Quem viu o filme "Eu Robô" lembra da VIKI, o mega cérebro virtual que comandava os robôs e tomava decisões a favor do homem tirando dele a liberdade por não ser capaz de vivê-la. Todos conhecem os robôs com os quais a ficção científica e as indústrias nos acostumaram. Mas existem alguns robôs invisíveis que poucos conhecem: aqueles da rede que estudam o nosso comportamento e decidem o que mostrar (podemos ver) para nós.
Os robôs que administram as pesquisas no Google, ou aqueles que determinam as notícias que aparecem no seu Facebook são dois exemplos. Se hoje pesquisamos algo no Google o número de informações que recebemos é realmente muito alto e quando temos muita informação é como não ter nenhuma. Gosto de imaginar que seja este o motivo pelo qual o Google começou a desenvolver robôs que permitissem estudar meu padrão de pesquisa e me oferecer informações “relevantes”. Mas será que os robôs sabem o que é realmente relevante para mim? E quando?
Eli Pariser, diretor executivo da MoveOn.org, uma organização sem fins lucrativos afiliada ao partido democrático americano, tem no seu facebook várias amizades com democráticos e algumas também entre os republicanos. Eli comenta, em uma palestra do TED (*), que um dia, acessando seu facebook, descobriu que suas amizades republicanas tinham sumido da página. Os robôs as tinham eliminado autonomamente. A primeira impressão é que os robôs tomaram uma decisão sócio-política por conta do Eli.
Mas a verdade é que estes robôs fizeram apenas aquilo pelos quais foram programados: identificar um padrão de uso e priorizar as informações com base neste padrão. Naturalmente os contatos do Eli com os amigos democráticos eram mais frequentes do que aqueles com os amigos republicanos, portanto os robôs eliminaram os contatos menos acessados.
Sempre segundo Eli, também no Google os robôs agem segundo esta lógica. Mesmo que você não esteja “logado” existem bem 57 elementos que eles consideram para determinar o conteúdo da página de busca que vai aparecer, a partir do computador no qual você está, o tipo de navegador que você usa, e até a sua localização.
Isso significa que a busca não é mais padrão, mas segue um padrão que ela decide na base do uso que nós fazemos da rede.
A Internet está nos mostrando aquilo que ela pensa que nós queremos ver, mas não necessariamente o que nos precisamos ver, afirma Eli. Amazom, Google, Facebook, Yahoo news, entre outros, têm robôs em ação para criar estes filtros em volta de cada um de nós. Estes filtros se reagrupam no que Eli chama de Bolha dos filtros, que é pessoal de cada um nós. Representa o nosso padrão de uso da rede, o nosso universo pessoal e único de informações que vivemos na rede e na base do qual os filtros agem.
O que encontramos na nossa bolha depende de quem somos e do que nos fazemos. Se voltarmos a pensar na quantidade de informações na rede e na necessidade de uma seleção delas, a bolha até que faz sentido.
Mas a questão é que não somos nós a decidir o que deve estar na bolha e, mais importante, não temos conhecimento do que fica fora da bolha. Quem decide isso por nós, são os robôs.
O ideal seria que eles nos proporcionassem um correto equilíbrio entre as informações disponíveis. Mas o problema é que a seleção é feita na base do que clicamos por primeiro e isso pode comprometer este equilíbrio.
O sociólogo Manuel Castells no seu livro a “Galáxia da Internet”, evidencia como o grupo de estudantes de pós-graduação da UCLA que nos anos 60 tiveram um papel decisivo no projeto Arpanet, do qual nasceu a Internet que hoje conhecemos, eram impregnados dos valores de liberdade individual, do pensamento independente e da solidariedade e cooperação com seus pares, todos eles valores que caracterizavam a cultura do campus na década de 1960.
Esta cultura foi sempre uma diretriz importante para Internet. A sensação de ter acesso livre e descontrolado a todas as informações postadas na rede é um dos princípios da mesma rede.
A Internet se contrapôs à transmissão controlada de informações da televisão e da imprensa, transformando o espectador passivo em um ator ativo. Permitiu-nos conectarmos uns com os outros criando uma rede que Pierre Levy define maravilhosamente como o conjunto de milhares de pontos de vistas diferentes. Tudo isso com a certeza (e agora talvez apenas ilusão) do poder da escolha.
O que estamos vendo agora é uma passagem da lógica de informação distribuída da televisão e dos jornais à lógica dos algoritmos destes robôs. Com o agravante que estes robôs não possuem os princípios éticos que inspiraram no bem e no mal os mass media tradicionais.
Sabemos o quão importante é a qualidade da informação para um desenvolvimento social democrático e que a diminuição desta qualidade é diretamente ligada à diminuição da nossa liberdade e à caída da democracia.
Precisamos da rede como ela é. Uma conexão infinita entre almas, e não um universo bolha delimitado por robôs. Precisamos de uma inovação neste sentido. Precisamos de robôs capazes de nos mostrar as regras da filtragem para nós decidirmos quais dos milhares de pontos de vista diferentes que constituem a rede queremos ver.
Outra solução é responder à distribuição horizontal das informações na rede com a criação de pólos verticais de informações administrados por pessoas. Lugares específicos no espaço cibernético onde se encontram informações específicas. Informações selecionadas e publicadas não por robôs na base de uma pesquisa de relevância, mas por pessoas que usam critérios culturais, éticos e profissionais.
Pólos cibernéticos verticais com um capital social que dê crédito às informações publicadas e permita a tranquilidade de uma filtragem efetuada na base de critérios de qualidade da informação, por cibergestores que dominam estas informações.
Por Giuseppe Mosello, fundador da Learnway e criador da Cidade Virtual
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