Ex-piloto fala sobre como capitaliza sua imagem no mundo do marketing
Emerson Fittipaldi não foi apenas o piloto que abriu as portas da Fórmula 1 para os outros brasileiros, mas também um dos primeiros esportistas do País a capitalizar sua imagem no mundo do marketing. Hoje com 65 anos é um dos mais atuantes garotos propaganda, tendo protagonizado campanhas em todo mundo com direito a uma curiosa quebra de protocolo nos seus tempos de Fórmula Indy nos anos 1990. Fittipaldi falou à reportagem do Meio & Mensagem sobre diversos temas, incluindo sua recente associação ao McCann Worldgroup para lançamento da agência de marketing esportivo Momentum Sports (leia mais aqui).
- Meio & Mensagem ›› O que mais o atraiu no projeto da Momentum Sports?
- Emerson Fittipaldi ›› Aprendi no esporte que nada se faz sozinho, é preciso ter parceiros competentes e confiáveis para se conquistar alguma coisa. Esse convite do Marcos Lacerda (presidente da Momentum) e do Washington Olivetto (chairman da WMcCann) para fazer parte do projeto Momentum Sports me agradou justamente porque será uma união de especialidades. O Washington sendo um dos maiores criativos do mundo; o Marcos, um dos maiores especialistas do mercado promocional; e eu com a minha experiência internacional no mundo dos esportes, com muita vivência no mundo do marketing por conta dos executivos com quem tive a oportunidade de desenvolver projetos. O automobilismo se tornou hoje um dos campos mais desejados pelos patrocinadores e também pelas montadoras para todo tipo de ativação.
- M&M ›› Quando você descobriu sua vocação para os negócios?
- Fittipaldi ›› Quando eu tinha 15 anos, o meu irmão Wilson trouxe para o Brasil um volante de Fórmula 1 feito de couro. Fiz um à mão para o carro de minha mãe. Um amigo meu gostou e encomendou um para ele. Assim, comecei a vender volantes que patenteei como Fórmula 1 e passei a juntar um dinheiro que me ajudou a começar a correr, já que eu não tinha o chamado “paitrocínio”, ainda que tenha começado no automobilismo por causa do meu pai e tenha tido todo o seu apoio. Depois, eu e o Wilson começamos a fabricar mini karts. Isso me ajudou a começar a carreira de piloto na Europa. Meus dois primeiros patrocinadores foram Bardal e Varga.
- M&M ›› Você também protagonizou na carreira algumas ações de merchadising que quebraram paradigmas e tradições, como beber suco de laranja no podium das 500 Milhas de Indianápolis, em vez do tradicional leite. Como foi isso?
- Fittipaldi ›› Isso foi em 1992 quando fiz um acordo com a Cutrale para que sempre que eu vencesse uma prova comemorasse bebendo suco de laranja brasileiro em vez do tradicional champagne. Apesar do acordo promover o suco brasileiro, algo que também me interessa pois tenho fazenda desde 1978 e sou fornecedor da Cutrale, os produtores norte-americanos adoraram a ação, pois as fotos da imprensa não deixavam isso claro. O primeiro que ganhei naquele ano foi na Austrália, no circuito de rua em Surfers Paradise, e a minha nova comemoração teve grande repercussão na mídia mundial. Mas quando chegou em Indianápolis, a tradição mandava beber leite, por conta de um acordo com todos produtores da região. Quando venci a prova pedi para minha equipe trazer o suco de laranja e essa foto acabou rodando o mundo inteiro, apesar de eu também ter bebido o leite depois. Mas o que a imprensa registrou foi o suco de laranja e eu acabei perdendo os US$ 30 mil de prêmio oferecido pelos produtores de leite. Foi o copo de leite mais caro da minha vida.
- M&M ›› Quais são seus cuidados para escolher as campanhas de que participa?
- Fittipaldi ›› Sempre fui muito seletivo em relação a todas as empresas com que me envolvi. A imagem de um ídolo deve ser tratada com muita responsabilidade quando se promove um produto, pois isso cria expectativa no público. É um desastre quando não acontecesse essa entrega. Desisti de promover uma marca de roupas nos anos 70 quando descobri que a qualidade não era boa. Quando as baterias Moura me procuraram há 25 anos para a primeira campanha, ninguém conhecia a marca. Antes de aceitar fui até a fábrica em Belo Jardim, no interior de Pernambuco, para conhecer o produto e seus donos, um casal de engenheiros químicos, Edson e Elisa Moura. Hoje a marca é líder de mercado e maior fornecedor de baterias para todas as montadoras no País.
- M&M ›› Esse cuidado também te inspirou na escolha de equipes e patrocinadores na carreira de piloto?
- Fittipaldi ›› Quando eu estava na Lotus, fui procurado pela Phillip Morris que me ofereceu não apenas um contrato de patrocínio mas também a possibilidade de escolher em que equipe eu queria correr. Naquela época a marca estava com a BRM, equipe inglesa de F1 que não vivia um bom momento. Podia escolher entre Tyrell, Brabham e McLaren, que eram as três principais. Optei pela McLaren e naquele primeiro ano (1974), ganhei meu segundo mundial. Foi a primeira vez que um carro com as cores de Marlboro foi campeão na F1. Nos anos 90, convenci a Phillip Morris a entrar na Fórmula Indy e também fomos campeões em nosso primeiro ano (1992) com a Penske. Hoje existe uma expectativa muito alta com o meu neto de 14 anos que corre na Nascar nos EUA, tanto que tenho o empresário Fernando Paiva cuidando de sua carreira.
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