Decidir entre os dois carros mais baratos do Brasil não é uma tarefa simples. Fiat Mille e Chery QQ figuram no topo da tabela, com uma diferença de R$ 500 entre eles. O Fiat está há mais de duas décadas por aqui e ocupa, há anos, a lista dos dez carros mais vendidos do País. O chinês QQ carimbou seu passaporte no primeiro semestre deste ano e tirou o título de carro mais barato do Mille.
Se a diferença no preço pode ser considerada pequena, o mesmo não pode se dizer da diversdidade entre os dois modelos. Enquanto um é uma volta na história da indústria automotiva, o outro parece um brinquedo que saiu dos quadrinhos de uma revista japonesa.
O veterano da década de 80
O Fiat foi lançado em 1984; a segunda geração do modelo veio 26 anos depois. A partir dela, a montadora criou um outro carro, o novo Uno, e manteve a carroceria antiga, rebatizando-a de Mille. Referência quando se fala em popular robusto, o Mille é a alternativa para àqueles que querem deixar de lado o transporte público e não se aventuram em uma moto. O preço da versão Economy é R$ 23.490, sem direito a nenhum equipamento de segurança ou conforto.
Se o motorista possui alguma lembrança de infância ou adolescência dentro de um Mille, poderá matar as saudades mesmo na linha 2012 do popular. Pouco do projeto mudou. Entre as últimas atualizações, foi incluído um econômetro, um tipo de gráfico circular que mostra quando a condução está exigindo mais ou menos do tanque de combustível.
A cabine é simples e parte da lataria fica exposta mesmo no interior. Um painel quadrado acomoda o rádio, ar-condicionado e as saídas de ar. Não há porta-objetos. O assento possui um tipo de regulagem em que o banco vai para a frente e para trás de forma indireta, como se tivesse uma lombada no meio do processo. Ou seja, o conforto é um aspecto que pouco conta para o motorista.
O 1.0 bicombustível sob o capô tem 66 cv de potência e 9,2 mkgf de torque, com álcool. O motor trabalha em sintonia com o câmbio manual de cinco marchas. Com foco no desempenho urbano, o Mille oferece força máxima do motor em uma faixa de giro baixa (2.5000 rpm). Apesar disso, não se intimida quando tem de subir o velocímetro na estrada. Se a mudança de marcha for constante, aproveite para exercitar os músculos do braço, pois as trocas da caixa de câmbio não são suaves.
Tanto em baixa ou alta velocidade, o nível de ruído é alto, uma vez que o isolamento acústico da cabine é mínimo. Os passageiros (quatro adultos vão apertados) dispõem de 290 litros no porta-malas.
Chinês sorridente com sotaque espanhol
O QQ vem da China e é montado no Uruguai. Se o comprador se encantar com a aparência simpática do carrinho – que parece que está sorrindo -, vai se animar ainda mais com a lista de equipamentos de série. Por R$ 22.990, leva airbag duplo, freios ABS, acionamento elétrico dos vidros, travas e retrovisores e direção hidráulica. A cabine tem um desenho moderno e os mostradores são todos digitais.
A empolgação, no entanto, vai até o motorista se acomodar no banco. A espuma é muito fina e a impressão que tem é que a coluna encosta na estrutura de ferro do assento. A suspensão é mole demais e a alavanca do câmbio não engata com facilidade.
O QQ traz sob o capô um motor 1.1 a gasolina de 68 cv de potência e 9,1 mkgf de torque. No trânsito, o desempenho não é muito diferente do Mille. Na estrada, porém, o QQ sofre para chegar aos 120 km/h. A questão não é nem a rapidez, mas a insegurança que ele passa em alta velocidade, em que prevalecem a oscilação da carroceria, a leveza exagerada da direção e o barulho do motor.
Apesar de ter se mostrado econômico durante a avaliação, a autonomia é prejudicada pelo tamanho do tanque de combustível: apenas 35 litros (no Mille vão 50 litros). Não exagere na carona: apesar do entre-eixos chegar perto do Mille (2,36 m contra 2,34 metros), o QQ tem 1,49 metro de largura. No bagageiro, há espaço para 190 litros.
Veredicto de Anelisa Lopes – inicialmente projetados para atender às demandas de economia e manutenção barata, os 1.0 permaneceram, durante anos, como o melhor custo-benefício para aqueles que querem gastar o mínimo possível com um carro. Este cenário, no entanto, vem mudando. Modelos com motor 1.4 e 1.6 têm aumentado sua participação, já que os custos com combustível e pós-venda têm ficado cada vez mais atraentes. No ano passado, a venda de modelos com motor de 1,0 litro correspondeu a 50,8% das negociações de carro zero km no País. No primeiro semestre deste ano, de acordo com a Anfavea, o número caiu para 45,9%.
Se a ideia, porém, é desembolsar menos de R$ 24 mil, a aposta continua sendo no Mille. Apesar de vir pelado, o Fiat é mais robusto, passa maior sensação de segurança na estrada e é mais confortável em função da sua suspensão e estofamento. Além disso, a marca já está estabelecida no País e oferece maior facilidade no pós-venda. O resultado deste comparativo, entretanto, não é definitivo. Cabe à Chery analisar os pontos mais fracos do seu modelo - suspensão, dirigibilidade, nível de ruído e revestimento dos bancos - e melhorá-los para que o QQ possa tirar esta vantagem do Mille.
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