Já foi o tempo em que o sujeito comprava um carro usado e o vendia depois de um ano com lucro. Isso aconteceu no Brasil, na década de 1990, e alguns casos perduraram até recentemente. Hoje ninguém compra um carro, novo ou usado, pensando que não vai perder dinheiro, o que é natural num produto de consumo. Mas o que assusta o consumidor é o descontrole da desvalorização do carro usado, que começou com a crise econômica, no último trimestre de 2008, e não acaba mais.
Nesses dois anos e meio - de setembro de 2008 a fevereiro de 2011, o preço do carro usado caiu, em média, nada menos do que 18,5%, conforme estudo AutoInforme/Molicar que analisou a evolução dos preços dos 2,9 mil versões dos carros vendidos no mercado interno (fabricados aqui e importados) nos últimos dez anos.
Profissionais de venda e consumidores questionam até quando a tendência de queda dos preços vai perdurar. É difícil responder, mas é certo que não há a menor chance dos preços retomarem ao patamar de antes da crise, nem sequer ter uma recuperação, por menor que seja.
Isso porque o mercado de usados acompanha o comportamento dos novos e esses também estão perdendo preço devido a forte concorrência: são hoje 48 marcas disputando a preferência do consumidor.
Nos quatro primeiros meses da crise - outubro/08 a janeiro/09 - os preços dos usados desabaram: -8,5%. Assustados com a situação e com medo de se descapitalizar, os lojistas pararam de comprar, congelando o mercado e consequentemente levando os preços mais pra baixo. Quem precisava vender aceitava qualquer proposta; carros eram deixados na loja por metade do valor da tabela.
Com o socorro do governo ao setor de novos, a preferência do consumidor passou a ser pelo carro zero, onde ele encontrava preços convidativos (com a retirada do IPI) juros mais baixos e maiores prazos de pagamento. Isso contribuiu para empurrar o setor de usados ainda mais pro fundo do poço.
O que aconteceu? O mercado nunca se recuperou da violenta queda no último trimestre de 2008, ao contrário, os preços foram caindo sem parar. Observe, no gráfico, que nesses dois anos e meio houve uma queda constante. Somente em três ocasiões - fevereiro e agosto de 2009 e junho de 2010 - os preços mostram uma leve recuperação. Nada que serviu de alento. Em todos os demais 27 meses os carros usados desvalorizaram.
Aos poucos o mercado se acomoda nesse novo patamar. Se é verdade que ficou mais caro para o dono do carro seminovo trocar pelo zero, é verdade também que a queda dos preços permitiu a entrada no mercado de um consumidor que antes não tinha poder aquisitivo para isso.
Mas há esperanças. Observe o final do gráfico no período estudado: nos últimos cinco meses os preços se mantêm estáveis: de novembro de 2010 a fevereiro de 2011 o carro usado perdeu apenas 0,33%. Pode ser um sinal de estabilização. Tem gente rezando pra isso. Eu sou ateu, fico torcendo.
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