Um anúncio disponível em dois sites de classificados mostra um apartamento de 70 metros quadrados disponível para locação na Liberdade, no Centro da capital. Todo mobiliado, com dois quartos, cozinha equipada e varanda, o imóvel chama a atenção pelo preço, abaixo da média do mercado. Custa R$ 820, incluindo condomínio e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Um excelente negócio, não fosse o fato de ser um golpe comum na Europa que agora faz vítimas no Brasil.
Funciona assim: o golpista responde ao anúncio por e-mail e em inglês. Se apresenta como engenheiro e diz estar morando fora do País, porque a empresa para a qual trabalha ganhou um edital para a construção de um prédio em Londres (Inglaterra). Para que o negócio seja concretizado, pede para o interessado fazer uma transferência internacional, geralmente pelo site MoneyBookers, que permite o envio e recebimento de dinheiro entre países. O valor a ser depositado corresponde a um mês de aluguel mais R$ 1 mil como uma espécie de seguro-fiança. Após o envio do valor, a mesma empresa faria a entrega da chave e do contrato para, só então, o interessado conhecer in loco o apartamento. Mas a chave nunca será enviada e o dinheiro tampouco devolvido.
Interessada no imóvel da Liberdade, a jornalista Bruna Maia, de 24 anos, estranhou ao perceber que, durante a troca de e-mails, a locatária, identificada como Angela Stewart, se recusava a informar o número do apartamento oferecido para locação na Rua Oliveira Peixoto. Decidiu ir até o endereço conferir a veracidade da história e foi então que descobriu o golpe. “Ninguém conhecia essa pessoa e não havia nenhum apartamento para alugar no local”, conta. No próprio site Moneybookers há um aviso sobre os golpes mais comuns, incluindo o do imóvel com aluguel barato.
Armadilha. A reportagem localizou um outro anúncio semelhante, tendo como endereço a Rua Piauí, no bairro da Consolação, região central. Uma pessoa identificada como Patricia Wilfong respondeu ao e-mail de interesse no imóvel com uma mensagem idêntica à recebida por Bruna. A reportagem solicitou um número de telefone para entrar em contato com Patricia e o número do apartamento disponível para locação, mas recebeu apenas uma resposta padrão sobre como efetuar o depósito do valor do aluguel.
No endereço informado, o porteiro, que não quis se identificar, logo avisou que se tratava de um golpe. “Faz um mês que todo dia aparece gente procurando esse apartamento, mas ele não existe. ” No prédio, de alto padrão, não há apartamento para alugar.
Para evitar cair em golpes como esse, o diretor de locações da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), Carlos Samuel Freitas, diz que o interessado deve buscar referências do anunciante antes de fechar negócio. “É sempre melhor tratar desse assunto com uma empresa do que com um contato particular, que é incerto”, diz. Por meio do Conselho Regional de Imóveis (Creci), que fiscaliza as imobiliárias, é possível descobrir se a empresa é idônea.
Outra orientação é visitar o local para conferir se o anúncio é verídico. Síndicos e porteiros podem dar referências do locador e nenhum valor deve ser pago antes da análise e assinatura do contrato. “Não se pode alugar um imóvel sem conhecê-lo”, diz o diretor de legislação do inquilinato do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP) Jaques Bushatsky. A polícia indica à pessoa lesada que procure a delegacia mais próxima com os e-mails trocados e o comprovante do depósito para registro de Boletim de Ocorrência. Já a tentativa de estelionato pode ser denunciada no telefone 181, o Disque-Denúncia.
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