Relegado ao "segundo escalão" das mídias pela propaganda, o cinema tem quem o trate como queridinho. A agência Puzzle, braço de eventos e ativação de marcas da One Digital, viu na sétima arte a oportunidade de se promover tendo como trampolim um projeto internacional: levar aos EUA a boa produção nacional, dando voz ao mercado independente e às obras que perdem espaço diante das que exportam violência e favelas na telona.
Há três anos mercado, em 2011 a Puzzle assumiu o projeto que logo virou carro-chefe. Sob sua coordenação aconteceu a terceira edição do Hollywood Brazilian Film Festival, que já afina os ponteiros para a versão deste ano. É graças ao evento sediado em Los Angeles, entre 6 e 10 de junho, que o cinema norte-americano tem contato ao vivo e em cores com filmes, atores, palestras e workshops brasileiros. Nomes como Rodrigo Santoro, Mariana Ximenes e Reinaldo Giannechini emprestam seu prestígio para garantir o intercâmbio de cultura e negócios.
A exposição gera barulho. A LG embarcou na proposta no ano passado e foi a patrocinadora máster. A marca viu o retorno disso, segundo a agência. Só em mídia espontânea o evento gerou R$ 5,4 milhões, sem falar num pesado fomento jornalístico. O festival virou notícia no Los Angeles Times, People, Variety, Huffington Post, Hollwoood Reporter, LA Weekly, La Opinión, Telemudo e Univision, além dos destaques na mídia brasileira.
Num bate-papo realizado na sede da agência, em São Paulo, os sócios Guilherme Trementócio e Michelle Matsumoto contam as perspectivas para 2012. E vão além. Aproveitam para "vender o peixe" ao anunciar que ainda buscam parceiros para promover o País lá fora, e saem em defesa do cinema. Tido como o "pai de todas as linguagens", para Michelle o cinema exerce tanta influência sobre a propaganda e as outras mídias quanto a F-1 sobre os carros.
Adnews: Como vocês posicionam o Hollywood Brazilian Film Festival?
Guilherme: É o nosso foco para este ano. Fizemos uma sociedade com a brasileira Talize Sayegh, que vive em Los Angeles há 22 anos, para promover e ser uma vitrine para o mercado de Hollywood. Geramos negócios tanto para os cineastas, com a venda de filmes, quanto para a captação de filmes de lá para serem gravados no Brasil. Abrimos portas para atores e atrizes que premiamos no festival. É um evento que movimenta todo este mercado que em sua maioria é independente e não tem a Globo Filmes ou outra grande empresa por trás.
Adnews: A participação do cinema é irrisória no bolo publicitário (menos de 1%) e dá para dizer que é uma mídia praticamente abandonada pelas marcas. Sendo uma agência de propaganda, por que vocês foram se meter com isso?
Michele: O consumidor quer vivenciar experiência. Não quer só a mensagem, mas quer ser envolvido, e muito dessa coisa toda são as linguagens. O cinema é o pai de todas as linguagens. O cinema está para a propaganda como a F-1 está para os carros. Ele emociona e as pessoas gastam seu tempo com vontade, é entretenimento. Por isso começamos a nos aproximar. E além de tudo é uma paixão nossa e acabamos tendo a vontade de ajudar.
Adnews: Vocês usaram como gancho de oportunidade o fato de as marcas não darem tanta atenção para o cinema?
Guilherme e Michele: As marcas investem pouco e sem norte. Pensamos em aliar os interesses da marca aos projetos culturais. E você tem formas de adaptar. Por exemplo, quando a LG patrocinou tinha tudo a ver porque o mercado de cinema desenvolve os avanços dos produtos da marca. Ao invés de dar dinheiro para o projeto que não é pertinente para marca, optamos por fazer direcionamento para elas, com plataformas ricas de desenvolvimento de ações que gerem resultado.
Adnews: Qual a percepção estrangeira sobre o projeto e o cinema nacional?
Guilherme e Michele: Eles conheciam o projeto, mas antes a percepção era menor. Transformamos ele (o festival) em negócio, num produto. Os mercados têm acompanhado muito mais pela crescente que o cinema brasileiro tem tido. Geramos um bom retorno para o pessoal daqui e o interesse partiu do mercado de lá. Vários acordos foram fechados.
Adnews: Quem coloca dinheiro no Hollywood Brazilian Film Festival além do anunciante?
Guilherme e Michele: A Ancine e o governo são a grande força do projeto. Ganhamos R$ 800 mil promover o Festival. As produtoras de cinema no Brasil estão muito desguarnecidas, fora as grandes que também vivem de publicidade. Elas estão na luta para desenvolver o próprio trabalho. Então o nosso trabalho é ajudá-las mais do que pedir ajuda. Ajudá-las a ganhar visibilidade numa indústria muito competente, mas que ainda este em desenvolvimento. Este intercâmbio é muito saudável. O retorno é astronômico. Para este ano estamos em negociação com algumas empresas, mas estamos abertos para propostas.
Por Marcelo Gripa
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