Fabricantes como a Lafarge estão interessadas em aproveitar resíduos como substituto de combustível nos fornos; iniciativa começou no município de Cantagalo.
A prática é antiga e bastante conhecida: em 2009, a indústria brasileira de cimento destruiu 950 mil toneladas de resíduos nos fornos de suas fábricas mais modernas. Desse total, 52% eram resíduos com poder calorífico e puderam ser aproveitados parcialmente como substitutos do combustível que transforma calcário e argila em clínquer, a matéria-prima do cimento.
A novidade do coprocessamento, como é chamada essa tecnologia, é que, agora, a indústria cimenteira se prepara para utilizar resíduos do lixo urbano com essa finalidade, enquanto antes se limitava a buscar apenas pneus inservíveis, ceras e resíduos oleosos, entre outros materiais. A iniciativa partiu da Lafarge, que aproveita na sua fábrica, no município fluminense de Cantagalo, o lixo urbano como fonte de energia.
O processo é simples: após a coleta seletiva, os resíduos sólidos inertes, como são chamados aqueles que restam após a parte orgânica ser destinada à compostagem, são triturados e separados como combustível dos fornos. Em geral, qualquer tipo de lixo, menos os considerados perigosos, como lixo hospitalar, podem ser utilizados.
Potencial de expansão
Segundo Francisco Leme, diretor da EcoProcessa, empresa criada pela Lafarge especialmente para gerir os resíduos para coprocessamento, 20% das 250 toneladas de lixo descartadas no município são aproveitadas na produção da fábrica. Outros 30% são materiais recicláveis, como embalagens plásticas, vidros e papelão.
Os 50% restantes correspondem a materiais orgânicos, como restos de alimentos, transformados em adubo e distribuídos gratuitamente a produtores rurais, além de contribuir para a recuperação de praças e jardins.
"Os estudos para expandir o projeto para outros municípios estão em fase de avaliação", afirma Leme. "Estamos prontos para ampliar essa iniciativa para as prefeituras interessadas."
O estado onde as conversas entre as cimenteiras e as prefeituras estão mais adiantadas é Minas Gerais, não por acaso, o maior produtor, respondendo por 25% do total do cimento brasileiro. A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) de Minas firmou um termo de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) para ampliar a destinação dos resíduos. Um dos projetos envolve a fábrica da Votorantim no município de Itaú de Minas, como alternativa à destinação dos resíduos urbanos da região.
Segundo o gerente de relações institucionais da ABCP, Mário William Esper, a proposta é também reduzir a emissão de metano que ocorreria se esses resíduos fossem dispostos em lixões ou aterros e a substituição de combustíveis fósseis com a eliminação das emissões de gases que provocam o efeito estufa.
O acordo prevê ainda o desenvolvimento de projeto para obtenção de créditos de carbono, com a redução das emissões. "O coprocessamento, além de dar uma destinação adequada aos rejeitos, permite reduzir o uso do petróleo e do carvão mineral", afirma.
Além de aproveitar lixo urbano, a Lafarge abriga estações de reciclagem de pneus em Matozinhos (MG) e Nova Iguaçu (RJ), recebendo pneus dos municípios vizinhos, sob acordo com as prefeituras. Cada estação tem capacidade para triturar 10 toneladas por hora. Os pedaços de borracha são aproveitados nas fábricas de Cantagalo, além de Arcos e Matozinhos. As cinzas são incorporadas ao processo produtivo.
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