Assim como entrou na pauta dos jornais, na quarta-feira (4/5), a miséria desapareceu do noticiário no dia seguinte, resumindo-se a editoriais nos quais basicamente se manifestam votos de sucesso na empreitada de eliminar a pobreza extrema do país, assumida pela presidente da República.
Apenas a Folha de S.Paulo aborda o tema em reportagem, ainda assim para dizer que o indicador adotado pelo governo para definir a pobreza extrema reduz o valor previsto em investimentos sociais durante a campanha eleitoral. Essa foi também a abordagem no editorial do jornal paulista.
Fora isso, nem uma linha a mais na chamada imprensa de circulação nacional.
A pobreza sempre foi, na imprensa, uma espécie de Aids ou lepra, assunto que precisa ser tratado à distância, ou com luvas higiênicas. No fundo, pode parecer que a imprensa considera os pobres como uma categoria marginal da sociedade, com a qual e sobre a qual não vale a pena gastar papel e bits.
Nesse caso, trata-se da imposição de uma visão meramente mercadológica: se eles não lêem jornais, pouco importa o que fazem ou deixam de fazer. No máximo, as empresas de mídia investem nas classes sociais intermediárias ou emergentes, para as quais podem vender seus títulos chamados de "populares".
Trata-se de um erro estratégico em termos de futuro dos negócios de imprensa, mas, ainda mais grave, trata-se da preservação de uma visão de mundo elitista segundo a qual a imprensa deve se dirigir preferencialmente aos mais educados e mais bem situados na escala social.
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