Desde o lançamento há 15 meses, o Uno tornou-se o modelo mais vendido da Fiat (o número total exato é desconhecido, porém, por ser integrado ao do irmão veterano Mille) por uma conjunção de fatores, dentre os quais destacamos um: a diversidade. Com um total de dez opções, entre motorizações, propostas e (desde março) número de portas na carroceria, o Uno briga em quase todos os nichos do segmento de carros pequenos.
O amplo leque de versões não serviu para derrubar o rival Volkswagen Gol (nas gerações quatro e cinco) da liderança absoluta do mercado nacional, mas com certeza ajudou a manter a Fiat na primeira posição entre as fabricantes. Se na chegada o Uno foi vendido a quem procura um carro inovador, charmoso e até endiabrado, agora com sua carroceria de duas portas e preço menor pode ser direcionado, também, a frotistas em busca de um modelo simples e robusto para suas rotinas de trabalho, jovens que desejam ter o primeiro carro, casais sem filhos ou famílias com orçamento apertado. E assim tira vendas de modelos como o Ford Ka, Renault Clio e Chevrolet Celta, que atraem quem busca economia.
Por "economia" entenda "sem nada além do essencial", pois é disso que se trata, embora o preço não seja assim tão despojado. Em maio de 2010, apontamos que era necessário desembolsar R$ 27.350 pelo novo Uno mais barato então disponível (Vivace quatro portas com motor 1.0 "pelado"). Hoje, paga-se um pouco mais, R$ 27.830, pelo Uno Way duas portas também 1.0 e "pé-de-boi", que ilustra esta avaliação e que só é mais caro que o Uno Vivace 1.0 de duas portas (R$ 26.650). E quer saber quanto custa atualmente aquele primeiro Uno? Seu preço saltou para R$ 28.480.
Por quase R$ 30 mil, o Uno de duas portas só entrega painel com conta-giros, relógio digital e indicador de temperatura do motor, rodas aro 14 com calotas integrais e banco traseiro rebatível; a versão Way tem ainda retrovisor na cor do veículo e faróis com máscara negra, além dos indefectíveis adereços plásticos na carroceria. O modelo das fotos tem cabine mais humanizada e maior segurança por contar com regulagem de altura para volante e banco do motorista, ar, direção, vidros e travas elétricos, rodas de liga de 15 polegadas, rádio, pacote HSD (airbag e frios com ABS), kits de aparência e conforto. Com esta lista de opcionais, que inclui ainda a alavanca interna para acertar a posição do espelho retrovisor (pode pasmar), o preço salta para algo acima dos R$ 41 mil.
VIVENDO COM O UNO DUAS PORTAS
UOL Carros testou o Uno duas portas em sua versão Way por uma semana e chegou a três conclusões distintas. De cara, podemos dizer que o Uno é prazeroso ao dirigir, considerando sua proposta. Mais leve, exige menos do motor Evo de 1 litro, que gera o par máximo de 75 cavalos de potência (a 6.250 rpm) e torque 9,9 kgfm (a breves 3.850 rpm) quando alimentado com etanol. Esperto e empurrando uma massa menor, o bloco garante alguma agilidade em ambiente urbano e até surpreende na estrada, onde não deixa o motorista passar sufoco -- diferente do que sentimos a bordo do Ka 2012, por exemplo (releia aquela avaliação aqui).
O Uno poderia até dar mais prazer ao motorista se sua caixa de câmbio tradicional, mal escalonada e com engates imprecisos, fosse aposentada de vez. Ou se o conjunto de suspensão fosse revisado de modo a eliminar a permissividade excessiva e a torção exagerada em curvas. O comportamento geral, no entanto, se mostrou aceitável e o consumo ficou perto dos 8 km/l de etanol na cidade.
De toda forma, percebe-se claramente o motivo que leva muitos consumidores a escolherem o Uno no momento de comprar um compacto. E esta é nossa segunda conclusão: fruto de um projeto mais atual, o Uno tem uma cabine ajeitada mesmo em sua versão "sem nada". Os ocupantes não se sentem tão apertados, nem tão desprovidos quando em modelos rivais. Além disso, o revestimento é simples e feito com material barato, mas o acabamento é relativamente bom, inclusive na parte acústica. Nesta faixa do mercado, o consumidor enxerga isso como bom tratamento -- e todo mundo quer ser bem tratado.
- Acesso limitado: com duas portas a menos, bancos frontais devem ser deslocados para acomodar quem vai atrás -- na volta, encosto nunca fica na posição original e irrita seu ocupante
Infelizmente, quem busca mais conforto e segurança, principalmente com o alto preço do carro no país, vai se sentir menosprezado, como se sentiria em qualquer outro modelo básico das grandes marcas. Sem as portas traseiras, tem-se de deslocar os bancos dianteiros para permitir que alguém viaje atrás; no Uno isso é feito movendo totalmente a alavanca que controla a inclinação do encosto, ou seja, quem vai à frente terá de reajustar o banco obrigatoriamente após a operação. Além disso, é desconcertante pensar que se tem de desembolsar mais R$ 15 mil para contar com o mínimo de conforto (incluindo aí o "mimo" de não ter de colocar a mão no espelho externo para ajustá-lo, mas sim movê-lo com um alavanca) e segurança a bordo. A conclusão final: este é o preço (ainda) pago por quem é menor que os outros.
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