segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Mulheres movimentam R$ 741 bilhões

Pesquisa do Data Popular apresenta avanço da classe média feminina



O 1º seminário “Mulheres reais que transformam”, realizado na semana passada pela jornalista Ana Paula Padrão e a empresária Tatianna Oliva, da Cross Networking — com o patrocínio de Dove e apoio de Amil, Activia, Casas Bahia, Sebrae e C&A —, reuniu personalidades para discutir o papel da mulher na sociedade, direitos humanos, igualdade social e cultural das mulheres no mundo. Entre os participantes estiveram a africana prêmio Nobel da Paz em 2011 Leymah Gbowee e o conselheiro da Casa Branca Tony Porter, cofundador da entidade que combate agressões contra mulheres e crianças “A Call to Men”. Também estiveram presentes a presidente da Petrobras, Graça Foster; a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; e Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular, que apresentou os primeiros resultados de um estudo realizado com o apoio da C&A e das Casas Bahia sobre “a nova mulher brasileira”. Foram ouvidas 1.300 brasileiras, de 44 cidades.
Meirelles já conduziu mais de 200 pesquisas sobre o comportamento do consumidor de baixa renda no Brasil. Segundo ele, as mulheres movimentam hoje no Brasil R$ 741 bilhões por ano. “Em 20 anos, a classe média feminina saltou de 33% para 52%. A mulher é a verdadeira protagonista de todas as mudanças sociais que estão ocorrendo no país. As mais jovens, em especial, estão impulsionando as mudanças”, disse, chamando a atenção para o fato de que a mulher comandou, por exemplo, a redução drástica do número filhos ao longo das últimas duas décadas. Por escolha dela e certamente a dificuldade de conciliar trabalho e família, a média de filhos caiu de 6,3 filhos há 40 anos para os números atuais: 1,7 filhos. Enquanto isso, a média de anos de estudo subiu de 1,8 anos para oito anos.
Nos últimos anos, cresceu 157% o volume de mulheres trabalhando, número cinco vezes maior do que a população. Como consequência, a renda das mulheres vem aumentando em proporções maiores que a dos homens: nos últimos dez anos, cresceu 62%, enquanto a dos homens, 39%. “Hoje 62% das mulheres acreditam que elas devem ser independentes financeiramente e duas em cada três contribuem com a renda familiar. Outro dado interessante é que 81% delas gostariam de mudar de emprego”, destaca Meirelles.
Por outro lado, mostra a dicotomia na vida dessa geração de jovens mulheres no mercado de trabalho, já que 59% delas acreditam que ser feliz é constituir uma família, 75% se sentem culpadas por dedicar pouco tempo aos filhos — e 89% ainda são as responsáveis pelas tarefas domésticas, além do trabalho fora de casa. De acordo com a pesquisa, as jovens mulheres da classe média esperam dos homens principalmente companheirismo (74%) e cumplicidade (42%). Nove entre cada dez pesquisadas consideram difícil encontrar um parceiro.
Patrocínio
O encontro no Rio de Janeiro foi mais um evento promovido pela marca Dove, que realizou em julho deste ano o fórum “Mulheres reais que inspiram”, em São Paulo. “Não é apenas um patrocínio. Queremos abrir um debate em torno do feminino e da beleza, e fazemos uma série iniciativa em torno do conceito da real beleza, que lançamos há 20 anos”, disse Andrea Salgueiro, vice-presidente de cuidados pessoais da Unilever, referindo-se, por exemplo, às ações da Fundação Dove de Autoestima.
O evento arrancou lágrimas dos participantes, com depoimentos emocionados de Leymah e Toni Porter, por exemplo, duas personalidades engajadas em missões internacionais de combate à violência contra a mulher. “Criamos um ambiente em que temos medo de sermos vistos como afeminados. Temos baixa expectativa em relação às mulheres porque as consideramos, historicamente, inferiores. É preciso ensinar aos nossos garotos, desde cedo, a ter outra visão em relação às meninas. A homofobia é outro problema: é o que mantém os homens imóveis, presos a conceitos antigos”, disse Porter.
Graça Foster confessou que nunca se sentiu discriminada por ser mulher. “Nunca senti peso por ser mulher, mas a curiosidade do outro e da outra. Acho a diversidade algo excepcional, que nos ensina muita coisa. É um bônus que temos no nosso país”, disse a executiva, eleita uma das 20 mulheres mais poderosas do mundo pela revista Forbes. Ela diz que o poder, sozinho, não significa nada e que, para ela, ele vem carregado de uma imensa responsabilidade. “Sou dura no trabalho e cobro muito das pessoas. Mas sou assim porque trabalho muito, estudo e me preparo para a menor das reuniões internas. Poder por poder não se sustenta, não constrói. Estar à frente da Petrobras é um sonho de cidadã brasileira”, concluiu Graça.
Percepção
Após seis anos do primeiro estudo sobre real beleza, em que constatou que apenas 2% das mulheres se sentiam à vontade para se descrever como belas, a marca Dove voltou a campo em uma pesquisa de escala global, “A verdade sobre a beleza”, para mapear o que mudou na percepção delas em relação ao tema, como elas se veem e como isso afeta no comportamento atual.
O estudo ouviu 6.400 mulheres, de 20 países, e detectou que a proporção daquelas que se sentem seguras para se classificar como bela dobrou de 2% para 4%. Brasil e Japão foram os países onde os percentuais mais cresceram, de 6% para 14% e de 0% para 5%, respectivamente, enquanto na Argentina, Rússia, Portugal e Países Baixos o índice retraiu.
A pesquisa indica um paradoxo: apesar de não conseguirem reconhecer sua própria beleza, 80% das mulheres enxergam a beleza nas outras, concordando que toda mulher tem algo que é belo. “Há uma aparente falta de lógica no cerne do relacionamento da mulher com a beleza. Achamos importante ver beleza nas outras, mas muitas vezes deixamos de valorizar a nossa própria”, analisou Susie Orbach, psicanalista inglesa, fundadora do Centro de Terapia da Mulher, conhecida mundialmente por ter tido como paciente a princesa Diana e que ofereceu consultoria à Dove na condução da pesquisa.
O estudo mostrou que a maioria das mulheres admite sentir pressão para ser bela (59%), mas para 32% a maior pressão vem delas mesmas, mais do que qualquer outra fonte, incluindo a sociedade (12%), amigos e família (9%) e a mídia (6%). A psicanalista Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do núcleo de doenças da beleza do Lipis (PUC-Rio), disse durante o debate que a pesquisa aponta claramente que ser bem-sucedida, para a mulher contemporânea, está relacionado a ser vista como bela. “Trata-se de uma contradição do olhar feminino para consigo mesma, uma vez que há o entendimento de que a beleza não se encerra na estética, mas ainda assim a mulher não se sente bela, não se vê como bela”, ressalta.

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