Preços e segurança tendem a se tornar as questões-chave na tomada de decisão dos motoristas brasileiros
Preços são extremamente competitivos
São Paulo – Os carros chineses que têm chegado ao Brasil apresentam preços bastante interessantes quando comparados aos principais concorrentes. O modelo que mais chama a atenção é o Chery QQ, que tem preço sugerido de 22.990 reais, o menor do país. O carro vem equipado com itens de série que são vendidos como opcionais pelos concorrentes, como ar condicionado, direção hidráulica, airbag duplo, faróis de neblina, travas e retrovisores elétricos, freio ABS, alarme e rádio. O sedã J3, da JAC Motors, sai por 39.900 reais e vem com todos os opcionais acima, além de outros como sensor de estacionamento. E o segredo não é a utilização de peças de baixa qualidade, segundo os empresários. "A China tem custos de produção e de logística bem mais baixos que o Brasil", diz Sérgio Habib, presidente da JAC Motors no Brasil. "O aço lá custa 60% do que as montadoras pagam aqui." Para especialistas do mercado automotivo, preços como esses devem garantir aos chineses uma boa fatia do mercado brasileiro de carros compactos e vans dentro de alguns anos.
Custo de conserto é baixo
Um carro que custa pouco tende a gerar despesas de manutenção mais baixas. Não é fácil, entretanto, mensurar quanto o motorista vai economizar com reparos se optar por um carro chinês. Até agora, o melhor indicativo é um estudo divulgado pelo centro de pesquisas Cesvi, dedicado à segurança viária e veicular. O órgão avaliou o custo de reparabilidade de apenas dois veículos chineses, ambos da JAC Motors, o J3 e o J3 Turin. Os dois carros obtiveram classificação 13 em uma escala que vai de 10 a 60 - sendo 10 a melhor nota. Esses resultados colocaram o J3 e o J3 Turin entre os cinco melhores no ranking de reparabilidade do mercado nacional, que avalia tanto o custo quanto o tempo em que o carro vai ficar na oficina. Nada mal para os primeiros carros importados da China já avaliados.
Preço baixo das peças pode baratear seguro
Se os carros chineses são baratos e o custo de manutenção é baixo, o seguro também tende a apresentar um valor mais atrativo para o consumidor, segundo o Cesvi. A vice- presidente do Sincor-SP (Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado de São Paulo), Cássia Del Papa, alerta, no entanto, que os consumidores não devem esperar grandes diferenças de preço em relação a outros veículos. O custo anual do seguro costuma variar entre 2% e 4% do valor do carro. O modelo e a marca não são os fatores mais determinantes para estabelecer se o valor da apólice estará mais próximo do piso ou do teto desse intervalo. O perfil do segurado (principalmente o sexo e a idade) e o local onde o carro costuma passar a noite costumam pesar bem mais no cálculo. Outro fator determinante é quando um carro está na lista dos mais visados pelos ladrões (clique aqui e veja os dez mais roubados). No entanto, veículos pouco vendidos não costumam aparecer no topo desse ranking.
Chineses chegam com prazo estendido de garantia
Cientes de que uma nova marca de carros é sempre vista com certa desconfiança pelo consumidor, as montadoras chinesas estão caprichando no prazo das garantias oferecidas aos clientes em seu desembarque no Brasil. A estratégia mais agressiva é a da JAC Motors, que dá seis anos de garantia aos compradores do J3. Nem mesmo carros de luxo costumam cobrir os custos de reparos durante tanto tempo. Segundo Sérgio Habib, da JAC Motors, a garantia representa uma cobertura "de parachoque a parachoque". "Qualquer peça que apresente defeito de fabricação será substituída de graça", diz ele. A garantia só não vale para peças que sofrerem o desgaste natural de um longo tempo de utilização. Para Habib, a garantia estendida também deve gerar valor no momento em que o cliente decidir vender o carro que comprou. "Daqui a três anos, quem comprar esse carro ainda terá mais três anos de garantia pela frente."
Segurança é principal fonte de preocupação
Poucos carros chineses que estão sendo lançados no Brasil já passaram por crashtests, que são simulações do impacto de acidentes sobre os ocupantes de um veículo. Os resultados que já foram divulgados, entretanto, são desalentadores. O Chery QQ, por exemplo, foi submetido a um crashtest no padrão EuroNCap em 2006 e obteve resultados ruins. A Chery defende que reformas estruturais foram feitas desde então. Mas como o veículo não passou por novo teste semelhante, não é possível afirmar qual é seu nível de segurança. Já chinês Geely CK1 1.3 sem airbag não recebeu nenhuma estrela em crashtest realizado pela LatinNCap no ano passado. Isso significa que o risco de morte dos ocupantes do veículo em caso de acidente é mais alto do que o de todos os outros modelos testados. De acordo com o LatinNCap, a instalação de um airbag sequer melhoraria a proteção para os ocupantes, já que a integridade da carroceria não é boa.
Mas nem todos os resultados obtidos pelos chineses são ruins. O centro de pesquisas Cesvi testou recentemente a segurança e a visibilidade do J3 e do J3 Turin, da JAC Motors. Os carros chineses apresentaram visibilidade abaixo da média, mas o índice de segurança foi considerado satisfatório. Outro carro que foi bem foi o Chery Face, que recebeu três estrelas em crashtest promovido pela ANCap. O resultado é comparável ao de veículos como o Palio e o Gol. "Segurança é tão importante quanto preço", diz Maria Inês Dolci, coordenadora da Pro Teste, uma ONG de defesa dos consumidores. "Eu não aconselharia ninguém a comprar um carro que foi reprovado ou ainda não passou por esses testes."
Os carros chineses não são flex
É verdade que a vantagem de possuir um carro flex no Brasil já foi maior no passado, quando o preço do álcool era bem mais competitivo. No entanto, apesar de o etanol sempre ficar proibitivo durante a entressafra da cana-de-açúcar, é importante lembrar que os preços costumam ser mais vantajosos que os da gasolina na maior parte dos estados brasileiros nos demais meses. Entre as montadoras asiáticas que não possuem fábrica no Brasil, somente a sul-coreana Kia já importa veículos com motores que podem ser movidos a álcool ou gasolina. Entre as chinesas, a Chery é a única que oficializou a intenção de erguer uma fábrica no Brasil, na cidade paulista de Jacareí. Nela, é provável que venha a produzir carros flex, mais adaptados ao gosto dos brasileiros.
Desvalorização de carros importados é mais rápida
Em geral, os carros importados possuem um índice de depreciação maior do que os nacionais, segundo Vitor Meizikas Filho, gestor da Molicar, uma empresa que pesquisa os preços de veículos novos e usados. Em primeiro lugar, esses carros não contam com esforços de marketing tão grandes das montadoras. Como quase ninguém conhece os modelos, é ainda menos gente que sai de casa em direção a uma revendedora com a intenção de comprá-los – o que afeta a demanda como um todo. Outro problema é que a concessionária que vende carros novos de uma montadora específica costuma avaliar mais generosamente o veículo usado da mesma marca quando vai recomprá-lo. Como o número de concessionárias dos carros chineses não é tão grande, esse pode ser outro limitador da demanda pelo usado. Por último, justa ou injustamente, os produtos chineses são percebidos como de baixa qualidade por consumidores ao redor do mundo. O país ficou conhecido mundialmente por produzir bens baratos que se destacam no quesito preço, mas que muitas vezes não atendem todos os padrões de qualidade esperados pelos consumidores. Essa percepção pode atuar como outro limitador de demanda pelos carros chineses no mercado de usados.
Importação de peças pode demorar
Outro problema comum aos carros importados é a possibilidade de que determinadas peças necessárias para reparos tenham de ser trazidas de outro país para que o veículo possa deixar a oficina. "As montadoras mais tradicionais mantêm estoques elevados de peças para que evitar esse tipo de constrangimento quando alguém procura assistência técnica", afirma Vitor Meizikas Filho, gestor da Molicar. "Para as demais, costuma ser excessivamente caro imobilizar o capital necessário para manter grandes estoques, principalmente de peças que não costumam quebrar." O resultado é que uma peça pode levar entre 30 e 40 dias para ser trazida da Ásia – período em que o carro pode ter de ficar parado na oficina. Os carros da Honda que circulam no Brasil têm enfrentado esse tipo de problema devido ao desabastecimento de peças causado pelo terremoto no Japão. Segundo Cássia Del Papa, vice-presidente do Sincor-SP (Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado de São Paulo), a dica para quem tem ou vai comprar um carro importado é contratar um seguro que inclua carro reserva por período ilimitado. Esse tipo de serviço encarece a apólice em 200 reais ou mais ao ano – mas será de vital importância em caso de reparos demorados.
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