terça-feira, 7 de junho de 2011

JAC muda conceitos e concorrência que se vire

Quando o Luís Perez invadiu meu e-mail para dizer que um "chinês do Faustão" esperava por mim no Jaguaré, não quis dar muita trela. Mais uma boutade (boutade quem faz é intelectual tipo FHC, desculpem-me), mais uma pegadinha do jornalista que vi ainda imberbe deixar Pirituba para reinar na internet, no Twitter, no Facebook, no que-há-de-vir. Mas, gato escaldado, fui ao Google e logo então vi surgir diante de mim a foto de um automóvel que, se posso dizer, ficava bem na foto, até mesmo contracenando com as camisas inacreditáveis do apresentador.


A foto era do chinês do Faustão em sua versão sedã, o JAC J3 Turin, se é que alguém vai conseguir memorizar esse código de batalha naval acoplado a uma cidade italiana. Então entendi o recado do Perez, peguei o trem da CPTM e fui buscar o bicho lá entre o Ceasa e o Cadeião de Pinheiros. Primeira surpresa: os escritórios da JAC são compartilhados com os de concessionárias Citroën, e lá trabalha gente que não acaba mais. Segunda surpresa: o chinês é muito bom de dirigir.Se você está com pressa, eu já respondo: compra. Não espera mais. Pega. Por 40 paus, meu velho, ABS, airbag, ar-condicionado, entrada para iPod e sobretudo seis anos de garantia, até se fosse um che, digo, uma charrete. A JAC veio para estabelecer um novo paradigma de preço, e a concorrência que se vire. Mas tem mais: o carro é bom.

É econômico. Rodei pouco, cerca de 200 quilômetros, mas o indicador não saía do "F". Demoraria uma cara para atingir o meio do reservatório. O motor 1.4 não é aquela maravilha nas subidas, mas parece resolver bem. Fico devendo uma ultrapassagem sobre um treminhão de cana na BR-116 para um veredicto mais manteúdo. Fica a dica para o editor.

Você já deve ter lido que o J3 tem sensor de ré etc., mas isso, até me provem o contrário, é perfumaria que mesmo um chinês e seu pragmatismo sem dó pode se dar ao luxo. O conjunto todo passa no teste: suspensão macia, engates de câmbio sem susto, bom torque.

Também conforto e espaço por dentro. Os especialistas dizem que o porta-malas é um dos maiores da categoria, mas ele não conseguiu dar conta da bagagem que levamos um dia a Alphaville, digna de descobridores da nascente do Nilo.

JAC J3 Turin - foto Divulgação

JAC J3 Turin - foto Divulgação
No alto, silhueta do sedã; acima, design contemporâneo do interior

Notas sobre estética: A) Peguei um carro vermelho (as fotos não ficaram à altura das que ilustram esta avaliação...), o que já cativou minhas duas filhas (uma de 3 e outra de 6) de cara; B) O design do chinês, externamente, não é nada daquilo que imaginava, tipo Lada, Skoda, enfim, algo que lembrasse um carro produzido na Albânia na década de 60. Ele está totalmente alinhado com o que chega por aqui: faróis arredondados e agressivos, traseira que lembra um Corolla (exceto pelo a assinatura no canto direito, horrenda). Na versão hatch, a semelhança com o Sandero é notável.

Internamente é que o design algo retrô do painel deixa a desejar. De dia as luzes fortes que parecem de néon dão um toque Nestor Pestana à parada; o velocímetro, que engloba o conta-giros, peca por não ter as, digamos assim, velocidades ímpares: 30, 50, 70, 90, 110 km/h. Só há um traço um pouco mais gordo. Foi difícil encontrar os 50 km/h e justamente quando o radar se aproximava...

Por alguma razão, o velocímetro redondo me lembrou o painel do Charger RT que meu pai tinha nos anos 70. A luz que acende quando são abertas as portas dianteiras, por outro lado, é um flashback sem escalas ou conexões do Corcel 2 e do Del Rey.

JAC J3 Turin - foto Paulo Crispiniano
Luz de proteção das portas: eficiente, mas retrô

Perez já comentou sobre os comandos pouco intuitivos dos retrovisores elétricos, que ficam no braço do motorista (leia aqui). Não os achei tão pouco intuitivo, para usar a palavra que o sujeito usou. Acho apenas que a regulagem está muito distante da direção, o que gera um certo desconforto na hora do acionamento.

Segundo as estranhas leis da internet e do meu patrãozinho, meu espaço nesta tela branca já acabou há dez parágrafos. Então, se tenho de encerrar e fazer um comentário sobre o carro, fiquem com as minhas últimas palavras: Demorô, mano.

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