Em 2009 fez 30 anos desde que Volkswagen comprou 67% das ações da Chrysler do Brasil para se tornar sócia em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, de uma fábrica de carros e caminhões da marca Dodge. O prédio teve anteriormente dois inquilinos: foi fábrica de eletrodomésticos da marca Kelvinator e linha de montagem de carros da francesa Simca-Chambord. Uma placa de bronze no hall de entrada destacava a presença do presidente francês Charles de Gaulle na cerimônia de inauguração.
Vizinha frontal da Chrysler está (até hoje) a grandiosa fábrica de carros Volkswagen. Naqueles tempos, anos 1970, diante do pequeno volume de produção da Dodge, em tom de chacota dizia-se que a marquise do portal de entrada da Chrysler servia de arquibancada para se assistir a uma fábrica de verdade funcionar. O fato é que em 1980 a Volkswagen comprou 100% e, em 1981, criou a Volkswagen Caminhões.
A Volkswagen Caminhões nasceu e deu seus primeiros passos, isso no final dos anos 1970, começo da década de 1980, em meio a um Brasil de muitas debilidades financeiras e econômicas. A marca tinha todos os ingredientes para não dar certo.
Para começo de conversa, Volkswagen nunca havia sido sinônimo de caminhão. A essa debilidade juntava-se o fato de o País atravessar um ambiente econômico profundamente instável e confuso. Com efeito, cercado de inflação corrosiva, o Brasil ainda por cima dependia de forma visceral do petróleo importado.
Os primeiros anos da Volkswagen no ramo de caminhões foram, pois, tremendamente difíceis e dolorosos. Em 1981, a marca estreou com dois caminhões trazendo o símbolo VW, os caras-chatas de 11 e 13 toneladas. Não poderia haver pior momento para a chegada de uma marca sem tradição. O mercado doméstico simplesmente estava desabando.
No entanto, um país dependente de caminhão (e ônibus, um produto que entraria anos mais tarde no portfólio da VW) é capaz até de relevar pecadilhos e dar novas oportunidades para quem quiser aproveitar.
No entanto, um país dependente de caminhão (e ônibus, um produto que entraria anos mais tarde no portfólio da VW) é capaz até de relevar pecadilhos e dar novas oportunidades para quem quiser aproveitar.
E a Volkswagen soube aproveitar. Uma das chances apareceu quando Volkswagen e Ford (que já haviam se associado no Brasil e na Argentina, em 1987) decidiram, em 1990, unir sua produção de caminhões numa fábrica conjunta em São Paulo, pertencente aos ativos da Ford. A solução trouxe redução de custos, mas o casamento se desfez e a Volkswagen, em caminhões, teve uma oportunidade única.
Recomeçar sua vida, sozinha, com uma trajetória recheada de desafios.
Recomeçar sua vida, sozinha, com uma trajetória recheada de desafios.
Nessa ocasião um brilhante e polêmico executivo havia trocado a General Motor pela Volkswagen e buscava um feito de grandes proporções para carimbar seu talento junto aos alemães. O espanhol Jose López de Arriortúa encontrou na operação de caminhões da Volkswagen a chance que buscava. Comandou, em Resende, Rio de Janeiro, todas as etapas da construção de uma fábrica revolucionária, cujo mérito principal foi abrigar debaixo de um mesmo teto fornecedores que também respondem pela montagem dos veículos sob a fiscalização da Volkswagen.
Erguida a fábrica, em tempo recorde, vieram os benefícios de uma unidade pensada para ser produtiva e enxuta. A marca, de 1997 em diante, não tem parado de crescer.
Simplesmente saiu de 15% de participação no mercado de caminhões para mais de 30%. Nessa condição, a marca teve o prazer inarrável de desbancar a liderança da maior fabricante mundial, a Mercedes-Benz, que chegou ao Brasil 25 anos antes, em 1956.
Para sair das brasas do inferno, estagiar no purgatório e viver momentos de glórias celestiais, a Volkswagen, pode-se dizer, contou com a contribuição de profissionais experientes que, despidos do mal da arrogância, souberam dar ouvidos aos subordinados e, principalmente, aos clientes – um caminho óbvio, mas poucas vezes seguido.
Para sair das brasas do inferno, estagiar no purgatório e viver momentos de glórias celestiais, a Volkswagen, pode-se dizer, contou com a contribuição de profissionais experientes que, despidos do mal da arrogância, souberam dar ouvidos aos subordinados e, principalmente, aos clientes – um caminho óbvio, mas poucas vezes seguido.
No capítulo de aprender com os erros, há passagens memoráveis. Uma delas contada por Antônio Dadalti, um dos construtores da marca. Ainda no pátio do prédio da Via Anchieta, no início dos anos 1980, Dadalti contava que reunia a equipe, recrutada em vários concorrentes, para recolher casos vividos.
“Pedia para que eles contassem erros que haviam cometido ou presenciado em suas carreiras”. Terminado o desabafo, eu dizia o seguinte: ‘Vamos errar, certamente, mas não vamos mais cometer os mesmos erros relatados aqui’”.
Outra passagem interessante e que ajuda a explicar a ascensão da Volkswagen Caminhões e Ônibus foi acompanhada por Transporte Moderno no prédio do bairro do Ipiranga (SP), na época em que a Volkswagen ocupou o prédio da Ford, então sua sócia. Na ocasião, início dos anos 1990, a Volkswagen criou um conselho consultivo de duas dezenas de frotistas de ônibus para ouvir deles opiniões sobre como deveria ser concebido o chassi de ônibus da marca. Reconhecidos pela sua importância, os empresários foram utilíssimos e trouxeram contribuições relevantes para as especificações dos produtos.
Nova fase
Se colaboradores pioneiros e empresários parceiros alicerçaram a marca, nomes como o do economista Roberto Cortes ocupam decisivo papel na consolidação da empresa.
Cortes, pós-graduado em finanças e que começou sua carreira na Ford, tem comandado com habilidade a arrancada da desconhecida marca de caminhões VW para a liderança do mercado.
Para Cortes – que desde 2009 acumula a presidência da MAN Latin America e o cargo de membro, na Alemanha, do board do grupo MAN, que em 2008 adquiriu a Volkswagen Caminhões e Ônibus – a prioridade agora é produzir caminhões extrapesados. Eles vão inaugurar os produtos da marca MAN.
A produção começa neste ano. “Com a nova linha, vamos atuar numa faixa que representa a receita mais expressiva do setor de caminhões. Além disso, o segmento dos extrapesados cresce puxado pela expansão da economia”, costuma dizer.
Otimista por natureza, Cortes encontra na atual conjuntura mais fôlego para extravasar confiança. “Alguns fatores como o crescimento da economia em torno de 5% ao ano, continuidade da política de queda da taxa de juros, obras de infraestrutura, ingresso de novos 30 milhões de brasileiros na classe ‘C’, são extremamente favoráveis à expansão do nosso negócio. Mantida a combinação desses fatores positivos, digo que podemos crescer 10% ao ano”, afirma.
Num histórico de vendas internas e externas da MAN-VW vê-se que o volume até 2010 cresceu mais de 20 vezes em relação a 1981. A fase mais áurea de expansão coincide com a entrada em operação de Resende.
Até que ponto o conceito de fábrica operada sob a forma de consórcio modular foi decisiva para esse salto? Cortes responde: “De 1981 a 1996 nosso negócio se apoiou em cima de dois pilares: produto certo e eficiente rede de revendas. A partir da inauguração de Resende, passamos a agregar aos dois pilares existentes uma fábrica moderna e eficiente e, importante, passamos a ter foco exclusivo no negócio de caminhões e ônibus. A partir de 2008, com a chegada da MAN, passamos a ter ainda mais foco no nosso negócio”, assinala.
A fábrica guarda fôlego para abrigar a expansão que se avizinha? “Temos 1 milhão de m2 de terreno e área construída de 120 mil m2. Os fornecedores ficavam todos dentro da fábrica, sob um mesmo teto, realizando trabalhos de submontagem e montagem. A necessidade de expansão levou os fornecedores a terem uma nova área externa para a execução da submontagem. A montagem no modelo de consórcio modular, com a participação dos fornecedores na linha, que é o nosso pulo do gato, continuará sendo feita pelos parceiros.
A MAN permanecerá sem gente própria na produção. Nosso pessoal, como disse, está dedicado à venda, pós-venda, engenharia e qualidade”.
Então, Resende ainda tem muito por crescer? “A fábrica está sendo reestruturada para receber a chegada dos caminhões MAN. O parque da rede de fornecedores que está sendo formado ao lado vai liberar área construída interna para a expansão das novas linhas de produção”, conclui Cortes.
Centro de treinamento reforça capacitação
Com investimento de R$ 5 milhões, o primeiro centro de treinamento da MAN vai capacitar pessoal especializado de sua rede de concessionárias e prover treinamento a motoristas de clientes da marca.
A inauguração das modernas instalações do primeiro Centro de Treinamento da MAN Latin America, localizado em São Bernardo do Campo (SP), coincide com a aproximação da chegada dos veículos com motorização Euro 5 (Proconve P7) em janeiro de 2012 e do lançamento dos caminhões extrapesados MAN.
De acordo com Ricardo Alouche, diretor de vendas, marketing e pós-vendas da empresa, o novo centro dá sustentação ao relacionamento da montadora com o cliente e faz parte da tradição de oferecer um pósvenda diferenciado e aperfeiçoado ao longo de 30 anos desde a fundação da empresa, o que, aliado aos atributos dos veículos Volkswagen, foi o “pontapé inicial para levar a marca à liderança do mercado”.
“A inauguração de nosso Centro de Treinamento é mais uma etapa em nossos planos de crescimento, que irão culminar no lançamento de uma linha completa de caminhões e ônibus Volkswagen totalmente renovada, bem como na chegada dos caminhões MAN. Já demos passos importantes, como as primeiras nomeações de revendas aptas a comercializar e dar assistência a veículos das duas marcas. Muito em breve, traremos novidades em produtos”, explica Ricardo Alouche.
Com uma área de 3.500 metros quadrados, o Centro de Treinamento da MAN é composto por boxes de serviços e salas de aulas para treinamento teórico, um refeitório, um auditório com capacidade para 80 pessoas sentadas, uma biblioteca com literatura técnica para consulta e salas de reuniões para a equipe técnica e visitantes.
Além disso, caminhões e ônibus Volkswagen e MAN estarão expostos em uma área especialmente criada para este fim.
A programação visual dos prédios inclui uma Linha do Tempo da MAN Latin America, cuja história de 30 anos pode ser acompanhada pelo visitante nas paredes da área de boxes. Juntamente com treinamentos e capacitação, o novo centro será usado para lançamentos de produtos, apresentações especiais, demonstrações estáticas de veículos e capacitação para os colaboradores da MAN.
Com as novas instalações do Centro de Treinamento, que exigiram investimentos de R$ 5 milhões, o número de profissionais capacitados anualmente pelas áreas de desenvolvimento da rede e de exportação da montadora aumentará este ano em 50%, chegando a 12 mil pessoas. Em 2010 foram treinados mais de 8 mil pessoas. O centro conta até com cabines em corte de caminhões que reproduzem mais de 200 diferentes falhas para diagnósticos.
O treinamento baseia-se na aula presencial, com padronização do material de suporte e a adoção de novas tecnologias, como o treinamento online (via internet), além de um site para gestão de treinamento exclusivo.
O novo centro, de propriedade conjunta com a associação de concessionários da marca, também deve contribuir para aumentar o foco no pós-venda da montadora, que se prepara para enfrentar nova concorrência – a chegada de mais marcas estrangeiras ao mercado brasileiro.
Atualmente, para atender aos clientes, a MAN Latin America conta com quatro escritórios regionais, 145 revendas, com 1.100 boxes de atendimento, que registraram 580 mil atendimentos por ano e conta com 8.200 funcionários.
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