Consumo de derivados do cacau teve aumento de 5,4% no primeiro semestre - chegando a 180,8 mil toneladas - graças à classe C, estima uma associação do setor
O resultado comercial de trazer para a classe média brasileira um produto originário da elite europeia provoca otimismo em grandes redes de chocolate, que usam trufas para atrair e fidelizar clientes. Enquanto o consumo de derivados do cacau cresce no País, empresas do segmento oferecem promoções que botam o produto artesanal no mesmo patamar de preço dos bombons.
A atividade comercial das 290 unidades da Brasil Cacau cresceu 1.400% no Estado de São Paulo nos meses de julho e agosto, com larga base de comparação (janeiro, fevereiro e março) — o mês de junho não conta por que a Páscoa influenciaria no resultado. No resto do Brasil, as vendas cresceram 400%. Os saltos coincidiram justamente com a promoção de trufas, iniciada em 17 de junho, a R$ 0,99 por unidade.
“Com essa estratégia, mostramos que o produto é acessível ao público, e depois o fidelizamos pela qualidade do produto”, disse a vice-presidente do grupo CRM, que detém a marca, Renata Moraes Vichi. “Como a base da Brasil Cacau ainda é virgem, tivemos um crescimento meteórico”.
A campanha publicitária custou R$ 2,5 milhões em mídia à companhia e foi lançada com meta de vender 2,4 milhões de trufas em 73 dias. Sem a promoção, o produto tem preços que variam de R$ 1,50 a R$ 1,90 e representa 25% das vendas da rede, que se espalha pelas quatro regiões do País com 123 franquias e duas lojas próprias.
Detentor da octogenária Kopenhagen, cujo foco é a classe A, o grupo CRM criou a Brasil Cacau em 2009, tendo em vista os novos rumos econômicos do País. “Com a ascensão da classe média, resolvemos criar uma marca que atendesse a esse público. A Brasil Cacau é uma alavanca muito forte de crescimento”, definiu Renata, sobre a marca que evolui num ritmo anual de 15%.
Com portfólio de 300 itens (mais do que o dobro do da Kopenhagen) e tíquete-médio de R$ 10 (R$ 30 a menos que na outra), a Brasil Cacau tem planos que incluem a abertura de 40 lojas — cinco de gestão própria e mais 35 franquias — até o fim deste ano.
O grupo CRM investe na retaguarda do negócio, ou seja, na criação de itens, promoções, etc., enquanto os franqueados precisam arcar com investimentos de R$ 100 mil a R$ 120 mil para abrir novas unidades. “O desenvolvimento da marca é atrelado à sofisticação, à extensão da linha de produtos”, acrescentou Renata.
Oferecendo trufas a R$ 1,50 e cedendo uma unidade gratuita para cada nove compradas, a concorrente Cacau Show, que atua há 23 anos no Brasil, conseguiu dobrar a venda do produto em agosto — foram 12 milhões, ante seis milhões no mês anterior.
“Ainda há uma massa importante de consumidores que têm medo de entrar numa loja de chocolates finos. Quando fazemos a promoção, mostramos ao consumidor que ele será bem tratado e encontrará produtos que cabem no bolso dele”, explicou o presidente da Cacau Show, Alexandre Tadeu da Costa.
Tendo faturado de R$ 1 bilhão em 2010, a companhia trabalha com mais de mil franquias no Brasil. Das dez unidades mais rentáveis, cinco estão na Região Nordeste, que ao lado da Norte tem apresentado o maior crescimento de vendas. Costa atribui a isso o intenso desenvolvimento econômico das áreas, com a entrada de empresas multinacionais, e o baixo nível de concorrência.
A Cacau Show está investindo R$ 30 milhões na ampliação de uma de suas cinco unidades fabris e também investe no desenvolvimento de três fazendas próprias de cacau, que serão destinadas à produção de mercadorias com alto teor da fruta (os chocolates amargos). Expectativa para este ano: faturar R$ 1,2 bilhão.
O frio ajuda
Segundo o presidente da Cacau Show, a trufa é uma criação francesa inspirada no tartufo, iguaria italiana que os cachorros farejavam, por se tratar um fungo subterrâneo. “A priori, o nome tinha a ver com o formato. Aqui, no Brasil, virou um bombom de chocolate com recheio. Nós investimos na produtividade para democratizá-lo”, contou Costa.
O produto, artesanal, figura entre as principais sofisticações da indústria do chocolate, cuja produção cresceu 5,4% no primeiro semestre, em paralelo ao consumo, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Em números totais, a população devorou 180,8 toneladas no período.
“O chocolate vem crescendo nos últimos dez anos, tanto que já se consome mais isso do que balas — o que é uma característica de país desenvolvido”, afirmou o presidente da Abicab, Getúlio Netto. “Aqui no Brasil, o consumo no eixo centro-sul é igual ao do italiano médio”, comparou.
A ascensão da classe C talvez seja o principal fator de estímulo à produção e ao consumo de chocolates no Brasil, segundo Netto. “Mas São Pedro ajuda, quando faz frio. Com esse tempo, daqui pra frente, devemos ter crescimento contínuo”, afirmou.
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