Há um evidente deslumbramento com tais novidades tecnológicas e uma carência proporcional de análises sobre o que significa cada um desses movimentos para a indústria da comunicação.
O Google apresentou uma pequena esfera cuja função é conectar aparelhos digitais móveis, como tabletse smartphones, à televisão. Dessa maneira, tudo que o usuário possui armazenado em seus territórios pessoais nas chamadas nuvens computacionais pode ser visto na tela da TV.
Novos protagonistas
O grande interesse por esses “brinquedos” de adultos faz parte do fascínio que a tecnologia sempre exerceu sobre o ser humano – parte do processo de emancipação do homem em relação a tarefas que exigem esforço físico e uma das maneiras de constatar o avanço do tempo.
Os óculos do Google, por exemplo, possuem mais capacidade de memória e processamento de dados do que a maioria dos computadores de mesa ainda em uso em todo o mundo.
O que não se vê muito comumente nos jornais, como acompanhamento dessas notícias entusiásticas sobre novos aparelhos, é o efeito dessa tecnologia sobre os meios tradicionais de comunicação.
Cada uma dessas empresas que atuam na convergência da informática com as telecomunicações está criando seu próprio sistema integrado de aparelhos e aplicativos, fazendo surgir um conceito que pode ser chamado de ecologia da informação. Assim, a Apple, o Google, o Facebook e outros novos protagonistas desse universo em constante mutação, vão compondo seus próprios infoomas – um neologismo que pode ser aplicado em referência aos biomas do ambiente biológico.
Valor real
A questão que ronda por trás dessas novidades, e que não está sendo analisada pelos jornais, é: o que vai acontecer com a mídia tradicional quando tudo isso estiver integrado em um único e complexo sistema informacional?
Claramente, cada uma dessas novidades representa um avanço no processo de expansão dessas tecnologias, que pode ser comparado metaforicamente ao “big bang” cósmico. Por outro lado, não se pode ignorar o fato de que a essa expansão corresponde um movimento contrário das mídias tradicionais, que vão perdendo relevância na mesma proporção.
Pode-se afirmar que os novos meios libertam a humanidade da dependência histórica de centrais de informação e comunicação e produzem questionamentos relevantes sobre o próprio significado da palavra mídia.
Os óculos do Google são anunciados como parte das funcionalidades chamadas de “realidade ampliada”, que é como são denominadas as tecnologias que expandem o alcance dos sentidos humanos. Também são considerados como um dos primeiros movimentos de uma nova era, que é conhecida como a dos “computadores de vestir” – representada pelos aparelhos que se acoplam ao ser humano, tornando a computação como uma extensão do seu corpo. A partir desse ponto, perde-se o limite entre tecnologia e ficção científica.
Mas o que teria tudo isso a ver com a observação da imprensa? Tem que todas essas empresas produtoras de tecnologia de informação e comunicação se configuram cada vez mais claramente como concorrentes – e não fornecedoras – do conceito tradicional de mediação.
O Facebook, por exemplo, apresenta-se nesta semana como empresa de mídia e se consolida como um competidor a mais na disputa pela atenção do público e pelas verbas publicitárias.
A única coisa que pode preservar as empresas tradicionais é conteúdo de valor real para o público.
Por Luciano Martins Costa - reproduzido do Observatório da Imprensa
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