segunda-feira, 30 de julho de 2012

Operadoras tentam melhorar imagem

Teles enfrentam a crise com estratégias de comunicação diferentes após Anatel proibir a venda de novas linhas de celular



Depois de serem proibidas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) de venderem novas linhas de celular, desde o último dia 23, as operadoras de telefonia móvel correm agora atrás do prejuízo para melhorar a imagem perante a opinião pública. Alvo de críticas dos clientes de longa data e campeãs nos índices de reclamação dos consumidores, as operadoras foram punidas pela entidade reguladora devido a problemas como falta de sinal e mau atendimento.
TIM, Oi e Claro enfrentam a crise com estratégias de comunicação diferentes — líder de mercado, a Vivo só foi punida em Porto Alegre, pelo Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor). Porém, na avaliação dos especialistas e levando em conta a repercussão nas redes sociais, nenhuma operadora está se comunicando de acordo com as expectativas da sociedade. “A regra número um para o gerenciamento de crise, quando a empresa é vista como parte do problema, é que não adianta se justificar. É preciso apresentar soluções. A TIM, por exemplo, entrou com uma ação contra a  Anatel. Isso pegou mal, porque as pessoas sabem que a operadora é culpada”, exemplifica Eduardo Prestes, especialista em gestão de crises dos cursos de pós-graduação da ESPM. O professor também observa que é fundamental pedir desculpas, se lamentar.
Para Prestes, nenhuma delas resolveu ainda aquele sentimento que está impregnado no consumidor brasileiro de que todas as operadoras de celular são iguais, com serviços deficientes. “O sentimento é de que não adianta mudar de operadora. É como trocar seis por meia dúzia. O que as pessoas esperam agora é que com essa medida da Anatel elas vão se mexer e lentamente resolver o problema”, enfatiza.
O professor da ESPM reforça que não tem dúvida de que a crise ocorreu e que, para recuperar a imagem e confiança do consumidor, as operadoras vão ter de trabalhar duro. “Quando há uma crise desse tipo, a comunicação na mídia vai ajudar a resolver danos de imagem”, pontua. Ele também observa que, como toda crise, há o lado prejudicado e o favorecido: concorrentes como a Nextel — que oferece serviço de rádio e celular e não foi atingida pela proibição — vai “deitar e rolar” para tirar algum benefício da situação.
A crise das teles chegou ao limite com o descompasso comercial entre a capacidade de venda e oferta e com desdobramentos negativos sob várias frentes. “As operadoras venderam mais do que podiam entregar e agora, como foram atingidas no bolso, começaram a tomar atitudes com relação ao consumidor, o que não acontecia antes, mesmo com as reclamações”, destaca Prestes. A mais afetada com a proibição foi a TIM, impedida de comercializar em 19 estados, seguida da Oi, em cinco, e da Claro, três. A Vivo, mesmo antes de decisão da Anatel, já provocava as concorrentes, na campanha “Pai e filho”, criada pela Africa, com a assinatura: “Smartvivo. O smartphone que funciona com a maior cobertura 3G plus e é grátis”. As demais, além de detalhar os planos de investimento à Anatel, se esforçam para dar uma resposta aos seus clientes e tentar melhorar o desgaste na imagem.
A TIM, por exemplo, começou enviando mensagens SMS aos seus clientes, ainda no dia 19, quando o órgão regulador oficializou as restrições. “Informamos que continuamos investindo para garantir a qualidade dos serviços e sua satisfação”. A operadora também lançou o filme publicitário “Mensagem da TIM aos brasileiros”, criado pela WMcCann e com veiculação nacional, em que Manoel Horácio, presidente do conselho da operadora, afirma que  “ciente da oportunidade de continuar o processo de melhorias, a TIM assume o compromisso de readequar seu plano de investimentos, que totalizará R$ 9,5 bilhões até 2014”. A estratégia incluiu também anúncios explicativos nas oito praças onde a TIM pode operar. Nesses estados, as campanhas de seus planos continuam normalmente. A restrição fez o presidente da Telecom Itália, Franco Bernabè, se deslocar ao Brasil para se reunir com o governo e apresentar o plano. Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, disse após o encontro que o plano está bem delineado, “com começo, meio e fim”, e se mostrou otimista.
Para evitar dúvidas de potenciais clientes, a Oi também adotou o posicionamento de se comunicar com os consumidores em estados não atingidos pela decisão da Anatel. A operadora lançou filmes e anúncios, criados pela NBS. As peças continham a mensagem: “A Oi não está bloqueada aqui”, complementada por “compre e ative hoje mesmo o seu Oi chip em uma de nossas lojas”. Como a reunião na última semana,  empresa e governo não chegaram a acordo, um novo encontro acontecerá no início desta semana, quando a Oi deve apresentar um plano detalhado.
Enquanto isso, a Claro, proibida em São Paulo, Santa Catarina e Sergipe, colocou no ar um filme sob o título “Compromisso de ser uma operadora melhor”, criado pela Ogilvy. Com Fernanda Lima, o comercial informa que a operadora está investindo mais de R$ 3,5 bilhões em estrutura e atendimento, melhorando a qualidade nos dez mil pontos de venda e trabalhando para oferecer a melhor velocidade de internet. No Facebook, a marca esclarece que nos demais estados “nada muda: a Claro continua ativando novas linhas e operando sem interrupções”. A Claro apresentou um plano de ação final à Anatel, já com a alterações solicitadas pelo órgão. “Entre as mudanças enviadas estão novas projeções de tráfego e ações para melhoria do desempenho da operadora”, informa em comunicado. A operadora também “se comprometeu a garantir a qualidade na rede de transmissão e a oferecer a capacidade necessária para atender a demanda durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil”, continua a nota.
Repercussão
Os posicionamentos de TIM e Claro, publicados também nas páginas das marcas no Facebook, encontraram “fãs” desconfiados e nervosos com a falta de resolução para os seus problemas. “Cansei desse papo”, disse uma consumidora sobre a Claro, ao passo que outra escreveu. “Engraçado, faz cinco dias que não consigo fazer ligações, isso porque eu mudei de plano. Não é à toa que a Claro está proibida de vender novos produtos, mas nada que a Anatel não resolva!”. Na página da TIM, o sentimento é semelhante, com posts como, “Não queremos papo bonito, queremos melhorias” e “Preço baixo a TIM tem, qualidade não tem nenhuma”.

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