terça-feira, 11 de setembro de 2012

A complicada relação da rede social com a mídia



O Twitter fez parcerias recentemente com grandes emissoras americanas de TV, como a NBC, mas, ainda assim, sua relação com a mídia passou a ser reavaliada à medida que continua ampliando o controle sobre seu conteúdo. Embora seja uma rede social de importância maior apenas há poucos anos, o Twitter desenvolveu uma relação com a mídia surpreendentemente estreita e simbiótica, tanto por ser um tipo de veículo de informação em tempo real – utilizado na cobertura de eventos como a “primavera árabe” ou a próxima eleição nos EUA –, quanto por proporcionar aos jornalistas uma maneira fácil de expandir suas marcas pessoais para a web.

 
Um recente post de Zach Dyer no Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas, resume bem a questão pela qual alguns jornalistas e executivos de mídia poderiam se sentir pouco à vontade sobre sua relação com o Twitter e como chegaram a ganhar confiança na rede. Entre outras coisas, o post menciona as restrições recentemente anunciadas pela empresa em sua interface de programação de aplicativo (API) que afetam, principalmente, desenvolvedores terceirizados e aplicativos – mas também podem acabar penalizando jornais e outros veículos de mídia que tenham construído suas características, ou serviços pelo Twitter, usando a mesma API. “As recentes mudanças na API do Twitter levantaram algumas críticas sobre como os jornalistas irão usar a plataforma da popular rede social para cobrirem notícias no futuro. Além disso, o Twitter vem adotando medidas de censura progressivas que podem ameaçar sua credibilidade como fonte de informação”, comentou Dyer.
 
A mídia receberá o mesmo tratamento?
Essas mudanças impedem que jornalistas agreguem vários tuítes, combinando-os com conteúdo fora do Twitter, e requerem que todos os aplicativos que estejam relacionados com o Twitter sejam certificados pela rede social antes de serem lançados. Alfred Hermida, que trabalhou na BBC e é professor da Universidade de British Columbia, no Canadá, destacou que essas regras também poderão atingir jornais e outros veículos que trabalham seu conteúdo a partir do Twitter e de outras fontes, como fez o New York Times na convenção republicana e em outros eventos, ou então usam ferramentas como o ScribbleLive e Storify para fazê-lo.
 
Até o momento, o Twitter diz que o Storify não foi afetado por repercussões em função das mudanças – apesar de o serviço, aparentemente, oferecer recursos que são desaprovados pelo Twitter. Porém, considerando a maneira pela qual a empresa mudou recentemente seu modus operandi, suspendendo serviços externos, como o Tumblr e o Instagram, e removendo links de referência, é difícil prever até quando um serviço como o Storify estará a salvo. Caso um jornal, ou outro veículo de mídia, o tenha tornado uma peça-chave do processo jornalístico, pode se preparar para o pior.
 
Decisão competitiva
De certa maneira, as empresas de mídia vêm sentindo o mesmo tipo de angústia que muitos desenvolvedores e startups sentem à medida que o Twitter evolui, passando de um utilitário de informação em tempo real para uma entidade de mídia regida pela necessidade de receita publicitária para justificar sua avaliação no mercado. Assim como serviços terceirizados construíram seus negócios a partir da API do Twitter – por ser gratuita –, jornais e outros veículos da mídia confiaram na rede pelo mesmo motivo – e podem acabar lamentando o que fizeram justamente por esse motivo.
O Twitter parece satisfeito em ter relações com alguns tipos de mídia específicos, em sua maioria redes de televisão como a NBC – com a qual trabalhou muito próximo durante os recentes Jogos Olímpicos – e a MTV, que irá utilizar o Twitter de várias maneiras durante seu grande evento, o Video Music Awards, no final deste mês. Embora muitos usuários parecessem irritados com a tática da NBC de adiar os resultados durante as Olimpíadas, a diretora da equipe de mídia do Twitter, Chloe Sladden, disse ao New York Timesque a rede via a parceria como um enorme sucesso porque funcionou como “um trailer diurno extraordinário, chamando as pessoas para o horário nobre”.
 
Parceria com alguns, concorrência com outros
Veículos proeminentes, como o New York Times ou o Washington Post, têm acesso aos “tuítes aumentados” [expanded tweets] ou aos “cartões Twitter”, recém-lançados e que são a base para grande parte de seus planos de expansão. Isso permite que mais do conteúdo de um tuíte seja mostrado no site da empresa ou em seus aplicativos móveis. Isso, entretanto, parece ser mais uma decisão competitiva do Twitter do que uma forma de ajudar as empresas de mídia, uma vez que é a própria rede social que se beneficia do conteúdo.
 
Confiar pode ser imprudente
Por enquanto, alguns veículos de mídia estão preocupados em compreender até onde vai o desejo do Twitter em fazer parcerias com emissoras como a NBC e a MTV, uma vez que a empresa foi bastante criticada por ter suspendido a conta de um jornalista britânico Guy Adams, depois que ele tuitou comentários negativos sobre a cobertura da rede de TV americana NBC nos Jogos Olímpicos e divulgou o endereço de email de um executivo da rede. Muitos consideraram o incidente uma quebra de confiança e um sinal de que o Twitter pode e irá controlar, e até censurar, o conteúdo em sua rede.
 
Assim, os veículos de mídia ficam com um dilema: o Twitter é extremamente útil de inúmeras maneiras e tornou-se parte fundamental de grande parte da cobertura política e social; mas, ao mesmo tempo, confiar num serviço patenteado e cada vez mais competitivo para uma parte essencial de seu negócio pode ser imprudente – seja ele o Twitter ou o Facebook – e mais cedo ou mais tarde as empresas de mídia vão ter que enfrentar essa realidade e descobrir a melhor maneira de lidar com ela. Informações de Mathew Ingram [GigaOm, 28/8/12].
 

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