Maiores oportunidades de conseguir financiamento e mercado de trabalho estão aproximando startups brasileiras do mercado norte-americano. É o caso da EverWrite e da Deskmetrics, que nasceram em Belo Horizonte, mas têm clientes espalhados pelo mundo. Já a 2Mundos nasceu nos Estados Unidos, veio para o Brasil, mas mantém um escritório em San Francisco (Califórnia) pela proximidade com os investidores.
“O nosso negócio tem foco no mercado global. Abrir uma empresa nos EUA é uma questão de alinhamento com os nossos principais clientes e com o capital”, conta Diego Gomes, executivo-chefe da EverWrite, que ajuda empresas que produzem conteúdo a saber o que as pessoas estão mais procurando na internet.
“A gente não tem mercado aqui e, lá fora, existe uma chance de sermos vistos de outra forma. Lá, existe uma cultura de compra de empresas muito maior”, diz Bernardo Porto, executivo responsável pela Deskmetrics, que analisa o comportamento dos usuários de softwares.
Por enquanto, a EverWrite conta apenas com financiamento independente, mas Gomes afirma que já existem conversas com investidores baseados na Califórnia.
A Deskmetrics teve mais sorte. Um grupo de empresários de Minas Gerais fez um investimento de US$ 200 mil em sua empresa. Além disso, houve uma ajuda do pai de Porto, que viu potencial do software criado pelo filho e o ajudou a fundar sua primeira empresa, que daria origem à DeskMetrics.
Além da questão dos investimentos, a fraca cultura de startups, os impostos brasileiros e a dificuldade para receber valores em dólares são barreiras para o sucesso dessas empresas no Brasil, diz Gomes.
“A nossa estrutura de pagamentos no Brasil ainda é bem precária. Se você monta um site no Brasil e quer cobrar mensalidade pela internet, é um desafio muito grande. Não existe uma solução madura para você receber pagamentos recorrentes”, conta Gomes.
Porto conta que a DeskMetrics procurou diversas formas para receber em dólares, mas ora as taxas eram muito altas, ora a fatura teria que ser enviada em reais aos compradores estrangeiros. “Enviar uma conta em reais para eles ficaria muito estranho”, explica.
“Outro problema é que as empresas maiores não pagam via cartão de crédito, então eles preferem que a gente tenha uma conta em um banco dos Estados Unidos. Cria-se uma barreira maior se a conta é em um banco brasileiro”, completa o executivo-chefe.
O advogado especializado em direito digital Victor Haikal, do PPP Advogados, explica que o Brasil tem um certo rigor com o recebimento de fora do país para “evitar investimentos de procedência duvidosa”.
Ele explica que, talvez, o surgimento de programa de incentivo às startups possa melhorar a situação dos empreendedores brasileiros. “O Brasil é um ótimo lugar para investimento, mas falta um programa para empresas desse tipo”, conta.
A mudança
A abertura de uma filial nos Estados Unidos exige a contratação de advogados e contadores baseados no país para que não haja problemas posteriores. “Tem que entender as leis lá fora, e cada Estado dos EUA tem um padrão diferente”, explica Porto.
A abertura de uma filial nos Estados Unidos exige a contratação de advogados e contadores baseados no país para que não haja problemas posteriores. “Tem que entender as leis lá fora, e cada Estado dos EUA tem um padrão diferente”, explica Porto.
A Deskmeters contratou advogados em Nova York para cuidar da questão das tarifas norte-americanas. Além disso, eles contam com um funcionário na mesma cidade, que fica responsável pelo contato com os clientes. “Isso diminuiu um pouco da barreira cultural”, conta Porto.
A ideia do executivo é até chegar a abrir uma parte de vendas nos Estados Unidos, mas sem deixar de lado a parte operacional localizada no Brasil. A empresa ainda não concluiu sua abertura nos Estados Unidos.
A EverWrite, que já concluiu seu processo de abertura de empresa em Delaware (EUA), teve a ajuda do advogado especializado Ryan Roberts e abriu apenas um escritório virtual. “Tenho um telefone, um endereço, tudo nos Estados Unidos”, afirma Gomes. O próximo passo, diz ele, é conseguir vistos de trabalho nos Estados Unidos para Gomes e seu sócio.
Caminho inverso
Para a 2Mundos, o caso foi diferente. A abertura da empresa ocorreu primeiro nos Estados Unidos, mas, como o foco do mercado era o Brasil, a empresa mudou-se para cá. “No mundo todo, é difícil estar longe dos investidores. Nós funcionamos como se tivéssemos dupla nacionalidade”, conta Reinaldo Normand, executivo-chefe da empresa criada em abril que já recebeu US$ 1 milhão em financiamento.
Para a 2Mundos, o caso foi diferente. A abertura da empresa ocorreu primeiro nos Estados Unidos, mas, como o foco do mercado era o Brasil, a empresa mudou-se para cá. “No mundo todo, é difícil estar longe dos investidores. Nós funcionamos como se tivéssemos dupla nacionalidade”, conta Reinaldo Normand, executivo-chefe da empresa criada em abril que já recebeu US$ 1 milhão em financiamento.
A 2Mundos, que faz jogos sociais para marcas brasileiras, tem investidores brasileiros e norte-americanos. A presença nos dois países se justifica já que é difícil “haver investimentos transnacionais em startups”, segundo Normand. “O cara tem que conhecer você para poder investir.”
Normand já está em sua sétima startup e conta que conhece os prós e contras de se abrir uma empresa no Brasil e nos Estados Unidos. “Nos EUA, é tudo mais simples. Você incorpora a empresa e resolve tudo em uma semana. Também há mais capital de risco. O principal contra é a competição”, explica.
"No Brasil, o único pró é o mercado". Para ele o mercado interno brasileiro ainda é “pouco explorado”.
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