Quanto vale um cupom de US$ 150? Para Matt Sumell, acabou custando um relacionamento e um pouco do orgulho.
Em janeiro de 2011, Sumell comprou no site de promoções LivingSocial um
pernoite em um hotel romântico por US$ 150 (economia de uns 50%).
Planejava usá-lo com sua namorada, só que o relacionamento acabou.
Mas Sumell, escritor de ficção e professor de inglês em Los Angeles, não é de jogar dinheiro fora.
Stuart Isett/The New York Times | ||
Karen Eddinger (centro), sua filha Dorey Miller (esquerda) e seu neto Sebastian visitam o Museu da Criança em Seattle; elas usaram o Groupon para comprar entradas mais baratas |
Então, 11 meses depois, às vésperas de o cupom expirar, ele deixou o bom
senso de lado e convidou uma moça com quem começara a sair um mês
antes.
"Eu falei para ela: 'Vamos lá, vamos dar um passeio, vai ser ótimo'."
Não foi.
"O hotel era em frente a um Hooters [restaurante famoso pelas garçonetes
com decotes], e era na semana dos motociclistas", explicou.
Segundo ele, isso significava que o hotel estava tomado por motos
rosnando e homens de meia-idade usando roupas apertadas de couro.
Ambiente à parte, o pernoite pareceu apressado e desconfortável. "A coisa toda foi bem esquisita", disse ele.
É assim para pessoas cujo lazer é ditado menos pela vontade própria do que pela dominação dos sites de promoções diárias.
A rápida disseminação de serviços on-line --como Groupon, LivingSocial e
Amazon Local-- permitiu que milhões experimentassem restaurantes, aulas
e atividades de lazer que do contrário não poderiam pagar (ou de que
não tomariam conhecimento).
No entanto, eles também estão compelindo algumas dessas pessoas a gastar
tempo com coisas que elas não necessariamente queriam fazer.
Para alguns, trata-se de comer em um restaurante de que a pessoa não gosta.
Para outros, é fazer aulas que prometem que "você consegue aprender salsa", a despeito de toda uma vida de provas em contrário.
Phil Sussman/The New York Times | ||
Kimberly e Stephen Kuhn em um bar de Palm Harbor, na Flórida, encontrado por meio do Groupon; o casal já chegou a usar sete cupons de promoção em um só dia |
Para a corretora imobiliária Karen Eddinger, de Seattle, significou se
matricular em uma aula de culinária, embora ela odeie cozinhar quase com
a mesma intensidade com que odeia assistir aulas. "Realmente não sei
por que eu comprei isso", disse ela.
Recentemente, Eddinger levou seu neto para visitar o Museu das Crianças
de Seattle pela segunda vez desde outubro, não porque ele tenha gostado,
mas porque ela e o ex-marido coincidentemente compraram a mesma
promoção do Groupon.
Cupons não são novidade, e os consumidores há muito tempo tomam decisões erradas na intenção de poupar uns tostões.
Mas os sites de promoções são um passo além, em termos de conveniência
(chegam por e-mail, e as compras são feitas com um clique), economia
(desconto de 50% em estabelecimentos de luxo são comuns) e experiências
(quer voar de asa-delta? Tem um Groupon para isso).
"Uma promoção às vezes parece uma coisa realmente maravilhosa, como se
você tivesse enganado o sistema e conseguido uma vantagem especial",
disse Dan Ariely, autor do livro "Predictably Irrational"
(previsivelmente irracional), sobre como nossas percepções distorcidas
da economia resultam em decisões ruins.
"Por isso, você tem uma sensação extra de realização, pela qual está disposto a pagar em termos de tempo e dinheiro."
Jamie Roo, diretora de marketing em Nova York, viu-se no ano passado
comendo em um restaurante do qual ela e o marido há muito tempo
concluíram que não gostavam, só porque ela não havia resistido a uma
promoção que viu alguns dias antes no site da Amazon. "Nós, de alguma
maneira, convencemo-nos a voltar", disse.
Como era de se esperar, a promoção não tornou a comida mais gostosa. "A moral da história é: não vão só porque é uma promoção."
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