Construtoras respondem hoje por 65% do PIB do setor e a autoconstrução, que sempre foi a maior parte, representa 35%, revela Sinduscon-SP
O tradicional hábito do brasileiro de fazer um "puxadinho", isto é, acrescentar cômodos à casa baseado na autoconstrução, está perdendo força. Um estudo do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) revela que as empresas formais, as construtoras, respondem hoje por 65% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor, enquanto a autoconstrução, que sempre foi a maior fatia, representa 35%.
Em 2003, as proporções eram invertidas. As construtoras detinham 44% do PIB do setor e a autoconstrução, que sustentava o consumo "formiga" de materiais, era maioria, com mais da metade (56%) da produção da construção. "Hoje a maior parte do PIB da construção está nas empresas formais, pequenas ou grandes", afirma a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV e responsável pelo estudo.
Ela explica que o trabalho foi feito com base nos dados do PIB da construção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que incluem obras de infraestrutura, investimentos da indústria, do comércio e habitação. "Mas o grande impulso para essa mudança de perfil do PIB da construção veio das moradias das famílias, porque a outra parte (obras de infraestrutura) sempre foi formal", observa a economista. O segmento de habitação inclui tanto as moradias feitas dentro programa habitacional do governo, Minha Casa, Minha Vida, como aquelas que não contam com esse subsídio.
Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP, aponta a oferta de crédito para aquisição da casa própria como o fator que desencadeou essa inversão entre a parcela das empresas formais e da autoconstrução. "Antes não havia financiamento e as famílias tinham de fazer a casa por conta própria."
No ano passado, o crédito imobiliário atingiu a maior marca da história. Entre recursos da caderneta de poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) foram emprestados R$114,1 bilhões para a habitação, com crescimento de 36% em relação a 2010. A maior parte dos financiamentos foi bancada com dinheiro da caderneta de poupança (R$ 79,9 bilhões), que teve acréscimo 42% ante 2010, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
"Para este ano, esperamos um crescimento de 30% nas cifras financiadas com recursos da poupança", prevê o presidente da Abecip, Octávio de Lazari Junior. Em 2011, a fatia do crédito imobiliário no PIB total do País foi de 4,7% e a perspectiva é de que essa participação atinja 6% em 2012 e chegue a 10% em 2014.
Ele observa que as instituições financeiras traçam um cenário favorável para o crédito. A taxa de desemprego no menor nível da série histórica, o crescimento da renda e o déficit habitacional de mais de 8 milhões de moradias criam um quadro seguro para os bancos emprestarem. Aliás, o crédito imobiliário encerrou 2010 com a menor inadimplência em nove anos (2%).
As condições dos financiamentos imobiliários refletem esse quadro favorável. Lazari Junior ressalta que dez anos atrás o prazo máximo dos empréstimos era de 15 anos e hoje está em 30 anos. Além disso, a taxa de juros, que era de 12% ao ano mais a variação da TR (Taxa Referencial), caiu para 10% mais TR. "Com mais crédito, renda e segurança no emprego, as pessoas procuram um lugar melhor para morar."
Materiais. As construtoras e a indústria de materiais de construção confirma a mudança de perfil da construção civil. "Antes, dois terços do materiais de construção produzidos pelas indústrias eram vendidos para o varejo e um terço para as construtoras. Hoje essas proporções são de 60% e 40%, respectivamente", diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção, Walter Cover. Ele enfatiza que o forte incremento da demanda por materiais de construção para cumprir programa habitacional do governo também contribuiu para a mudança de perfil do setor.
"Crédito farto e juros em queda provocaram essa mudança entre a formalidade e a informalidade na construção", afirma Roberto Gerab, diretor da construtota Kallas. Nos últimos tempos a empresa, que atua do mercado de imóveis superluxuosos e moradias do Minha Casa, Minha Vida, registra um ritmo de vendas de apartamentos de dois dormitórios, no valor de até R$ 350 mil, que é o dobro ou o triplo dos imóveis mais caros.
Na Tenda, braço da Gafisa para o segmento popular, a diretora Daniela Ferrari diz que não tem informações se quem está comprando casa antes morava com muitas pessoas da família. "Não questionamos se teve moradia de coabitação." Mas ela diz que a expansão do crédito e a aceleração do subsídio dado pelo programa habitacional do governo impulsionaram as vendas de imóveis populares. "Eles percebem que na autoconstrução não usufruiriam do desconto dado pelo Minha Casa, Minha Vida."
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