Dentro de um táxi que foge do
ordinário chama a atenção por onde passa, o motorista José Antonio Nunes
até parece um artista famoso ou apresentador de algum programa de
auditório. A bordo de uma das duas primeiras unidades do elétrico Nissan
Leaf que rodarão em São Paulo levando e trazendo passageiros, é difícil
passar desapercebido, como o iCarros verificou em setembro de 2011.
As
duas unidades do modelo que já rodam na capital paulista o fazem parte
de um programa piloto encabeçado pela Prefeitura de São Paulo, as
montadoras Renault e Nissan, a AES Eletropaulo e a Adetax (Associação
das Empresas de Táxi de Frota do Município de São Paulo).
A
ideia é verificar se é viável ter carros elétricos rodando como táxis
na cidade, que atualmente conta com uma frota de 35 mil veículos
disponíveis na “praça”. Até agora, uma semana depois dos carros
começarem a rodar, o plano vai muito bem, pelo menos para Nunes, que
curte um momento de celebridade ao pilotar um táxi elétrico em São
Paulo. “Me param na rua para perguntar sobre autonomia, funcionamento.
Ficam olhando. O carro chama muita atenção”.
Nunes,
que também dirigi um Renault Logan nos horários em que o Leaf recarrega
suas baterias, conta que autonomia não é um problema. Em situações
ideais de pilotagem e asfalto, a Nissan fala em uma capacidade de rodar
até 160 km utilizando toda a bateria. Para “completar o tanque” com
energia, a bateria pode ser recarregada no tempo de seis a oito horas na
base de carregamento instalada na “Alô Táxi”, um das duas empresas que
aceitaram participar do programa piloto em São Paulo. Isso não quer
dizer que dá para comparar o sedã convencional com o carro elétrico:
“Não tem termos de comparação, é como passar da água para o vinho”,
conclui Nunes.
Enquanto
mostra toda a tecnologia empregada no carro, acumulada em botões no
painel, Nunes ainda conta que o modelo tem cumprido a missão de fazer
160 km, e que, na sua opinião, quando começar a rodar efetivamente como
um táxi (até agora o carro só apareceu na mídia e em seminários) o
Leaf“vai passar de 180 km de autonomia, com certeza”.
Para
se ter uma noção em números do quão econômico é rodar com um carro
elétrico, a AES Eletropaulo divulgou um levantamento que apontou uma
redução de 81,88% no gasto com combustível, comparando gasolina e
energia elétrica em um carro que roda 160 km. O gasto com gasolina (R$
2,79/litro) é de R$ 39,25 já com energia é de R$ 7,11. A média entre
etanol e energia elétrica também surpreende: comparando com um carro
movido com combustível vegetal, que gasta R$ 33,70 para rodar 160 km, a
redução é de 78,90%.
O
fato de o carro precisar no primeiro estágio do programa de até oito
horas para carregar a bateria não atrapalha Nunes. O táxista comenta que
é possível realizar pequenas recargas, o que é aconselhado pelos
engenheiros da Nissan, durante o trabalho. “Eu posso parar para almoçar e
deixar o carro carregando por 1 hora e meia e já recupero a autonomia
que eu gastei na parte da manhã, por exemplo”.
Nunes terminou o “passeio” levando a reportagem do iCarros até
a sede da empresa em que trabalha, para conferirmos o funcionamento da
estação de carregamento. Até agora são apenas duas, uma em cada empresa,
mas até o final da primeira etapa do projeto, que deve durar três anos,
serão instalados 15 postos, totalizando dez em empresas de táxi e cinco
em concessionárias da Nissan na cidade de São Paulo. Segundo a
Eletropaulo, a empresa vai investir R$ 1 milhão para instalar todos
esses 15 postos de recarga e inspecionar se as redes elétricas das
empresas que participam estão adequadas aos padrões de segurança.
Será que a moda pega?
“Você está me perguntando se eu teria um carro desses?”, questiona o taxista durante a volta que o iCarros deu a bordo do Nissan Leaf, “Hoje eu não tenho condições, mas se eu compraria? Sim!”.
Agora,
se esse experimento vai para frente, só o tempo irá dizer. A Nissan não
confirma se o carro chega ou não no Brasil, mas acaba de assinar um
memorando de parceria com a Petrobras para estudar a expansão da
infraestrutura para recarga de veículos elétricos por aqui, que ainda é
muito pequena. Tudo bem que o país não vende nenhum carro elétrico ainda
e nem tem leis de incentivo fiscal para modelos que não poluem o meio
ambiente, mas o acordo de hoje mostra que o Brasil está cada vez mais
perto de ter uma frota de carros silenciosos rodando nas ruas.
Nos
EUA, o carro parte de US$ 27.700 (aproximadamente R$ 56 mil), isso sem
contar os descontos de incentivo fiscal que variam para cada estado no
mercado norte-americano. Já no Brasil, o carro não chega tão cedo. Além
de não ser homologado para ser vendido no mercado interno, a Nissan não
fala se vai ou não trazer o carro. Outras marcas já vendem carros com
tecnologia híbrida, combinando motores a combustão e elétricos, como é o
caso do Ford Fusion Hybrid e o Mercedes-Benz S 400 Hybrid, que não se popularizaram no Brasil, mas já estão à venda há algum tempo.
O
taxista Jorge Ferreira, que está na “praça” há 28 anos, afirma que já
“ouviu falar entre os colegas sobre a novidade, e também leu uma matéria
sobre o Leaf”, na publicação que circula entre os motoristas de táxi.
Mas Ferreira comenta que não sabe muito sobre o funcionamento do carro
elétrico. O motorista destaca que “a maioria dos táxistas visam economia
(de combustível), então, se o carregamento for barato valeria a pena
sim ter um carro elétrico”.
E você, leitor, está preparado para pagar uma corrida eletrizante?
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