Ganho líquido subiu 40% entre as 15 companhias de melhor desempenho, sem, contudo, refletir no valor de mercado.
Os sinais, ainda não tão claros, de desaceleração econômica mundial passaram a largo das grandes companhias brasileiras ao longo do primeiro semestre deste ano.
Estudo encomendado pelo Brasil Econômico à consultoria Economatica mostra aumento de quase 40% no lucro líquido total das empresas com maiores lucros entre as listadas na BM&FBovespa.
O montante passou de R$ 59,7 bilhões de janeiro a junho do ano passado para R$ 83,3 bilhões registrados em igual período deste ano.
Sem surpresas, as oito primeiras posições permaneceram inalteradas no ranking entre 2010 e 2011: Petrobras, Vale, Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco, Santander, Ambev e Itaúsa, nesta ordem.
Entretanto, houve mudanças do 9º ao 15º lugar, com perda de espaço de Eletrobras, Telemar e Braskem, e avanço de Cemig, Cosan e Brasil Foods.
"O ambiente econômico mundial mudou para as companhias que têm o mercado externo como principal alvo e isso contribui para a perda de posições importantes em um futuro próximo", diz Gilberto Caetano, professor do departamento de administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
A Vale, por exemplo, apresentou avanço de 126,3% no lucro líquido entre o primeiro semestre de 2010 e os seis primeiros meses deste ano, sustentada, principalmente, pela evolução nas vendas de minério de ferro e pelotas à Ásia - juntos, os ativos representam 72,3% da receita bruta total da companhia.
"Se a China reduzir a demanda por minério de ferro, a Vale será fortemente impactada", afirma o professor da PUC-SP. As siderúrgicas brasileiras, que figuram na lista das 15 maiores empresas de capital aberto por lucro líquido, também sentiram os efeitos de um possível agravamento da crise mundial.
Em contrapartida, duas empresas mais voltadas ao mercado interno, Cosan e Brasil Foods, ganharam terreno no último semestre.
"Os alimentos subiram consideravelmente nos últimos meses. A alta não só favorece diretamente as companhias, como também aumenta o preço dos produtos importados, permitindo que empresas locais elevem seus preços", explica Samy Dana, professor da escola de economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP).
Além da demanda crescente, o cenário inflacionário foi agravado, sobretudo, pelos conflitos no Oriente Médio e norte da África, que culminaram na forte valorização do preço do barril de petróleo.
Cenário
Se por um lado a inflação preocupava, por outro a economia mundial dava sinais de desaceleração, potencializados pelo terremoto no Japão - que levantou ainda mais dúvida quanto à capacidade de crescimento econômico do país asiático - e pelo rebaixamento da nota soberana dos Estados Unidos pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P).
"Ainda não sabemos os desdobramentos do atual cenário econômico mundial. Acredito que seja só o preâmbulo. De qualquer forma, só teremos novidades no retorno das férias do hemisfério norte, em setembro", diz Ricardo Torres, professor de finanças da Brazilian Business School (BBS).
Para ele, diante de um agravamento do atual cenário, o Brasil tende a se sair melhor dada a força do mercado doméstico. "O mercado de trabalho está ajustado. Os brasileiros são pouco alavancados e gostam de consumir. Isso difere o Brasil dos demais países", ressalta, lembrando que as empresas nacionais também tendem a se beneficiar.
"Dependendo do perfil da companhia, é possível compensar a retração da demanda externa pelo aumento do mercado doméstico", afirma Torres, da BBS.
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