Apesar de manter preços antigos, montadoras sofrem queda nas vendas – e o motivo estaria na cabeça dos consumidores
São Paulo – As montadoras chinesas Chery e JAC vivem uma situação peculiar. Ambas estiveram entre os principais alvos do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos importados. Ambas mantiveram seus preços antigos, mesmo com a medida em vigor há três meses. E ambas veem suas vendas caírem desde setembro, quando a decisão foi anunciada.
Ao elevar o IPI, a intenção do governo, pressionado pelas montadoras já instaladas no Brasil, era conter a importação, sobretudo porque as chinesas estão desembarcando com modelos mais populares, capazes de competir com alguns dos modelos mais vendidos no país, principalmente a Chery e a JAC.
“São as duas que competem diretamente no segmento mais disputado desse mercado, o popular. Além disso, elas oferecem carros completos com preços mais atrativos”, afirmou Roberto Prado, especialista do setor automotivo.
Tabela mantida
As duas montadoras sabem, porém, que elevar os preços seria um tiro no próprio pé, no momento em que tentam conquistar mercado. “Se aumentarmos os preços, deixamos de ser competitivos no mercado brasileiro”, afirmou Luis Curi, diretor comercial da Chery no Brasil.
As duas montadoras sabem, porém, que elevar os preços seria um tiro no próprio pé, no momento em que tentam conquistar mercado. “Se aumentarmos os preços, deixamos de ser competitivos no mercado brasileiro”, afirmou Luis Curi, diretor comercial da Chery no Brasil.
Um levantamento de EXAME.com com base na tabela de preços de importados da revista Quatro Rodas mostra que, de fato, os preços dos modelos de Chery e JAC permanecem praticamente estáveis desde setembro, quando a alta do IPI foi anunciada pelo governo.
Entre os seis modelos da Chery vendidos por aqui, o QQ 1.1, de 16 válvulas, subiu de 23.990 reais, em setembro, para 24.990 reais em abril. Outro modelo, o Face 1.3, de 16 válvulas, chegou inclusive a ficar mais barato: de 32.990 para 29.990 reais.
Já entre os da JAC Motors, seu modelo mais popular, o J3 1.4, de 16 válvulas, custa 37.900 reais desde setembro. O J6 2.0 de cinco lugares também ficou mais barato: 55.900 reais, ante os 58.900 de setembro.
Embora nenhuma tenha repassado o aumento do IPI ao consumidor, a desaceleração das vendas foi inevitável. Segundo a JAC, desde o anúncio, em setembro passado, as vendas no país vêm caindo em média 30% ao mês. Aumentar os preços, no entanto, não está nos planos da montadora.
Mercado
Mercado
Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), a participação de mercado da JAC também vem caindo desde setembro. A montadora chegou a vender mais de 3.100 carros no país em um único mês e a média, após o IPI, caiu para 2.000 veículos comercializados por mês.
“Desde que a decisão do governo começou a circular no mercado, ela começou a surtir efeito. Os consumidores ficaram mais receosos, pois acreditaram que os preços dos veículos já tinham subido”, afirmou a montadora. A alta do IPI passou a valer efetivamente em 16 de dezembro do ano passado.
A Chery também perdeu participação de mercado segundo dados da Abeiva. A montadora chinesa, que chegou a deter mais de 16% de market share do segmento de importados, fechou 2011 com pouco mais de 10%. As vendas também despencaram praticamente pela metade.
Nesta semana, em coletiva com a imprensa, a montadora afirmou que reduziu a estimativa de importação de 60.000 para 30.000 neste ano. “Não há duvida que a medida tomada pelo governo brasileiro impactou nosso desempenho no país”, afirmou Zhou Biren, presidente da Chery Internacional.
Outras chinesas
Além da JAC e da Chery, outras montadoras chinesas, como a Effa, também apresentaram quedas nas vendas. A Effa, em janeiro e fevereiro de 2011, vendeu cerca de 1.300 carros no país, no mesmo período deste ano, o montante foi de pouco mais de 1.000.
Saída
Tanto a JAC quanto a Chery discutem com o governo a possibilidade de ficarem isentas da restrição, uma vez que estão fazendo investimentos pesados no mercado brasileiro para a construção de suas fábricas no país.
As duas unidades devem começar a operar no país a partir do início de 2014. Até lá, terão de lidar com o impacto do IPI sobre os seus carros – algo que, por enquanto, parece ser mais psicológico que efetivo.
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