital dedicam menos tempo à leitura e visitam menos páginas nas plataformas digitais que nas edições em papel. Diante disso, a conclusão é a de que as empresas jornalísticas têm muita margem para aumentar as receitas digitais por meio de novas formas de potencializar a experiência do usuário”, diz Ricardo Pedreira, diretor executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais).
Game
O iPad é considerado um “game changer” no jogo da leitura de jornais no mundo digital. A Wan-Ifra incluiu em seu estudo dados do Pew Research Centre e da The Economist que revelam que 11% dos adultos norte-americanos possuem tablets e que 53% dos usuários consomem notícias através deles diariamente. Um em cada três usuários de tablets afirmam que passam mais tempo consumindo notícias em relação ao que dedicavam antes de possuírem os devices. Ao mesmo tempo, 14% dos usuários pagam por conteúdo e 59% afirmam que o tablet substitui a experiência da leitura do jornal e das revistas impressos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário