sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Etanol aditivado: vale a pena?

Desde o ano passado, os motoristas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, estados que concentram a maior demanda por combustível no país, passaram a contar com mais uma opção para abastecer seus carros flex, o etanol aditivado. E, ao que tudo indica, a Shell ainda seguirá por um bom tempo sem concorrentes nessa área, já que a Ipiranga informou que não planeja oferecer um produto similar e a Petrobras não se pronunciou sobre o assunto. 


Mas o que o novo combustível oferece para justificar os R$ 0,10 que custa, em média, acima do etanol comum? De acordo com a empresa, a novidade possui detergentes e dispersantes, assim como a gasolina aditivada, responsáveis pela limpeza do sistema de alimentação do motor. Além disso — e esta é a sua principal novidade —, ele conta com a tecnologia FMT (Friction Modification Technology), responsável, segundo a marca, por “criar uma película entre as partes móveis do motor que entram em contato com o combustível, aumentando a lubricidade e reduzindo o desgaste natural causado pelo funcionamento”.

Gilberto Pose, coordenador de combustíveis da Raízen, joint-venture brasileira formada pela Shell e pela Cosan, explica que, como em todo combustível aditivado, é preciso elaborar um relatório para a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), mostrando que de fato esse etanol proporciona melhorias. “Os ensaios realizados pelo Instituto Mauá revelaram que o etanol aditivado apresentou menos depósitos em válvulas do que o comum, e nas experiências em dinamômetro com condições controladas observamos uma economia de combustível de 3% a favor do aditivado”, explica.

Pose acrescenta ainda que como cada motorista tem um estilo de condução e a situação de cada veículo em termos de manutenção varia muito, não é possível garantir que todo consumidor obterá essa redução de consumo, por isso a marca não se atém a essa característica na publicidade do produto. Contudo, será que fora de um ambiente controlado, como a bancada de um dinamômetro, é possível conseguir essas mesmas melhoras?

Para esclarecer essa questão, levamos para a pista de testes um Fiat Uno Attractive e realizamos nossas provas de aceleração e de retomada, além de simular um ciclo de consumo urbano e outro rodoviário. Mas antes, é preciso esclarecer: a Shell recomenda aos interessados em abastecer com o etanol aditivado que façam uma migração de forma gradativa, com metade do tanque para cada tipo de etanol por três ou quatro abastecimentos. “Caso o veículo possua menos de 5.000 km, o processo é dispensável”, diz Pose.

Com as recomendações anotadas, esgotamos o tanque de etanol comum no Uno e saímos da cidade de São Paulo em direção a Limeira, viagem de aproximadamente 140 km. Como o veículo utilizado chegou à pista com exatos 3.600 km, iniciamos os testes dispensando o procedimento de migração. Para manter o equilíbrio e permitir uma análise mais precisa, desconectamos o tanque de combustível do Uno e colocamos os dois combustíveis diretamente em nosso medidor de consumo, que conta com um reservatório de nove litros e abastece diretamente o motor por meio de uma bomba.

Com duas pessoas a bordo e o equipamento completo de medição, partimos para os ensaios. Com etanol aditivado, o Uno Attractive 1.4 precisou de 17s3 para acelerar de 0 a 100 km/h e de 20s5 para percorrer 400 m partindo da imobilidade. No que diz respeito ao consumo, o compacto da Fiat registrou consumo médio de 10,7 km/l, sendo 9,3 km/l no percurso urbano e 12,1 km/l no ciclo rodoviário.

Finalizada a primeira medição, substituí­mos o combustível em nosso medidor e rodamos cerca de 30 km com o etanol comum antes de iniciarmos as avaliações. Com ele, o Uno cumpriu a prova do 0 a 100 km/h em 17s8 e a dos 0 a 400 m em 21s3. Já a média de consumo ficou em 9,8 km/l, sendo 8,7 km/l na circuito urbano e 11 km/l no percurso rodoviário.

No que diz respeito ao nível de ruído, os números obtidos ficaram próximos, com média de 64,8 dB para o comum e 65,1 dB para o aditivado. Apenas como exemplo, já que o preço dos combustíveis varia muito entre as praças, no posto em que abastecemos o Uno em São Paulo, SP, o etanol aditivado era oferecido por R$ 1,89 o litro, e gastaríamos R$ 90,72 para completar o tanque de 48 litros do Fiat e rodar 513,6 km. Com o comum vendido a R$ 1,79, o gasto seria de R$ 85,92 para uma autonomia de 470,4 km. E é justamente a este ponto que o consumidor deve ficar atento. Apesar do preço maior, o custo por km rodado com o etanol aditivado é de R$ 0,176, valor que sobe para R$ 0,182 com o comum devido à menor autonomia.  

Como apontou o nosso consultor técnico, Bob Sharp, “se o carro rodar 12 000 km/ano (média nacional) o consumidor gastará R$ 2 119 no período utilizando o etanol aditivado, e R$ 2 191 com o comum”. Questionada sobre a aceitação do etanol aditivado, a Shell disse que a procura “superou o esperado na época do lançamento”. Até o fim deste ano, ele chegará a Goiânia, GO; Recife, PE; e Brasília, DF. Na pista, ele provou que oferece uma melhora em rendimento, agora cabe a você escolher.

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