quarta-feira, 16 de março de 2011

Aposta audaciosa mostra que chinês também tem vez

Não é todo dia que um importador faz uma aposta tão audaciosa no mercado brasileiro, considerando ainda se tratar de representação de uma marca chinesa independente e menos conhecida no mercado internacional. Pois assim o empresário Sérgio Habib, do Grupo SHC, lança a JAC (Jianghuai Automobile Co.) do alto de um investimento de nada menos que R$ 380 milhões. Para se avaliar o montante, equivalente a US$ 220 milhões, é mais do que outra chinesa, a Chery, anunciou que aplicaria na fase inicial de construção da fábrica em Jacareí (SP).
Habib, ex-presidente da Citroën no Brasil e ainda responsável por cerca de 50% das vendas da marca francesa por meio de concessionárias próprias, tem grande experiência de mercado. E também visão apurada de marketing ao eleger 18 de março o "Dia J" (alusão ao Dia D da 2ª Guerra Mundial), quando inaugurará, simultaneamente, 46 concessionárias completas (50, contando as quatro sem oficina no local). Nenhum importador independente, até hoje, ousou tanto.
A empresa estatal JAC produz caminhões e só começou com automóveis há pouco mais de três anos. A fábrica, claro, incluiu o que existe de melhor em termos industriais, capacidade instalada anual de 500.000 unidades, estúdio de estilo em Turim (assessorado por Pininfarina) e uma linha coincidente com os segmentos de maior venda no Brasil. Mas, no ano passado, só exportou 21.000 unidades. O país se tornaria seu maior mercado no exterior.
O Grupo SHC projeta vender 36.000 carros este ano e pelo menos 60.000, no próximo. De cara, pretende conquistar 1% do mercado nacional de automóveis, algo que a Nissan penou para alcançar. Hábil com estatísticas e números, Habib acha inexorável as Quatro Grandes (Fiat, Ford, GM e Volks) perderem espaço e prognosticou: "Em três anos, marcas chinesas conquistarão de 5% a 6% do mercado nacional, equivalente ao que as sul-coreanas também alcançarão".
A estratégia de abordagem do mercado está correta. Garantia total de seis anos, sem limite de quilometragem; revisões a preço baixo e fixo; seguro acessível. E preço bastante competitivo, apostando na oferta de equipamentos, em versão única completa. Os modelos vendidos aqui são diferentes e mais caros (10%) que os chineses, inclusive na seleção de fornecedores.
O compacto hatch J3 custa R$ 37.900 e o sedã J3 Turin, R$ 39.700. Os concorrentes nacionais -- Gol, Palio, Corsa, Fiesta e outros -- saem no mínimo 10% mais caros, à paridade de equipamentos. Ainda em 2011, chegam o monovolume J6 (junho) e o sedã médio-compacto J5 (setembro).
Rodando com o J3 dá para perceber que é o melhor dos chineses hoje à venda, pelo menos por enquanto, pois chegarão vários outros. De porte e espaço interno semelhantes ao Gol, tem porta-malas maior. Acabamento é razoável, sem peças mal ajustadas, rebarbas ou impressão de fragilidade. Faltam ajuste de altura do banco, de distância do volante e até de altura do cinto de segurança. Há apoio bem definido para o pé esquerdo.
As suspensões passam boas sensações (independente também atrás). Precisão de engates do câmbio deixa a desejar e o motor de 1,3 litro e 108 cavalos, apesar de moderno, apresenta respostas lentas em baixas rotações, o que desagrada em especial no uso urbano.

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