sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A internet salvará os jornais?

Os dois aspectos da educação superior que descrevi em minha coluna esta semana – a missão do professor Sebastian Thrun, de Stanford, de uma universidade virtual e a devoção de John Hennessy, presidente da mesma universidade, a um campus de carne e osso – intrigaram-me devido a um contexto mais amplo. Boa parte do debate sobre o impacto da nova tecnologia tende a ser radical. Os utópicos contra os céticos, os idealistas contra os realistas, aqueles que se jogam de cara no fundo do poço do que é novo e aqueles que apreciam o que é familiar em seu tempo.

 
Para os defensores do novo, os que hesitam são luditas [referência a Ned Ludd, que, no início do século 19, liderou um grupo de trabalhadores britânicos que pretendiam destruir as máquinas em defesa de seus empregos] teimosos e reacionários e seu destino é ficar a reboque da marcha da civilização. (Falo por experiência própria. A resposta que recebi a recentes colunas que escrevi em que sugeria que as mídias sociais, somadas às notícias, têm seus lados negativos, ensinou-me que, sejam quais forem as limitações que o Twitter tem enquanto meio para discussões, é um excelente veículo para insultos.) Para aqueles que não optaram por transferir suas vidas sociais para o Facebook ou o Google+, ou para os que acreditam que talvez o conteúdo não queira necessariamente ser livre, os obcecados do mundo digital podem, às vezes, parecer um culto de cricris.
 
O que não mata, revigora
 
O que me surpreendeu sobre as visões opostas de educação superior não foi tanto a rigidez das opções, mas uma espécie de sinergia tensa entre o velho e o novo. À medida que o acesso digital se dissemina e tecnologias como a telepresença e a realidade virtual se aperfeiçoam, a web irá oferecer uma educação cada vez melhor a audiências mais amplas e por preços cada vez mais baixos. A educação, nas palavras de Tom Friedman, será mais nivelada. Mas ainda existirão nichos de excelência, campi reais oferecendo contato humano real.
 
Não surpreende que John Hennessy enfatize as virtudes do não-virtual, em especial para graduandos e particularmente nas artes liberais. A proximidade tem vantagens concretas no refinamento dos talentos do raciocínio e da expressão e nada se compara à experiência de coexistir com pessoas de formações distintas. Sebastian Thrun reconhece que um campus para residentes é “uma experiência fantástica”.
 
“Muitas pessoas ali encontram o parceiros de suas vidas”, acrescentou. “Você se mistura a pessoas que foram pré-selecionadas para ser bem-sucedidas.” E a extraordinária aliança que a Universidade Stanford criou com a cidade de Palo Alto provou que, às vezes, a localização pode produzir uma criatividade explosiva. A tecnologia certamente irá superar algumas das dispendiosas infraestruturas necessárias a um diploma numa faculdade de primeira linha, mas nem de longe irá substituir aquela experiência.
 
Você pode se sentir mais atraído pela missão de Sebastian Thrun – interromper o status quo – de libertar a educação para as massas ou você pode sentir mais simpatia pela posição de Joh Hennessy – não tão rápido – de defender um sistema universitário que produziu gerações de eminentes acadêmicos. Mas é inteiramente plausível achar os dois indispensáveis. Acho que o mesmo pode ser dito sobre muitas indústrias – inclusive aquela em que trabalho. O que não mata, revigora.
 
Por Bill Keller, artigo publicado no Observatório da Imprensa
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