Oito anos! Esse foi o tempo que o empresário Marcus Matheus esperou para arrematar seu Dodge Charger 1976, o carro desta reportagem. “Um dia passei em frente a uma casa e o vi estacionado, ao lado de um Dart. Toquei a campainha, um senhor atendeu e me propus a comprar os dois. Ele nem quis papo. Porém, anotei seu telefone e comecei a ligar todos os anos, sempre com proposta mais indecente que a anterior. Oito anos depois daquele dia, o senhor cedeu à minha insistência e finalmente me vendeu o Charger”, conta Matheus, um dos verdadeiros “Dodge-maníaco-compulsivo”.
- Marcus Matheus resolveu transformar seu Charger na picape "El charger", um monstro de 457 cv
O Charger em questão era utilizado para trabalhos rurais e possuía uma
traseira de Kombi adaptada. Foi então que Marcus teve uma ideia. “Decidi
montar um ‘El Charger’! Afinal, a Ford tinha a Ranchero, a Chevrolet a
El Camino... Nada mais justo do que ‘lançar’ uma autêntica picape da
Dodge também”, brinca.
Mal sabia Matheus que mais cinco anos seriam necessários até ele
conseguir sentar nos bancos originais (recém-reformados) e, ao mesmo
tempo, deixar o carro com a lataria bem lixada. “Esperei muito tempo.
Agora, é hora de tirar o atraso”, justifica. Vale ressaltar que tanto o
visual da caçamba, quanto pintura e detalhes da carroceria foram criados
pelo próprio entusiasta. “Investi um tempão redesenhando a traseira
dele. Quando consegui o melhor resultado, optei pelas faixas laterais do
Charger 1971. Além dessa versão ter saído no ano do meu nascimento, as
faixas ficam posicionadas na parte de trás, um modo de valorizar ainda
mais o visual da caçamba”, lembra.
Acredite: o “El Charger” ficou invocado. Ele acelera com vontade e
exala potência! O culpado pelo desempenho monstruoso do muscle é
Jefferson “Gugu” Marcal, especialista da preparadora e customizadora Hot
Parts (SP), que esclarece alguns pontos cruciais para o bom resultado
mecânico. “O Marcus queria rodar diariamente com um carro forte, porém,
utilizando carburadores para manter o ar retrô. Sugeri utilizar um duplo
da Edelbrock de 650 cfm, 'oco', para poder aplicar os corpos de
borboletas da injeção. O plano deu certo e, agora, uma injeção
sequencial da americana Mega Squirt II afina o V8 como uma orquestra
sinfônica", afirma.
Veja o álbum de fotos do Dodge El Charger
Além do assobio do blower 8-71, o ronco dos escapes é bem similar ao de
um dragster, inclusive em marcha lenta. Segundo o preparador, a
potência original do V8 big block 440 é de 380 cv. Agora, retrabalhado e
repleto de componentes de alto desempenho, o motor crava no dinamômetro
457 cv. “Fizemos uma primeira experiência utilizando etanol, onde ele
rendeu 750 cv no dino. Porém, o Marcus queria um carro para rodar a
qualquer momento, sem a chatice de esperar aquecer para sair. Então,
mudamos para a gasolina e ficou tudo certo”, explica Marcal, ressaltando
que a pressão aplicada no blower é inicial, de apenas 0,6 kg. “Eu até
poderia optar por rodar com 1.000 cv nele, mas correria o risco de
quebras. Por isso, preferi ficar com 'apenas' 457 cv”, empolga-se
Matheus.
Diversão, aliás, é a melhor qualidade desse Charger. Fullpower
teve a oportunidade de dar um passeio com a picape e a sensação de
rodar com ela nas ruas é única. Só depois de se acostumar a dirigir com o
blower gigante na frente dá pra perceber que guiar este Dodge é
completamente diferente de qualquer outro carro: a expressão de espanto
das pessoas que o admiram me fizeram sentir como o ator Mel Gibson no
filme Mad Max -- que, na ocasião, acelerava um Ford Falcon XB GT
equipado com um V8 351 também com blower.
Torque e potência são descomunais no El Charger -- e estão ali o tempo
todo, basta relar o pé no pedal do acelerador. Para frear, no entando, o
movimento é contrário: é preciso afundar os dois pés com vontade no
pedal para obter uma resposta dos freios. É difícil parar o carro!
E se engana quem acha que o projeto já está finalizado. Matheus ainda
deixou escapar alguns upgrades futuros no Charger: “o carro consome
muita energia elétrica e o alternador não está suprindo. Importei um
modelo de 150 amperes e em breve vamos trocá-lo”. O mesmo vale para o
radiador, que cederá lugar a um componente de alumínio, maior e mais
eficiente. “O importante era fazer o carro funcionar. Agora, é uma
questão de pouco tempo para estar tudo perfeito”, assegura Marcal.
Um blocante 100% Strange Engineering já pousou em solo brasileiro e, em
breve, um novo câmbio ocupará o lugar do atual Torqueflite 727. “Com
tudo isso montado, prometo subir a pressão do blower e ver o que
acontece”, afirma o “Dodge-maníaco-compulsivo" destruidor-de-pneus.
Versão condensada de reportagem da revista Fullpower
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