Marca se uniu ao Grameen Bank para atuar na redução da pobreza e desnutrição em Bangladesh
A evolução de uma atitude de marca varia em função da sua conexão ao negócio e da apropriação de uma ou mais causas que façam sentido tanto para a empresa como para os públicos envolvidos. Normalmente, uma companhia inicia sua incursão no tema a partir de ações eventuais e esporádicas. Depois, estas iniciativas passam a ocorrer de maneira contínua, criando as bases para o estágio seguinte, no qual este agir é organizado sob plataformas de atuação bem definidas. O salto definitivo para um modelo “ideal” dá-se no momento em que as atitudes da marca integram-se de modo efetivo ao modelo de negócio da corporação.
Para isso, existem diferentes estratégias. Uma delas é idealizar um novo negócio capaz de traduzir o anseio da empresa diante de uma determinada causa. Neste sentido, a multinacional de alimentos Danone criou, juntamente com o Grameen Bank (reconhecido em todo o mundo por seu fundador, Muhammad Yunus), uma joint-venture intitulada Grameen Danone Foods. Sob a premissa de reduzir a pobreza por meio do fornecimento de alimentos a crianças socialmente vulneráveis, o empreendimento combina a técnica da Danone e o conhecimento comunitário do banco de microfinanciamentos.
Não se trata, todavia, de uma empresa que marginaliza o lucro. Porém, ressignifica o seu papel. Ao fundar-se sobre pilares de responsabilidade socioambiental, o negócio destina sua geração de caixa para novos investimentos no próprio escopo do projeto. Entretanto, seu sucesso é medido a partir da sua capacidade de criar empregos diretos e indiretos, melhorar indicadores de saúde infantil, conservar áreas ambientais, entre outros indicadores.
Há cinco anos, quando a joint-venture foi lançada, o propósito tangibilizou-se em produto: o Shoktidoi, iogurte que complementava as necessidades nutricionais das crianças e jovens de Bangladesh a um preço considerado acessível para a sua população. Desta maneira, a organização cumpria o seu propósito, agia sobre uma causa relevante e, ao mesmo tempo, gerava recursos para sua sustentabilidade como negócio.
Sob o ponto de vista estrutural, o empreendimento foi concebido com a finalidade de empregar e privilegiar a comunidade local. Na planta industrial de Bogra, em Bangladesh, o uso de máquinas foi planejado de maneira a permitir que pelo menos cinquenta pessoas fossem empregadas em período integral ao longo de quatro anos. Além disso, as matérias-primas vêm de pequenos produtores agrícolas da região, que recebem apoio do banco para financiar sua produção e são capacitados pela Danone quanto à melhoria da qualidade dos seus produtos. A distribuição, por sua vez, é realizada por um sistema porta a porta liderado por mulheres. Graças a ele, mais de 1,6 mil pessoas têm sua renda incrementada em um raio de 30 km em torno da fábrica.
Sob o aspecto ambiental, a operação faz uso de fontes renováveis de energia e estruturas de reaproveitamento de águas fluviais. Já as embalagens do iogurte Shoktidoi são compostas por um material totalmente biodegradável derivado do amido de milho.

Para que uma empresa tenha consistência em suas atitudes, realizar parcerias junto a especialistas é fundamental. Para a Danone, esta foi uma maneira de reforçar seu compromisso socioambiental e entrar de modo sustentável em Bangladesh, país em que não conseguiria operar sem o conhecimento do Grameen Bank, mesmo tendo 45% de suas atividades baseadas em nações em desenvolvimento. Desta forma, além de endereçar um propósito socialmente relevante, a Danone protagonizou uma inovação no conceito de modelo de negócio.
Esta atitude caracteriza-se como uma ação efetiva sobre algo realmente importante. Em Bangladesh, 40% da população é pobre e a renda anual não chega a US$ 500. Por seus altos índices de má-nutrição materna e infantil, o tipo de negócio idealizado não poderia ser mais assertivo. Mais do que simples comunicação ou uma efêmera iniciativa de colaboração, o empreendimento representa um compromisso genuíno e, sobretudo, financeiramente viável.
Desta maneira, a partir da combinação de inteligência e experiência, é possível para uma marca avançar em suas causas, ampliar a conexão de suas atitudes ao negócio e inovar para garantir sua perenidade, sem perder a capacidade de dialogar nas mais diferentes regiões, de modo a conciliar, sem discursos vazios, os âmbitos global e local. Atitudes como essa comunicam com um impacto imensurável, pois contribuem para um engajamento mais amplo, que suplanta a visão reducionista do público-alvo e passa a considerar e envolver afetivamente e de maneira sólida um círculo mais amplo de pessoas, as quais passam a confiar e perceber um crescente valor na marca. Um ciclo virtuoso para todos.
*Por Rodolfo Araújo. Esta reportagem foi publicada originalmente no portal Com:Atitude, da Edelman Significa, e agora no Mundo do Marketing de acordo com parceria que os dois portais mantêm.
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