segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Opção por sossego no interior também inclui renúncias



A maior qualidade de vida e o custo do metro quadrado mais baixo atraíram, nos últimos anos, paulistanos para cidades médias do interior. Com a valorização ainda presente na capital, este movimento se intensifica, mas a opção pelos ares bucólicos das terras paulistas exige algumas concessões dos consumidores.


O profissional do mercado financeiro José Munhoz, de 38 ano, vive há 11 meses em uma casa de um loteamento em Itu, a 100 quilômetros de São Paulo. Todos os dias, ele deixa a cidade às 6h15 e perde mais três horas para ir ao banco em que trabalha, na zona sul da capital, e voltar de lá. “A pessoa não pode se incomodar em dirigir”, diz.
Esta é a segunda vez que ele vive fora da metrópole. Acompanhado da mulher e de suas duas filhas, Munhoz passara dois anos em Itu antes de voltar à capital, em 2010. “Mas estávamos contaminados pelo interior. E olhe que morávamos em um bairro excelente em São Paulo.”
Segundo ele, os gastos com educação e lazer são bem menores do que os da capital, ainda que Itu não ofereça a mesma gama de serviços. “Morar aqui sairia mais barato mesmo que eu pagasse um motorista para me levar ao trabalho e me trazer.” Munhoz não acredita, porém, que a vida no interior agrade a pessoas muito ligadas à vida noturna e de lazer da metrópole.
O advogado Sérgio Engelberg, de 28 anos, vive na estrada entre o município e a capital, onde aproveita oportunidades profissionais. Quatro dias da semana, ele passa na casa dos pais; os outros três, no apartamento da irmã, no bairro de Higienópolis.
“Quando puder me estabelecer, tenho interesse em manter uma base no interior. Lá tudo é muito mais barato, desde o aluguel até restaurantes. E há cidades maiores próximas, como Campinas, que podem oferecer opções de lazer específicas”, diz

.
No caminho. Engelberg quer se estabelecer em Itu, mas aproveita oportunidades na capital

Municípios a até 60 minutos da capital oferecem loteamentos propícios à construção de casas e recheados de serviços. É o caso de cidades como São Roque, Itatiba, Montemor e Itu.
“O comprador, a princípio, acha que adquiriu uma casa como segunda moradia. Depois, vê que, por um preço menor, faz um imóvel bem melhor do que tem, começa a reunir os amigos nos fins de semana e acaba se mudando”, diz o presidente do Grupo Senpar, Cesar Federmann.
A empresa tem, atualmente, empreendimentos de alto e médio padrões em Itu. O Terras de São Jose II, por exemplo, oferece lotes de 2,5 mil metros quadrados por cerca de R$ 600 mil. O Parque Chapada de Itu, voltado à classe B, tem lotes de mil m² por cerca de R$ 250 mil. “Ele é procurado por profissionais liberais, filhos de pessoas que moram no Terras de São José e industriais com empresas novas.”
Para a diretora geral de vendas da Coelho Fonseca, Fátima Henriques Rodrigues, o público mais característico dos loteamentos é de casais com idades entre 35 e 45 anos, com filhos pequenos ou adolescentes. “Não temos muita procura por solteiros nos nossos empreendimentos”, diz.
A empresa comercializa em Itatiba lotes de, pelo menos, 1.250 m² e valores partindo dos R$ 500 mil na Fazenda Dona Carolina. O loteamento possui um hotel e permite aos proprietários de imóveis a contratação de serviços adicionais.
De acordo com o vice-presidente de Habitação Econômica do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Flávio Prando, chefes de família sacrificam suas rotinas para permitir condições saudáveis de residência para seus familiares. “Isso funciona bem para quem trabalha em áreas mais periféricas da capital, mas não dá certo se tem de atravessar a cidade.”
Na área urbana de cidades próximas a São Paulo, há ofertas com bons preços. Em Suzano, uma unidade custa 20% menos do que outra similar na capital, segundo o diretor da Construtora Bracco, Attilio Bracco Filho.
“Atualmente, é praticamente inviável achar um terreno de 17 mil por m² na capital, em um bom bairro, como é o caso do condomínio horizontal Vida Verde.” Um quinto dos compradores de unidades no empreendimento vem da capital, especialmente da zona leste.
Morador da Praia Grande e com atividades profissionais na capital, o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto, vê a opção de mudar de cidade viável para quem tem renda para suportar custos de deslocamento ou é subsidiado pela companhia em que trabalha. “Essa vida funciona para quem não tem obrigação de horário. Se a pessoa for empregada, pode acordar mais cedo e pegar fretado.”
Paulistana, a gerente de recursos humanos Mariane Carnevalle, de 31 anos, escolheu, há cinco anos, Jundiaí para comprar um apartamento de três dormitórios – outro do mesmo padrão custaria até 50% mais na capital, segundo ela. “Mas o importante foi a qualidade de vida”, diz. Mesmo assim, Mariane não abre mão de facilidades da capital. No último mês de gravidez do primeiro filho, ela pretende ter o bebê na cidade onde nasceu. “Em São Paulo há qualidade de serviço que não dá para comparar.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário