Com força em mercados emergentes, marca visa receita de € 4 bilhões
Tradicionalmente uma marca forte e com uma
imagem icônica e inspiracional muito forte, especialmente em sua linha
casual e de lifestyle, a Puma agora volta seus esforços para o lado dos
consumidores de performance, mantendo sempre como norte o conceito
“Joy”, que carrega a irreverência e o divertimento por meio do esporte. A
mudança de foco é uma nova estratégia da companhia, nascida na Alemanha
em 1948, e que hoje conta com faturamento global de € 3 bilhões e com
estrelas como o jamaicano Usain Bolt entre seus atletas patrocinados.
Com o intuito de chegar a € 4 bilhões de receita até 2015, a Puma conta
com a evolução de seus mercados emergentes, como a América Latina, que
viu uma expansão de dois dígitos nas vendas neste trimestre. Há 11 meses
na Puma após passagem de quatro anos pela Red Bull, o gerente de
marketing Marcelo Nicolau fala sobre a expansão que lidera no Brasil, um
mercado-chave para a marca.
Por que a mudança de gestão da Puma para o segmento de produtos com direcionamento e imagem atrelada à performance?
No
mercado de artigos esportivos o segmento de performance tem uma
representatividade chave. Não dá para você ser uma marca relevante sem
estar com esta divisão, especialmente em futebol e running. O ano de
2013 será o divisor de águas em termos de performance e estamos
preparando um trabalho muito convincente. A gente sempre terá uma
posição sólida em lifestyle, uma base que está construída e forte. Agora
vamos virar o foco e o canhão para a parte de performance, para também
ter competitividade nela.
A Puma tem uma grande força de marca no
mercado de peças de uso casual, o chamado lifestyle. A mudança do foco
principal não atrapalharia, portanto, seu maior trunfo?
Tentamos sempre levar a vida ao esporte e o esporte à vida. A ideia é
seguir trabalhando com lifestyle linkado ao esporte, tanto que mantemos a
nossa campanha com os “atletas da noite”, colocando o enfoque esportivo
em cultura, moda e tendências. Mas, desde as corridas na década de 60,
passando pelo futebol com Pelé e Maradona usando as chuteiras King em
Copas do Mundo, a Puma sempre teve esse pé em performance. Com o passar
do tempo, por uma questão de estratégia, a marca acabou se posicionando
muito forte em lifestyle, construindo um equity sólido em design e
imagem. Nossa ideia para os próximos anos é voltar a trabalhar muito
forte esse lado que a gente sempre teve da performance. Então vamos
equilibrar o foco de investimento entre lifestyle com o alto desempenho,
mas sem nos espelharmos nas concorrentes.
E a competição com Nike e Adidas, as duas principais concorrentes globais no mercado de artigos esportivos?
A gente busca não se comparar às outras marcas, apesar de obviamente
estarmos no mesmo mercado. A Puma quer ser a marca da contracultura,
quer ser outra opção. Brincamos até que a marca quer ser um pouco
underdog, um pouco rebelde. Enquanto as outras empresas falam mais em
mainstream e em plataformas mais amplas, a Puma tenta ir pelo outro
lado, fazer a rota alternativa. Até nas campanhas e no patrocínio a
atletas e clubes a gente busca isso.
Seria trilhar o próprio caminho sem se preocupar com os concorrentes?
Como em todo mercado, você primeiro tem que criar condições de paridade
com a concorrência para depois fazer a diferenciação entre as marcas.
De algumas coisas você não consegue fugir. Existem atributos que a sua
marca vai ter que buscar, que qualquer marca tem que ter. Não podemos
nos dar ao luxo de não ser extremamente criativos, de não ser radicais
nas nossas ações, ser comum, enfim. Temos de ser mais ousados. E isso
também se reflete na escolha das nossas agências e parceiros. Vou pegar o
mercado de running como exemplo. É necessário um produto com tecnologia
clara, formadores de opinião que usem e aprovem o produto, ter
visibilidade e estar associado a certos eventos. Mas, a partir disso,
você precisa criar os pontos de diferenciação, que é onde a gente tenta
sempre fugir do comum.
O que é o conceito de “Joy”, que norteia as ações da marca?
A Puma acredita num esporte que diz que a performance e o esforço são
importantes, mas o fato de você se divertir, curtir e ter prazer fazendo
isso vale muito mais.
Quais são as agências que atendem a Puma?
Globalmente a Droga5 leva a conta. Antes, a Syrup cuidava de
performance e a Droga5 fazia lifestyle, mas a agência ajudou a criar
esse conceito de “Joy” e Puma Social, e muito por esse mérito pegou a
conta como um todo, tendo agora como desafio trabalhar também a porção
de performance. No Brasil, a marca trabalha com um pool de agências, sem
ter nenhuma fixa, até para experimentarmos e tatearmos o que é mais
adequado no país. Para o Botafogo, clube que somos fornecedores de
material esportivo, estamos trabalhando com a Mix, enquanto a mídia é da
EC e a Vice é nossa grande parceira em lifestyle e conteúdo.
A identidade da marca sofre alguma diferenciação para se adaptar a alguns mercados?
O nosso posicionamento é muito coeso globalmente. Não há diferenças,
apesar da liberdade que cada país tem para adaptar uma campanha global.
Talvez na categoria e na modalidade, focando, por exemplo, o golfe nos
Estados Unidos, o críquete na Índia e o handebol nos países nórdicos.
Mas o perfil basicamente é o mesmo: buscamos um público jovem, com
atitudes fortes, social, ativo, irreverente e criativo. Queremos
justamente essa geração de agora, com a qual várias marcas estão
tentando conversar.
Existe alguma preferência entre as três
plataformas da Puma — futebol, running e lifestyle — no que diz respeito
ao investimento e ao retorno?
Depende um pouco da coleção e
dos produtos. Se vemos que uma linha está muito forte, focamos nela. No
geral, o running e o lifestyle vêm em primeiro lugar, seguidos pelo
futebol. Mas, no Brasil, o segmento futebolístico e de corrida
representa 70% do mercado, então acaba ficando mais importante. Estamos
vendo, para 2013, produtos de running que serão a tônica do que vamos
passar a trabalhar. Já estamos com uma linha nova, a Faas, inspirada em
Usain Bolt, e que carrega muito a questão do “Joy”, que une a tecnologia
com o lado irreverente no design e nas cores. Claro que não deixamos de
trabalhar outras categorias de produtos, como a nossa linha premium, a
de motorsports ou as voltadas ao público infantil. Mas essas são
estratégias mais pontuais, com um investimento menor e foco mais
imagético. Por exemplo, o automobilismo claramente ganha relevância em
novembro com a chegada da Fórmula 1 no Brasil. Como temos parceria com a
Ferrari, isso cresce bastante. A gente tem essa cautela de pensar que
se vamos entrar em um mercado, vamos entrar direito.
Com a proximidade da Copa do Mundo e dos
Jogos Olímpicos e a estabilidade econômica, o Brasil se tornou um
grande alvo das empresas multinacionais. O país cresceu no conceito da
Puma também?
Naturalmente esse movimento acontece conosco
também. O Brasil ganhou mais relevância, sem dúvida. E o país — mais
especificamente o Rio de Janeiro — carrega muitos valores da Puma, o
“Joy”, a irreverência, o divertimento. A Puma tem uma lista de key
emerging markets, que são os mercados-foco que participam de todas as
iniciativas, e o Brasil está nesse grupo, junto com os outros membros do
Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Estamos discutindo o período de
2013 a 2015 e o investimento e dedicação da matriz no país aumentarão
bastante.
Qual é a estratégia da marca em relação ao ponto de venda?
A Puma já tem lojas exclusivas no Brasil e temos um plano ambicioso de
aumentar o número de pontos de venda. Existem conceitos e formatos a
serem desenvolvidos no mundo todo. O que também estamos fazendo é
trabalhar com os nossos clientes e parceiros chave, o que acaba sendo
uma forma de nos diferenciar e pensamos como levar o nosso conceito e a
nossa experiência ao ponto de venda. Aqui no Brasil isso é desafiador,
por uma questão logística, de pulverização e de canais de
comercialização. Especialmente no mercado nacional, o ponto de venda é
fundamental, pois o vendedor é um influenciador de opinião. E temos
exigido muito das agências neste quesito. Cada campanha tenta trazer uma
coisa nova. Estamos fazendo um treinamento de vendas nos principais
clientes, levando ações promocionais, games e outras iniciativas,
preocupados em ter os produtos certos e traduzir a mensagem deles no PDV
de forma clara e consistente. Conseguir contar a história e os pontos
que você comunica no ato de compra é muito inspirador.
Nos Jogos Olímpicos de Londres, a Puma
baseou sua campanha na imagem de Usain Bolt e na seleção jamaicana de
atletismo, ambos patrocinados pela marca. Por quê?
Para nós
o Bolt é fantástico. Estamos falando de um dos maiores ícones da
corrida, o melhor do mundo. Além disso, o que ele tem de mais valioso
para a Puma é a personificação do “Joy”. Antes da corrida, ele faz
dancinha, flexão, brincadeiras, mas chega na hora de correr, ele vai lá e
bate mais um recorde. Quando você trabalha com um cara como o Bolt,
tudo fica mais fácil. Ele é personagem tanto dentro como fora das
pistas, então dá para incluí-lo em campanhas, em ações diferenciadas, e
sempre que quisermos isso para os nossos patrocinados.
Esse ideal se estende até as outras
categorias de produtos, como o futebol? O aporte a atletas, seleções e
clubes é norteado por este conceito de “Joy”?
Sim, sem
dúvida, e isso é muito desafiador. O futebol requer muita visibilidade e
as opções para patrocínio não são tão vastas, pois a briga entre as
marcas está muito forte e temos cada vez menos oportunidades. Mas
tentamos nos manter fiéis a esse conceito. Claro que o lado irreverente
sem performance não é esporte. No futebol, em um ano, fechamos com
jogadores como Fàbregas, Falcão Garcia e Agüero, o time do Borussia
Dortmund, atual campeão alemão, e a seleção da África do Sul. Claramente
o investimento em categorias de performance são cada vez maiores. No
Brasil, como já dissemos, temos o Botafogo e atletas como Loco Abreu e o
goleiro Rafael. Um exemplo muito nítido do que buscamos é o patrocínio
às equipes africanas de futebol. Quando acertamos com elas ninguém
imaginava fazer isso. A África tem uma ligação muito forte com o DNA e a
história da Puma, e é um dos continentes que mantém a irreverência, a
diversão no futebol e um estilo de jogo rápido. Eles sempre mostram
alguma inovação, comemorações com alegria. Em termos de negócio não é o
maior continente, obviamente, mas o fato de termos acertado o patrocínio
a eles mostra que buscamos o diferente.
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