Adolfo Martins, do movimento Marcha pela Ética, usa seu celular para transmitir ao vivo passeata na av. Paulista Tim Pool e Adolfo Martins não pertencem a nenhuma emissora de TV. Mas ambos transmitiram eventos ao vivo em suas respectivas cidades, Nova York e São Paulo, portando apenas um celular.
Se o blog permitiu a publicação de textos pela internet, e o podcast lançou a moda dos "programas de rádio" digitais, agora os celulares com câmera e internet móvel permitem a transmissão de vídeos ao vivo de qualquer lugar, como se você fosse uma emissora de TV de um homem só.
Apesar de ainda haver empecilhos, como a má qualidade da banda larga móvel, esse tipo de vídeo streaming já é uma tendência palpável. Por enquanto, as iniciativas que mais usaram a tecnologia foram os recentes atos políticos no Brasil e no mundo.
Participante do grupo de mídia independente We Are the Other 99, Tim Pool é um dos ativistas do Occupy Wall Street, ação iniciada em setembro em Nova York contra a desigualdade econômica.
No último dia 15 de novembro, Pool transmitiu com um Samsung Galaxy S 2, por 14 horas seguidas, a desocupação da praça Zuccotti promovida pela polícia da cidade.
Já em São Paulo, os consultores Adolfo Martins e Guto Costa viabilizam os strea-mings do movimento Marcha pela Ética. Também no dia 15, Martins sacou seu iPhone 4 para mostrar aos internautas uma passeata contra a corrupção que reuniu 300 pessoas na avenida Paulista.
Editoria de Arte/Folhapress | |||
LIMITAÇÃO
A maior diferença técnica entre os dois momentos é também o maior vilão desse formato: a banda larga móvel ainda insuficiente. Se nos EUA Pool contou com uma rede 4G, no Brasil Martins penou com diversas quedas do link ao vivo pela rede 3G.
"O ideal para esse tipo de exibição seria 8 a 10 Mbytes por segundo. Usamos uma conta gratuita da Ustream e só não adotamos o serviço pago deles porque a qualidade da nossa internet móvel não suporta mais que isso", diz Martins, cuja transmissão oscilou entre 90 e 1.024 Kbytes por segundo na passeata.
O jornalista Bruno Torturra também fez experimentos do gênero em duas marchas políticas em São Paulo. A primeira, via streaming profissional a convite da Livestream Brasil, em 18 de junho; e a segunda, em 2 de julho, usando seu iPhone, web 3G e o app Twitcasting.
"O link durou uma hora e meia, o tempo que durou a bateria do meu celular", relembra Torturra, citando outro problema comum.
Política à parte, o diretor de conteúdo da empresa especializada em streaming Live Content, Marcelo Chermont, usa a ferramenta para algo mais prosaico: mostrar as brincadeiras de seus filhos.
"Quando estamos em um parque, abrimos um link para familiares que moram no Rio. Além do celular, às vezes usamos o tablet para isso", conta Chermont, dono de um iPhone 4 e de um Galaxy Tab.
John Minchillo-18.out.11/Associated Press | |||
Participante do Occupy Wall Street fala ao microfone durante entrevista transmitida ao vivo pela internet |
REDE RUIM
A transmissão móvel ao vivo no Brasil engasga devido aos entraves técnicos e por ser uma novidade, afirmam especialistas e usuários da tecnologia.
"Estamos na pré-história do streaming móvel", diz o jornalista Bruno Torturra, que usou seu iPhone para exibir a Marcha da Maconha de 2 de julho.
Segundo o professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da USP, Marcelo Zuffo, celulares estão prontos para as transmissões, mas as conexões móveis, não. "As redes de telefonia estão saturadas", avalia.
Uma saída é o 4G, mais veloz que o 3G. O leilão de licitação do sistema está previsto para abril, mas não há prazo para a implementação da tecnologia.
Para o estudioso de tecnologia e colunista da Folha, Ronaldo Lemos, futuras melhorias trarão novos usos do streaming.
"Será possível cobrir eventos como Réveillon, Carnaval e esportes. Esses últimos esbarram nos direitos de transmissão das redes de TV. E a chance de o público transmitir esses eventos já causa tensões."
Liliana Nakonechnyj, do Fórum Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, rebate e diz que o streaming por celular não ameaça as emissoras convencionais.
Para Bruno Torturra, há ainda a questão cultural: "Muita gente não percebeu o poder que um smartphone pode ter na difusão de ideias".
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