Efeitos das medidas macroprudenciais e elevação dos juros devem se estender até o ano que vem, com desaceleração no crescimento do total de empréstimos.
As medidas macroprudenciais tomadas pelo governo federal desde o final do ano passado aliadas ao aumento das taxas de juros irão causar desaceleração do crédito não só neste ano, mas também em 2012.
Um dos segmentos mais afetados será o de financiamento de veículos, que chegou a registrar crescimento acelerado nos últimos anos e representa parcela significativa do financiamento ao consumo no país.
Para este ano, as projeções da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apontavam crescimento de 17% no volume total das operações de financiamento de veículos, incluindo o arrendamento mercantil (leasing).
No entanto, com a incorporação dos efeitos das medidas já tomadas, a expectativa de expansão dessa modalidade de crédito caiu para 15,4%.
Em 2012 a desaceleração deve continuar e a projeção aponta para um crescimento de 14,6%. Essa desaceleração pode ser maior se novas medidas forem anunciadas pelo governo.
O economista chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, explica que até o final do ano o atual ritmo de crescimento do crédito irá convergir para as expectativas.
"Vamos continuar vendo os efeitos das medidas nos próximos meses. Vai haver impacto ainda, mas está incorporado às expectativas", diz.
No estoque de operações para aquisição de veículos, o crescimento foi de 17,3% nos 12 meses encerrados em março, segundo dados do Banco Central (BC). Já o total de financiamentos do país crescia a uma taxa de 20,7%. Segundo a projeção da Febraban, essa expansão irá desacelerar até chegar aos 16,7% em dezembro e 15,9% no próximo ano.
Sardenbeng lembra que o BC reafirmou o compromisso de trabalhar para manter a inflação na meta e que, caso o crescimento do crédito atrapalhe esse plano, novas medidas deverão ser adotadas.
"Há uma sinalização de estratégia gradualista de implementação das medidas e de compromisso com o controle da inflação."
É essa preocupação com a inflação que permite que a desaceleração no crédito perdure até 2012. "É só no ano que vem que a inflação será contida", avalia o analista da Lopes & Filho Consultoria, João Augusto Salles. Por essa razão, ele acredita que as restrições no crédito ao consumo deverão durar ao menos até os primeiros seis meses de 2012.
Embora a desaceleração seja mais evidente no crédito ao financiamento de veículos, Salles espera que outras linhas destinadas ao consumo por parte das pessoas físicas venham a apresentar desaceleração nos próximos meses. "O crédito de veículos só sentiu o efeito primeiro", diz.
Essa desaceleração está relacionada ao aumento da inflação e às medidas tomadas pelo governo. Com aumento generalizado nos preços, a tendência é de alta nos níveis de inadimplência. Com expectativa de maior calote, os bancos já elevaram as taxas de juros, o que tende a reduzir a demanda, explica Salles.
De fato, os bancos trabalham com a expectativa de elevações sutis nas taxas de inadimplência. O Bradesco espera que a taxa dos atrasos acima de 90 dias se mantenha estável em 3,6% do total da carteira de crédito, mas vê a possibilidade de aumentos pontuais no decorrer do ano. O mesmo é esperado pelo Santander, que possui taxa de 4%.
O Itaú, que registrou no primeiro trimestre uma taxa de inadimplência de 4,2%, tendo como base os atrasos superiores a 90 dias, vê espaço para uma elevação entre 0,2 e 0,3 ponto percentual no decorrer do ano.
A justificativa para essa elevação é que no período mais recente há crescimento de 15% das operações com atrasos além de 90 dias. Como a tendência é de continuidade nesse movimento, a inadimplência no final do ano deve chegar a 4,5% da carteira de crédito total do banco.
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