Sérgio Augusto resenhou no caderno “Aliás” do Estado de S. Paulo (1/4) o livro Leak: Why Mark Felt Became Deep Throat (“Vazamento: Por que Mark Felt virou Garganta Profunda”), de Max Holland (ver "Dor de garganta"). A novidade é que o informante de Bob Woodward e Carl Bernstein, que denunciaram o escândalo de Watergate, causa da renúncia do presidente americano Richard Nixon em 1974, não foi movido por sentimentos patrióticos, como ele mesmo, Felt, sugeriu ao quebrar o segredo, em 2005.
Felt, apurou o jornalista Holland, queria era derrubar seu chefe, L. Patrick Gray, o substituto de J. Edgar Hoover na direção do FBI. Ao municiar os jornalistas do Washington Post com informações que demonstravam ao presidente da República descontrole no Bureau, Felt ambicionava ocupar o lugar de Gray. Mas Gray não sobreviveu no cargo à queda de Nixon. E no governo de Gerald Ford (presidente da Câmara dos Deputados que substituiu Nixon, cujo vice, Spiro Agnew, havia sido impedido), Felt não assumiu a chefia do FBI.
O resto
Felt morreu como herói, em 2008. Uma farsa está contida, portanto, numa das coberturas jornalísticas mais importantes do século 20 – a que provavelmente teve efeitos políticos mais devastadores.
Provoca algum desalento saber que as coisas podem ter se passado assim (podem: ninguém garante que o livro de Holland é a última palavra). Mas o fato objeto de apuração existiu tal como relatado pelos repórteres Woodward e Bernstein: a sede do Partido Democrata no edifício Watergate não foi invadida por bandidos comuns, mas por agentes do governo a serviço dos interesses (re)eleitorais do presidente.
Em muitíssimas apurações, sejam jornalísticas ou policiais, as revelações brotam da dissidência, do cálculo, do conflito, eventualmente do arrependimento. O resto passa em silêncio.
Por Mauro Malin
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