O ritmo da sociedade atual é refletido a cada dia no jornalismo. Há, no fundo, uma discussão de se o jornalismo e a mídia como um todo contribuem para tal ritmo ou se apenas refletem a pressa diária de parcela significativa da sociedade ocidental, industrial, contemporânea e capitalista.
O espaço de consumo, pelo qual a mídia deu e dá enorme contribuição ao fazer circular mensagens, produtos, informações e opiniões instantâneos, gera um ritmo intenso e praticamente estressante para o acompanhamento do noticiário e “daquilo que se passa”. O jornalismo fast food, bastante acusado de fazer fatos e opiniões perecerem sem serem digeridos ou contextualizados, não foge à regra geral da sociedade.
Da mesma forma, o crescimento de cesarianas, em lugar do parto normal, decorre da incapacidade e da falta de interesse em seguir os padrões mais recomendados para o nascimento, que leva certo número de horas. Ao invés de acompanhar sete ou oito horas um trabalho de parto, grande parte dos médicos decide que a cesárea pode ser mais “interessante” ou “necessária”. Assim, durante oito horas, um tempo razoável para um parto normal, podem fazer várias cesáreas e, ainda, dar consulta etc.
Sem desligar
Medicamentos fast food; carros que permitem andar a 200 km/hora em estradas que proíbem isso; processos judiciais a cada segundo sem que qualquer juiz consiga decidir algo em menos de muito tempo são sintomas de uma sociedade que, competitiva, conflituada e individualista, aponta que no futuro está a liberdade, a justiça, a felicidade, a realização pessoal e profissional. Enfim, é lá…e para chegar lá é preciso andar mais depressa.
A pressa está até mesmo no “templo da pesquisa e do pensamento”, a universidade, que cada vez exige mais produção, sem que os analistas e pareceristas tenham condição de se debruçar atentamente sobre todos os aspectos de cada produção... Mas se não for assim, a universidade, o país... os países nunca chegarão lá, lá mesmo, no futuro, onde está a liberdade, a justiça, a realização pessoal e profissional.
Ao tentar acompanhar o desdobramento diário da humanidade, a mídia e o jornalismo, em seu interior, tentam acompanhar algo que é uma contínua e quase imediata expulsão... de um artigo sobre outro, de uma notícia sobre outra, de uma opinião sobre outra. Ainda que haja certa controvérsia e contexto em vários momentos, os momentos não podem esperar o aprofundamento demasiado de qualquer coisa.
O entendimento de que assim tem de ser feito não responde muito a pergunta se “podemos saber o que se passa”. A deficiência informacional de qualquer mídia gera uma necessidade de se criar mídias próprias em instituições públicas e privadas, categorias profissionais e empresariais e mesmo por meio de cada indivíduo que cria seu blog, que está no Facebook, que tuíta a cada 30 minutos ou que não consegue desligar jamais o celular.
Sem volta
Tal panorama tem resultado em pesquisas que mostram, apenas uma década depois de entrarmos no século 21, níveis de estresse e de esgotamento em muitas categorias, segmentos e indivíduos. Uma pergunta, a qual testam os movimentos do slow journalism, da comida lenta, do convívio mais denso e, portanto, mais vagaroso entre amigos, colegas e parentes, ronda todo o tempo: é possível fazer diferente sem comprometer o futuro, lá onde está a liberdade, a justiça, a realização pessoal ou profissional?
Ou lá onde está tudo isso é apenas a constatação de que o velho conceito de alienação aposta que jogar tudo agora para chegar lá depois resulta apenas num ritmo atual que beneficiará sempre poucos? E que prejudicará a vida de grande parte das pessoas que habitam o planeta e usam sua vida para viabilizar a das demais, sem que o seu futuro esteja garantido? Mas que garante, claro, o futuro das demais.
Esperar que a mídia tradicional vá tratar do tema seria demasiado porque está no centro do furacão e dele pode se beneficiar para que atinja outros lugares e não a si. Mas novas mídias, mídias próprias, poderiam debater para onde estamos indo com mais propriedade e densidade. É também para isso que o novo cenário, tão intenso cenário do ciberjornalismo ou do ciberespaço, pode contribuir: o novo cenário deve contribuir, exclusivamente e sem volta, para o jogo da aceleração ou a virtualidade pode beneficiar a qualidade de vida, de informações, de convívio e, claro, de futuro?
Por Francisco José Castilhos Karam - reproduzido do Observatório da Imprensa
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