Quero sair da casa de meus pais para morar de aluguel. Quais cuidados devo tomar na hora de fechar um contrato?
O primeiro passo para quem vai passar a viver por sua própria conta é organizar-se financeiramente. Isto significa elaborar o seu planejamento financeiro. Comece pelo seu orçamento, lançando em uma planilha todas as suas receitas e despesas. Considere todos os valores de forma líquida. Em outros termos, ao anotar o seu salário, faça pelo valor efetivamente recebido (valor líquido) na conta bancária, não adianta colocar que o seu salário é, por exemplo, R$ 3 mil, mas sim o quanto é depositado na sua conta. Com as despesas faça a mesma coisa. Como o aluguel é uma despesa importante dentro de seu orçamento, você deve tomar alguns cuidados como: verificar se o valor anotado em contrato foi o combinado, quais outras despesas ficam por sua conta (exemplo: condomínio e taxas), índice de reajustes, prazos de locação, multas por atraso e em caso de devolução do imóvel, garantias exigidas. Após todos os detalhes acertados, algo também importante é a vistoria quando do recebimento das chaves, tire fotos e anote todas as condições do imóvel.
Eu e um amigo fomos conhecer como curiosos um lançamento de um prédio na vila Sônia, em São Paulo. O apartamento decorado é lindo, mas veja as condições de preço: o imóvel tem 80 metros quadrados e custa R$ 377 mil. A previsão para conclusão da obra é em julho de 2014 e, até lá, deve-se pagar entre R$ 90 mil e R$ 100 mil, a diferença do valor pode ser financiada. A corretora, no entanto, garante que "com certeza haverá valorização de 60% até a entrega das chaves". Até onde isso é exagero? É possível dizes até onde iremos com o preço dos imóveis? Estamos em uma bolha?
É muito interessante e importante a questão trazida pelo nosso leitor, mas teremos que tratar os vários questionamentos em separado. Correndo o risco de ser muito objetivo, eu não avalio que o nosso mercado imobiliário esteja vivendo uma bolha de preços. Para poder explicar melhor a questão vou definir o significado de "bolhas". Uma bolha econômica é uma conjuntura de preços de mercado de algum ativo que se autoalimenta, provocando subida daqueles preços sem, no entanto, estar sustentado por qualquer modelo de seus valores fundamentais. As bolhas são sempre descritas como especulativas porque trazem bons retornos para aqueles com grande apetite ao risco. Em outros termos, os especuladores aproveitam momentos de mercado em que os agentes estão entusiasmados com certo ativos, buscam fazer ganhos e sair deixando o prejuízo para os outros. As razões que me levam a não admitir, neste momento, uma bolha no mercado imobiliário brasileiro são: os compradores de imóveis no Brasil não estão especulando, as pessoas compram casas para morar; a concessão de crédito por parte de nossos bancos é sempre rigorosa devido às regras do sistema financeiro brasileiro de controle de riscos. Além disso, dados do Banco Central mostram que, de todas as operações de crédito do sistema, somente 3,4% são para a habitação. Por outro lado, os corretores de imóveis são vendedores e estão usando todos os argumentos que conhecem para convencer os compradores. Realmente, falar em aumento de 60% no preço (que já está alto) é errado e não deve ocorrer. Agora, também é verdade que a euforia das pessoas em fazer bons negócios antes que os preços aumentem ainda mais pode levar à falsa ideia de que estão fazendo um bom investimento. Dessa forma, muitos podem amargar prejuízos e/ou descontrole total de seu orçamento.
O que o senhor acha de eu pegar um empréstimo, ou com um agiota ou no banco mesmo, e investi-lo? Tenho a impressão de que, desta forma, sempre terei dinheiro.
Isso é algo que não deve ser feito de maneira alguma. Agiotagem é ilegal justamente porque os juros cobrados são sempre muito altos. Também não se deve pegar empréstimo para, posteriormente, investir os recursos vindos do banco. Dessa forma você acabará entrando numa bola de neve e não terá como sair. Sem falar que os métodos de cobrança dos agiotas não são nada ortodoxos. Em resumo, entrando nessa você nunca terá dinheiro. Terminará com uma grande dor de cabeça.
FÁBIO GALLO É PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV E DA PUC-SP
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