Pesquisa da Kantar Wordpanel no país indica que consumidores não querem parar de comprar e estão mais exigentes na hora de escolher serviços e produtos
O brasileiro está comprando mais e gastando uma fatia maior da sua
renda com produtos premium voltados para o lar. Independente da classe
econômica e excetuadas as proporções dos gastos de cada uma, a busca e o
desejo de adquirir bens diferenciados estão cada vez maiores. Mais da
metade do valor destinado a itens de cuidado pessoal é gasto com as
marcas mais caras: em 2010 o índice era de 47%, passando a 51% em 2011. A
conclusão é parte da pesquisa “O que é caro e barato para o
brasileiro”, da Kantar Wordpanel.
A entrada da linha premium faz parte de um novo momento do consumidor.
Os brasileiros estão mais pré-dispostos a experimentar produtos antes
não entravam nos lares. Na categoria limpeza, o gasto com os produtos
mais caros saltou de 38% para 40%; em alimentos, de 28% para 35%; e em
bebidas, de 25% para 28%.
Sem lealdade aos canais
De acordo com a pesquisa da Kantar, o consumidor de hoje é multicanal
e, por consequência, a lealdade se torna praticamente inexistente: 84%
dos lares brasileiros optam por mais de três canais para se abastecer. O
índice de fidelidade vem retrocedendo desde 2001, quando 61% já compravam em diversos canais.
Uma das explicações é a priorização dos benefícios e não apenas do
bolso. Em relação à categoria de higiene e beleza, por exemplo, 85% dos
consumidores continuam aumentando o volume da compra, mesmo que o preço
suba. Na categoria limpeza, 62% também mantêm as compras ainda que haja
reajuste, e em relação a bebidas, o índice é de 36%.
Na avaliação da Kantar, os números indicam que o brasileiro não quer
apenas comprar, mas gerar experiência. “O brasileiro exclui a escolha
entre caro e barato, e fica com o questionamento se aquele produto é bom
ou não. Ele se torna um experimentador e essa nova linguagem é o maior
desafio para as marcas. O reflexo direto é na comunicação e no
Marketing, que deverão focar cada vez mais em ações motivacionais,
reforçando a identidade dos seus produtos”, afirma Patrícia.
Além da experimentação, os shoppers também levam em conta a
proximidade, o relacionamento e o custo-benefício. Nesse cenário, ganha
destaque o pequeno varejo, que é responsável por 34% do total das
compras dos brasileiros. Em comparação ao período entre 2011 e 2012, a
participação desse canal aumentou em dois pontos percentuais. O varejo
tradicional recebe 26% das compras e, do ano passado para este, se
manteve estável.
Os reflexos negativos
A entrada definitiva dos brasileiros no mercado de consumo está
distante da perfeição. Mesmo que o desejo e a realização das compras
tenham chegado a um nível nunca antes visto, o reflexo negativo nesse
panorama é o endividamento. Segundo o estudo, 52% das famílias
brasileiras estão endividadas.
Entre as maiores despesas, o destaque vai para alimentação e bebida
dentro do lar, habitação, transporte e serviços públicos. A penetração
de cartões de crédito nas compras de bens de consumo não-duráveis é o
principal motivo para o volume de dívidas. Nos últimos três anos e pela
primeira vez, dois milhões de lares “experimentaram” o uso do
parcelamento de contas via cartão.
Entre as classes, a C é a mais prejudicada. De acordo com a pesquisa,
mesmo com mais renda e emprego, a nova classe média não pode contar com a
sorte. Na relação gasto versus renda, ela é a única a ter índice
negativo, de -2%, chegando a comprometer 41% de seus ganhos mensais
familiares. A classe AB tem índice de 1% e a DE de 4%. Estes grupos
comprometem 24% e 35% de suas rendas, respectivamente.
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