segunda-feira, 4 de junho de 2012

Evolução? Mudança!

Durante algum tempo (no século 19, basicamente, mas é incrível como o tempo ideológico não passa!) acreditou-se que as línguas evoluem. Segundo o sentido mais comum da palavra, defendeu-se que haveria línguas primitivas, precárias (crença que ainda persiste em muitos domínios). Elas seriam faladas por sociedades também primitivas. Ambas evoluiriam, tornar-se-iam mais sofisticadas, adquiririam mais recursos, capazes de permitir a expressão de formas de pensamento mais complexas.

 
A tese caiu por terra em decorrência de dois argumentos: a) a análise das línguas ditas primitivas por gente que sabia o que estava fazendo mostrou que não há línguas primitivas, se elas forem consideradas “em si”, isto é, objetivamente, e em cada um de seus subsistemas (fonologia, morfologia, sintaxe, semântica); b) a comparação com as línguas ditas civilizadas mostrou claramente que certos subsistemas (como o dos casos) são partilhados por línguas ditas de civilização e línguas ditas primitivas. Portanto...
 
Na verdade, um terceiro argumento foi muito relevante: o latim e o grego, línguas altamente flexionais, sempre foram considerados exemplos de línguas “evoluídas”. Ora, essa avaliação deveria fazer com que o inglês fosse considerado “primitivo”, já que praticamente não tem flexões (poucas de número, nenhuma de gênero, pessoas verbais quase invariáveis etc.). Ora, considerada a “produção” em inglês – literária, filosófica, científica etc. –, a tese é completamente insustentável. Portanto...
 
Os estruturalistas descobriram que cada sistema deve ser analisado imanentemente, sem comparação com outros (também em antropologia). Mas mesmo as comparações com outros sistemas destruíram a hipótese de que há línguas mais avançadas do que outras, qualquer que seja sua função (falar das coisas, produzir conceitos, narrar, fazer poesia ou chistes etc.).
 
Texto de Sírio Possenti
 
Leia a íntegra no Observatório da Imprensa

Nenhum comentário:

Postar um comentário