Aspecto até certo ponto confuso do novo regime automotivo, em vigor entre 2013 e 2017, é o estímulo às inovações tecnológicas (leia mais sobre o novo conjunto de regras do setor aqui).
De fato, trazer as conquistas já conhecidas no exterior aos carros aqui
produzidos só merece apoio. As barreiras para esse fim são amplamente
conhecidas: baixo poder aquisitivo dos compradores e alto preço desses
equipamentos, em geral absorvidos em escalas de produção bem maiores nos
países centrais de três continentes.
Além disso, cerca de 70% das vendas no mercado brasileiro se concentram
em carros compactos e seus derivados que, por razões óbvias, são os
últimos, em qualquer lugar do mundo, a receber as conquistas técnicas de
segurança, conforto e utilidade.
Portanto, é bom não esperar milagres. Mesmo porque o estímulo chegará na forma de redução de apenas dois pontos percentuais no IPI.
Os fabricantes serão incentivados a ampliar seus investimentos em
pesquisa e desenvolvimento. Porém, o grande desafio está em adaptar o
conhecimento existente no exterior às condições de uso no Brasil e, mais
importante, ao bolso dos compradores. Como também não havia nenhum tipo
de apoio fiscal, esse objetivo ficava cada vez mais distante, em
especial no campo da eletrônica e informática de bordo.
Faltam também coerência e continuidade nas políticas governamentais.
Afinal, de um mandato presidencial para outro as prioridades mudam. A
justificativa para adoção em massa de motores flexíveis, por exemplo,
foi a volta do uso do etanol em larga escala e a segurança (econômica)
ao motorista em eventual escassez de combustível ou subida de preço
temporária. No entanto, não se resolveu o impasse crucial nas bombas dos
postos: a gasolina tem preço congelado; o etanol, ao deus-dará.
-
Na imagem, linha de produção do motor EC5 Flex, de 1,6 litro e 122 cavalos com etanol, da PSA
Talvez os fabricantes utilizem a especialização desenvolvida ao longo
dos últimos anos para melhorar a tecnologia dos motores flexíveis e se
creditar à diminuição do IPI. À exceção recente de motores de 1,6 litro
da PSA Peugeot Citroën e apenas um modelo da Volkswagen, até hoje
continua desprezada a partida a frio aquecida eletricamente apenas com
etanol.
Esse é apenas um exemplo simples do atraso da indústria. A solução, todavia, tardou tanto que pode ficar superada. Basta os fabricantes resolverem investir em sistema de injeção direta de combustível, que vai bem com gasolina e ainda melhor com etanol, em termos de consumo e desempenho.
Esse é apenas um exemplo simples do atraso da indústria. A solução, todavia, tardou tanto que pode ficar superada. Basta os fabricantes resolverem investir em sistema de injeção direta de combustível, que vai bem com gasolina e ainda melhor com etanol, em termos de consumo e desempenho.
Não se pode assegurar de que tudo isso ocorrerá sem resolver o impasse
do custo por quilômetro rodado por um e outro combustível. Ou, então, se
mudar a taxação sobre emissões, como ocorre na Europa, onde a produção
de gás carbônico (CO2) tem impacto direto sobre o preço final dos
veículos.
O Inmetro, responsável pelo programa de etiquetagem veicular que
classifica os carros em termos de consumo de combustível, prepara nova
tabela que incluirá informações sobre CO2. A novidade é o índice
corrigido, corretamente, pelo ciclo fechado: da produção à ponta de
escapamento dos motores. Nesse caso combustíveis fósseis ficam mal na
fotografia e abrem espaço para biocombustíveis, caso do etanol de cana.
Se o governo vai mexer nesse vespeiro, afinar seu discurso dúbio,
inconsistente sobre meio ambiente e criar taxação sobre CO2 é algo de
que ninguém tem a menor ideia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário