segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Os novos porteiros da notícia

Depois de muita gente, inclusive eu, anunciar o fim da função jornalística chamada pelos norte-americanos de gatekeeper (em português, porteiro), tornam-se cada vez mais fortes os indícios de que o cargo simplesmente trocou de dono. Deixou de ser parte da hierarquia jornalística para transformar-se numa atividade exercida por programas eletrônicos que movem sites como a rede social Facebook e o site de buscas Google.

 
A personalização e a customização, duas outras expressões obrigatórias na nova ecologia informativa criada pela internet, também estão perdendo o glamour dos primeiros tempos da web, quando a grande preocupação era criar conteúdos capazes de ocupar nichos informativos e preferências individuais dos internautas.
 
Nicholas Negroponte, um dos primeiros gurus da internet, chegou a cunhar a expressão Daily Me (Meu Jornal) para designar um jornalismo sob medida para cada leitor. A página noticiosa automática Google News tem uma opção de personalização do noticiário segundo as preferências do usuário e o seu histórico de buscas na internet.
 
Os porteiros e a personalização voltaram à agenda dos internautas como uma consequência do amadurecimento gradual da internet. Os especialistas começam a ter visões diferentes de fatos e processos que inicialmente sinalizavam algumas tendências, mas que agora apontam noutras direções.
 
Facebook e Google, partindo da preocupação em oferecer produtos informativos cada vez mais próximos da vontade do usuário, acabaram gerando o que o norte-americano Eli Pariser rotulou de bolha de filtros (filter bubbles). Quanto mais um usuário receber informação personalizada mais ele poderá se distanciar da realidade, passando a viver dentro de uma redoma informativa gerada a partir de suas preferências e necessidades pessoais.
 
O que começa a se esboçar é uma consequência paradoxal da avalancha informativa que nos obriga a pensar sobre uma série de conceitos e práticas até agora considerados definitivos. A busca da personalização tem uma enorme vantagem ao procurar filtrar a massa de informações liberada pela internet para tornar menos caótica e incerta a nossa navegação na web. Sem os mecanismos de busca na internet, a massa de dados disponível na web se tornaria lixo informativo porque não seria possível descobrir a sua relevância e utilidade.
 
Por Carlos Castilho - artigo publicado no Observatório da Imprensa

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