Volkswagen Gol
Acostumada a vender bem sua produção, a Volkswagen servia o arroz com feijão em matéria automotiva. Vendia, e ainda vende, sacas e sacas de Gol todo mês. Mas os tempos mudaram: concorrentes que dominam as técnicas hidropônicas e sem agrotóxicos ameaçam tomar um espaço que já foi desta alemã. Que já foi, inclusive, bem maior do que é hoje. Timidamente, ela começou a oferecer um Gol enriquecido com vitaminas e sais minerais. Isso até supre melhor as necessidades diárias dos motoristas brasileiros, tradicionalmente desnutridos, mas ainda falta substância. E não apenas isso.

Volkswagen gol

É quase arroz com feijão: sustenta bem

Falta um bocado de mistura neste prato

A Volkswagen precisa colocar mais adubo nesse cara
O Gol tem boa ergonomia, acabamento bem cuidado e é econômico, mas só resolveu oferecer travas e vidros elétricos dianteiros em um momento em que seus concorrentes incorporam ar-condicionado, direção hidráulica, ABS e air bags dianteiros. Como o agricultor que jogou as sementes de milho em um solo arado há muito tempo, já endurecido e sem os sulcos onde as sementes gostam de se esconder. O risco de os passarinhos comerem tudo é alto. Ou então de o milharal ficar meio esparso, com espigas só aqui e ali.
A vantagem do cultivo alemão sobre o japonês é que o banco do motorista do Gol tem regulagem de altura. E a posição de dirigir do Volks já é bem baixa e esportiva, o que agrada quem realmente gosta de dirigir. Fora isso, o carro alemão atrai muitos olhares de aprovação: difícil achar quem o considere passado. A reclamação será sempre porque falta alguma coisa. Até você conhecer o carro um pouco mais a fundo.
VW Gol
A boa ergonomia é afetada pelos comandos dos vidros traseiros no painel em vez de na porta. O motor, antigo e áspero, apesar das melhorias do TEC, faz um bocado de barulho. O espaço atrás, ainda que seja um dos melhores que o Gol já ofereceu, é pequeno comparado ao de seus concorrentes.
No final das contas, as boas colheitas da Volkswagen ainda se devem à mesma razão pela qual o Etios vai vender: confiança no produtor. A partir do momento em que os concorrentes mais recentes tiverem a mesma reputação de confiabilidade mecânica e de ter peças baratas, ou o mesmo número de revendas, a coisa deve mudar. A ameaça de geada já bateu mais de uma vez na janela da marca alemã. Ou ela protege rápido sua plantação ou vai perder muita safra.


Chevrolet Onix
Você já deve ter comprado uma alface bonita e só depois ter percebido que o miolo estava passado. Ou um saco de belas laranjas em meio às quais há três ou quatro mofadas. Os produtos da GM estavam todos desse jeito há menos de um ano. Mas a coisa mudou graças à chegada da GSV, sigla de Global Small Vehicle. Chame-a de plataforma, de nova técnica de cultivo ou de qualquer coisa parecida. O caso é que ela fez maravilhas pela lavoura desta produtora americana. E o melhor exemplo disso não é Sonic, Spin ou Cobalt. É o Onix.

Chevrolet onix

Deu um grão bonito e bom, tipo exportação

Integral, ele acabou ficando pesado

A cotação da arroba da GM vai aumentar
De todos, ele é o modelo que deve se sobressair no mercado. Não só por contar com motor pequeno e do consequente preço mais baixo, mas também porque já vem muito completo desde sua versão básica, a LS, que custa os mesmos R$ 29.990 do Etios. Por este valor ele também tem air bags dianteiros, mas vem com direção hidráulica, ABS com EBD, desembaçador e limpador do vidro traseiro e banco e volante com regulagem de altura. Podia ser só arroz, feijão e bife (ou ovo frito), ou seja, a boia completa, mas o carro vai além disso.
Ele freia bem, tem pedal bom de modular, uma suspensão digna de nota, ótimo espaço interno, um porta-malas que não deve ao de quase ninguém e ficou bonito e moderno. Quem quiser pagar R$ 34.990 leva a mais trava e vidro dianteiro elétricos, alarme (que trava as portas automaticamente), chave canivete, ar-condicionado e o excelente MyLink, que a gente já explicou lá atrás. É um excelente negócio pelo que custa, o suficiente para arriscarmos mais uma previsão: o Onix vai se impor ao Agile, especialmente na versão LTZ, com motor 1.4. É muito mais carro.
Chevrolet Onix
Se ele se saiu melhor do que a encomenda, o Onix só não ganha esse comparativo devido ao motor SPE/4. Os ventos de renovação da marca infelizmente não bateram no departamento de Paulo Riedel, diretor de powertrain, e o cara teve de se virar com o que já tinha. O trabalho foi bem feito, mas não o suficiente para compensar o pouco torque em rotação alta nem a gordura do Onix (74 kg mais pesado que um Etios). Ele merece um motor mais moderno. E mais aço de alta resistência, para emagrecer. Enquanto isso não acontece, a granjeira coreana vai continuar a se dar bem nos comparativos.


Hyundai HB20
Ela chegou há relativamente pouco tempo no Brasil, mas ter cativado clientela pela qualidade e estilo de seus produtos é coisa recente. Aí resolveu se mudar de mala e cuia para Piracicaba. Decidiu abrir uma granja no País e produzir aqui o que fazia na Coreia. Aliás, foi melhor: a Hyundai adaptou suas sementes ao solo brasileiro. A primeira safra que colheu ganhou um nome que é quase um código, HB20, e já atraiu muita gente. Produto orgânico, vendido a R$ 31.995, com vidros verdes. Uma pechincha até a chegada do Onix. Agora, ficou caro. Pior: está devendo algumas vitaminas.
O complexo ABS, por exemplo, só está disponível a partir da versão Comfort Style, que custa R$ 37.995. No Onix, vem de série, por R$ 29.990, o que também inclui limpador e desembaçador traseiro. A R$ 34.990, o Chevrolet traz MyLink (com tela touchscreen de sete polegadas que, em breve, incluirá navegador) e ar-condicionado como opcionais da LT.
Hyundai HB20

Hyundai hb20

O estilo orgânico e o interior bem cultivado

O preço que essa safra cobra deixou de ser tão atraente

Deve parar na mesa (e na garagem) de muita gente
A vitória do HB20 se justifica pelo desenho orgânico do carro e interior de mini-i30. Detalhes que mostram que o carro foi cultivado com cuidado e atenção. Seu motor 1.0 de três cilindros, o único todo de alumínio, com quatro válvulas por cilindro, é o mais moderno da turma e tem um ronco delicioso de ouvir. Também parece atender bem ao peso e à proposta do modelo, ainda que, aqui, a Hyundai tenha adotado técnicas norte-coreanas de informação: sua ficha não traz peso, bitolas ou diâmetro mínimo de giro (daí os n/d da ficha técnica). Preocupado com a saúde da molecada, ele traz Isofix e nada de doces (para evitar a obesidade infantil). O espaço também é muito bom. Por fim, a direção se mostrou saborosa no breve contato que a gente teve com ele, na pista. Falta colocá-lo na vida real para ver como ele se sai.
Se você acha que isso é empecilho para o carro vender, esqueça. Mais de 60 mil pessoas se candidataram a tê-lo antes mesmo de conhecer um de perto. Só de ver na TV, como o cachorro que baba olhando o frango que gira no espeto da padaria. Ou de ler o que a gente escreveu sobre o HB20. O problema da granjeira coreana é que não vai ter HB20 para todo mundo, no começo. Isso vai gerar abusos, como ágio. E que a fazendeira americana distribuirá seus ovos Onix em muitos mais pontos de venda. A Hyundai pode até alegar que não liga para isso. Não ainda.
Tabela Onix x Etios x Gol x HB20
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