quarta-feira, 27 de junho de 2012

Consumo no Brasil cresceu e se sofisticou, mas continua desigual

5º Congresso Brasileiro de Pesquisa debate novos paradigmas


As profundas transformações que o mercado de consumo brasileiro está passando estão entre os principais destaques do 5º Congresso Brasileiro de Pesquisa, que termina nesta quarta-feira (27), em São Paulo. Especialistas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) confirmaram com dados as mudanças do consumo interno e ainda as desigualdades regionais.
A crise mundial também esteve no centro das discussões, no primeiro dia de palestras, na terça-feira (26). Paulo Pinheiro Andrade, presidente da Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), realizadora do encontro, fez a abertura ao lado do convidado especial, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Em discurso, o ministro se propôs a fazer uma reflexão sobre o que está acontecendo no cenário internacional e os reflexos no mercado brasileiro. “Nós estamos atravessando um período da economia internacional de grandes turbulências e incertezas. Essa é uma crise de longa duração, que mistura política e economia", disse.
Pimentel falou que o mundo vive uma mudança de paradigmas no padrão industrial sem precedentes. “Henry Ford, assim como outros capitalistas e países, ficaram ricos criando, desenvolvendo e produzindo os seus produtos. Isso acabou e essa não é uma mudança trivial. A maioria dos países não está preparada para isso”, reforçou.
O ministro disse que a bola está com os países emergentes, do Brics, que estão caminhando para se tornarem nações líderes. “Hoje o mundo olha os países emergentes como mercados dinâmicos. Ninguém poderia imaginar isso há 20 anos. Ninguém olhava para a África”. Pimentel destacou as “enormes vantagens do Brasil no processo”. O ministro lembrou da inserção recente de 40 milhões de novos consumidores no mercado brasileiro, com a ascensão das classes sociais. "É como se tivéssemos incorporado uma Argentina inteira. Esso é uma mudança profunda nos padrões de consumo, aliada às novas noções de sustentabilidade, que não existiam há 20 anos".
Segundo o ministro, para se tornarem nações líderes, é preciso ter uma grande população, recursos naturais e soberania sobre eles, além de tecnologia. “Nós temos tudo isso, só estamos devendo um pouco em avanços tecnológicos. Com mais acertos do que erros nos últimos anos, tenho certeza de que estamos no caminho de ser um dos países líderes do século 21”, destacou o ministro. Para Pimentel, outra mudança radical será a troca do padrão monetário mundial, com o fim da hegemonia do dólar. “Vou arriscar fazer uma predição. O dólar não chega a 2050 como a moeda de troca internacional”.
Marcas
A palestra a seguir foi de Luciano Deos, ceo da Gad’, que tem cinco empresas associadas ligadas à área de design e comunicação, que falou sobre “O papel das marcas nas estratégias de negócios”. Segundo Deos, nesse cenário de transformações do consumo e de mudança empresarial, o papel das marcas ganha cada vez mais relevância dentro da perspectiva de criação de valor para os negócios das empresas. Ele falou também sobre a corrida do empresariado brasileiro para não perder a janela de oportunidade que o Brasil está tendo. “Todo empresário brasileiro com quem converso quer vender, crescer rápido até 2016. Ninguém quer perder essa janela de oportunidade que o Brasil está tendo”, afirmou o ceo da Gad’.
Desigualdade
Uma das constatações é que além da expansão, o consumo brasileiro está mais sofisticado. Outro dado destacado é que, apesar da expansão do consumo, a profunda desigualdade regional nos padrões de consumo persiste. “Esse mapa é reflexo da distribuição das riquezas no país, que ainda é muito desigual”, apontou Jefferson Mariano, tecnologista do IBGE.
Contextualizando o cenário da desigualdade brasileiro, Miguel Matteo, diretor adjunto do Ipea, disse que a desigualdade diminuiu um “poquinho”. “Digo que é pouquinho porque é mesmo. Muita gente não ganhava nenhum dinheiro e passou a ganhar um pouco”, falou ele. Matteo falou que o padrão de desenvolvimento do país melhorou com o aumento do salário mínimo, mas ainda assim é um país desigual entre as regiões e pessoas. Ele citou que o Norte e Nordeste ainda têm um padrão muito distante da média brasileira, enquanto que o PIB do Sudeste é 40% maior do que a média nacional.
“O Brasil continua sendo um dos campões de desigualdade, porém o país está mudando para um mercado maior e efetivamente de massa. O desafio é compatibilizar o crescimento do consumo familiar com investimentos e criar políticas públicas ativas para as diversas regiões, que ainda são muito desiguais”, ressaltou Matteo.

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