Valor é reflexo da alta demanda por um espaço na avenida, que carece de terrenos
SÃO PAULO - A avenida mais cara da capital paulista atingiu, no primeiro trimestre deste ano, a marca de R$ 200 o metro quadrado para locação de imóveis comerciais.
O valor foi cobrado por um imóvel no Edifício Plaza Iguatemi, em um dos pontos mais nobres da Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste. É o maior valor já cobrado em São Paulo e, no País, a marca só é alcançada na região do Leblon, no Rio. Se fosse uma cidade, a Faria Lima seria a segunda mais cara do mundo. O dado faz parte do Relatório de Pesquisa de Escritórios, da consultoria imobiliária Colliers International, divulgado com exclusividade pelo Estado.
"Hoje, uma empresa que busca visibilidade está ou quer estar na Faria Lima. Ela se tornou nossa 5ª Avenida (famosa via comercial de Manhattan). Ter um endereço nela representa glamour", diz a vice-presidente da Colliers, Sandra Ralston. A via concentra sobretudo grandes bancos, fundos de investimento e sedes de multinacionais. "É o grande endereço comercial da cidade", complementa diretora de incorporadora Stan, Leila Jacy.
O valor médio de locação comercial da via é de R$ 153,50 o metro quadrado. Apesar do preço, a Faria Lima também lidera outro indicador: tem a menor taxa de vacância - relação entre espaço disponível e o estoque total - da cidade, com cerca de 0,8% de imóveis disponíveis para locação. Apesar do preço, é quase impossível achar imóvel de alto padrão por ali. "Isso é um reflexo do desequilíbrio entre demanda e oferta", diz Sandra.
Imóveis triple A, de altíssimo padrão, enfrentam desafio maior: sua taxa de vacância é zero, ou seja, quem procura não acha, segundo a consultoria imobiliária CB Richard Ellis. A via, porém, se especializou nesse tipo de empreendimento. "O cruzamento da Faria Lima com a Juscelino Kubitschek se tornou o endereço corporativo mais caro da cidade", afirma o diretor de atendimento da imobiliária Lopes, Cyro Naufel Filho.
O impacto desse cenário no mercado imobiliário pode ser exemplificado por um empreendimento recém-lançado na avenida: o F.L. 4300, das incorporadoras Stan, SDI e Bramex, com uma torre residencial e outra comercial, além de uma corporativa, previstas para ocupar o coração nobre da via a partir de 2014.
O terreno de 12 mil m², composto por um conjunto de 46 casas, levou um ano e meio para ser formado. Em menos de 24 horas de pré-vendas, porém, todas as salas comerciais e apartamentos disponíveis foram vendidos. E não foi bem o preço que atraiu os compradores, já que eles variaram de R$ 13 mil para residenciais a R$ 17 mil para comerciais.
A procura surpreendeu Leila Jacy, da Stan. "Sabíamos que, pela localização e conceito do projeto, venderia rápido. Mas, quando inauguramos o estande, já estava tudo vendido", aponta. "Era o último grande terreno da avenida."
Pré-locados
Além dele, ao menos outros dez empreendimentos estão previstos para ocuparem um endereço na Faria Lima.Juntos, eles representam 27% do estoque disponível hoje na região.
A entrega desses novos edifícios na avenida poderia aplacar em parte a demanda em alta. Poderia. Dois dos empreendimentos que estão previstos para o segundo semestre, e que somam cerca de 100 mil m², já estão total ou parcialmente alugados, mesmo antes de entregues.
No Pátio Malzoni, com ocupação prevista para outubro, 70% está locado. Já as lajes do Faria Lima 4440 pertencerão, a partir de julho, a três bancos: dois nacionais, que trocarão as avenidas Paulista e Berrini pela Faria Lima, e um internacional, que escolheu a via para se instalar no País. "Os bancos precisam de uma infraestrutura de alto padrão e não é qualquer prédio que pode atrair esse cliente", afirma o diretor de locação da consultoria imobiliária CB Richard Ellis, Adriano Sartori. "Na Faria Lima, criou-se uma oferta com altíssima qualidade", complementa.
Estoques
O esgotamento dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) e das outorgas, que permitem a construção de prédios acima do limite estabelecido, aliados à falta de grandes terrenos, já apresentam impacto direto nos preços praticados pelo mercado.
"É uma região com dificuldades de incorporação. Isso já influencia os preços. As empresas já estão precificando o futuro", diz Sartori. Segundo ele, o crescimento do País e as dificuldades para empreender novas construções - que podem levar cinco anos para sair do papel - podem fazer com que o futuro volume de produção possa não absorver a demanda.
"Ao esticar a Faria Lima, a Prefeitura ofereceu ao mercado há alguns anos uma nova gama de terrenos muito bem localizados. Mas as incorporadoras não conseguem mais viabilizar empreendimentos", diz Neufel Filho, da Lopes. E conclui: "É preciso uma revisão urgente do plano diretor. Vai ficar cada vez mais difícil - e mais caro - achar uma locação na Faria Lima."
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