Escassez ocorre na região dos Jardins, Moema, Bom Retiro e Brás, bairros onde os proprietários começaram a cobrar luva mesmo em lojas de rua
SÃO PAULO - Estão faltando pontos comerciais na cidade. A escassez ocorre, principalmente, nas áreas já consolidadas como polos comerciais: Jardins, Bom Retiro, Brás, e Moema. "No entanto, já identificamos falta de pontos em todas as regiões da cidade, inclusive em novos polos comerciais como Santo Amaro, Anália Franco e Mooca. Optamos por espalhar captadores pela cidade para tentar encontrar locais para oferecermos aos clientes. Eles percorrem as principais ruas comerciais e já reservam o espaço para nós. Mas está muito difícil", comenta a diretora da Lello Imóveis, Roseli Hernandes.
De acordo com a diretora, até a cobrança de luvas - adiantamento pago pelo inquilino ao locador para garantir a assinatura de contrato de locação, além do aluguel mensal - vem sendo exigida quando aparece algum empreendimento para alugar nessas regiões. "E os interessados pagam porque realmente é uma raridade aparecer alguma oportunidade nos pontos comerciais já consagrados da cidade", diz.
A prática, mais utilizada em locações em shoppings, é permitida por lei. "A cobrança é correta, desde que o contrato esteja prevendo um prazo de cinco anos, porque, nesse caso, a renovação é compulsória. O que não pode é exigir outra parcela na renovação", diz o presidente da Comissão de Direito Urbanístico da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Marcelo Manhães de Almeida.
As locações nessas regiões estão caras, segundo pesquisa feita pela Lello. Nos Jardins, é possível encontrar espaços que custam entre R$ 35 mil a R$ 50 mil por mês para empreendimentos de até 50m². Em Cerqueira César, na Rua Pamplona, é possível encontrar lojas que saem R$ 13 mil o aluguel pela mesma metragem. Na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, o preço cai para a R$ 8 mil. Outra região bastante procurada é Moema, na Zona Sul, onde valores estão mais baratos e ficam na média de R$ 10 mil a R$ 13,5 mil para empreendimentos entre 180 m² e 240m². Na Vila Madalena, na Zona Oeste, o valor médio de um imóvel de 180m² é de R$ 5,4 mil. Em Santana, na Zona Norte, a locação cai para R$ 4,5 mil.
A Kauffmann Imóveis também vem encontrando dificuldades para localizar espaços para oferecer para locação comercial. "Principalmente nos Jardins, região considerada uma das mais nobres e mais caras, é muito difícil de aparecer imóveis para locação", comenta o gerente de vendas da imobiliária, Lucas Razuc. Para ele, a rua mais cara para se alugar um espaço é a Oscar Freire. "Lá, uma loja de 50 m² não sai por menos de R$ 50 mil por mês", ressalta Razuc.
Para o diretor da vice-presidência de Gestão Patrimonial e Locação do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Mark Turnbull, as ruas Bela Cintra, Haddock Lobo e Oscar Freire, todas localizadas na região dos Jardins, são as mais procuradas por grandes grifes. "Como há restrição de lançamentos e o espaço é escasso, o preço das locações vem sendo cada vez mais valorizado nessa região", conta.
Descentralização. Para o vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Roberto Mateus Ordine, o crescimento da cidade vem contribuindo para a disseminação comercial em todas as regiões da capital. "Hoje, não se vê mais pessoas indo à região central para comprar. É possível comprar de tudo sem se afastar muito da sua casa. Há opção em todas as regiões. Mesmo nos bairros mais afastados do centro."
Ele ressalta que todo lançamento imobiliário já alavanca o surgimento de um novo polo comercial. Para ele, o destaque da descentralização está na Zona Leste, principalmente nos bairros Itaquera e São Miguel Paulista. "São muito distantes do centro e registraram um crescimento populacional grande nos últimos anos", comenta. Mas há também centros comerciais na Zona Norte, na Rua Voluntários da Pátria e em Santana, e na Zona Sul, em Santo Amaro e Campo Limpo. Na Zona Oeste os destaques são: Lapa, Vila Romana, Butantã e Osasco. "Apesar de ser outra cidade, fica muito próxima da capital e tem um comércio muito forte", diz.
De acordo com o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto, a escassez vem propiciando que lançamentos imobiliários residenciais também tragam, na planta, uma parte destinada ao comércio. São os chamados empreendimentos três em um que incluem apartamentos, escritórios e lojas na parte térrea. "É uma tendência que vem se fortalecendo por causa da demanda, e já encontramos opções em todas as regiões."
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